Projeto vai alcançar 24 territórios e 3 estados amazônicos

Crédito: João Cunha -Imagem postada em: Instituto Mamirauá

Projeto visa promover o desenvolvimento sustentável, a conservação da biodiversidade e melhorar a qualidade de vida de comunidades na Amazônia, unindo ciência e saberes populares. Edição do seminário no Pará acontecerá nos dias 8 e 9 de abril, em Marapanim. 

Nos dias 1º e 2 de abril de 2025, o Instituto Mamirauá, em Tefé, Amazonas, sediou o seminário de lançamento do projeto Fortalecendo Processos de Manejo Participativo de Recursos Naturais para o Desenvolvimento Econômico Sustentável, a Conservação da Biodiversidade e a Manutenção de Estoques de Carbono em Áreas Alagáveis da Amazônia.

O evento reuniu representantes de comunidades locais, associações de moradores, organizações parceiras e autoridades para discutir as fases e o impacto do projeto, que será implementado em 24 territórios e três estados da Amazônia: Amazonas, Pará e Amapá.

O seminário marcou o início oficial do projeto, que visa melhorar as condições de vida de comunidades tradicionais, monitorar e conservar a biodiversidade e promover o desenvolvimento econômico sustentável na região amazônica.

A realização é fruto de uma colaboração entre diversas organizações e instituições comprometidas com a sustentabilidade da Amazônia. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá são os principais responsáveis pela execução e coordenação das ações.

Metas e impactos esperados

O projeto tem como principais objetivos: melhorar as condições de vida das comunidades tradicionais no Pará, Amazonas e Amapá; monitorar e conservar a biodiversidade; manter a floresta em pé, fundamental para a preservação do equilíbrio ambiental e promover o desenvolvimento econômico sustentável da região amazônica, por meio de práticas que aliem o uso responsável dos recursos naturais ao fortalecimento das economias locais. 

Tiago Rocha, gerente de projetos da FAO, abriu o seminário destacando a importância das parcerias para a realização do projeto: “Esse momento é uma grande alegria, de poder iniciar o projeto e ver que a sala está cheia de parceiros que têm construído essa proposta junto conosco. Agradeço ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e ao Instituto Mamirauá por nos provocarem a entrar nesse desafio”. Ele ainda ressaltou que o projeto incorpora os pilares da FAO, com foco em uma “melhor produção, melhor nutrição, melhor ambiente e melhor vida”.

A importância do engajamento das comunidades locais também foi pontuada por João Fernandes Cruz, tuxaua (liderança indígena) da Terra Indígena Jaquiri, localizada na região do Médio Solimões, Amazonas.

“Esse é o momento que a gente espera para interagir com os nossos conhecimentos e fazer coisas melhores juntos. Eu sou muito grato por estar aqui e acredito que, com as parcerias, podemos fortalecer nosso meio ambiente e nossa economia. O peixe e a árvore, como dizemos em nossa aldeia, nos dão mais vivos do que mortos”, afirmou.

Para Dávila Corrêa, diretora de Manejo e Desenvolvimento do Instituto Mamirauá, o seminário foi uma oportunidade de escuta e participação de todos, além de alinhar as ações para o primeiro ano do projeto.

“O seminário foi pensado como um espaço para a gente falar do projeto, como ele está construído, mas também a oportunidade de fazer a escuta ativa, com as comunidades e parceiros. E, também um momento de integração entre territórios, um intercâmbio entre povos e comunidades tradicionais”, destacou a diretora.

Dávila explicou que o planejamento será revisto anualmente, com o objetivo deconsolidar as ações de conservação e desenvolvimento sustentável nos territórios.

Soberania alimentar e protagonismo feminino

A fala de Bernadete de Araújo, moradora da comunidade da Missão e representante do Clube de Mães Santa Maria Margarida de Alacoque, trouxe uma reflexão importante sobre o papel das mulheres e a soberania alimentar no contexto do projeto. Ela destacou que as mulheres da comunidade priorizam a produção de alimentos orgânicos e sem agrotóxicos.

“Nós, mulheres da (comunidade da) Missão, escolhemos a melhor forma de produção, que é livre de agrotóxicos. A soberania alimentar é o reconhecimento do valor da comida no prato das pessoas e da sua família”, afirmou.

Bernadete acredita que o projeto ajudará a “melhorar a produção e a organização das associações”, permitindo que as mulheres fortaleçam sua capacidade de escolher como produzir, consumir e gerar renda de maneira sustentável. Para ela, a produção orgânica não está ligada ao capitalismo, mas sim à saúde e à qualidade de vida da comunidade.

Próximos passos e expectativas

O seminário no Amazonas também serviu para reforçar o compromisso de manter a consultoria contínua e garantir a inclusão das lideranças e das comunidades em todas as fases do projeto. De acordo com os organizadores, o sucesso do projeto dependerá da colaboração entre as comunidades locais, o poder público e as organizações envolvidas.

Nos próximos dias 8 e 9 de abril, no município de Marapanim, será realizada outra edição do seminário, abarcando os territórios e comunidades participantes do projeto nos estados do Pará e Amapá.

Dávila Corrêa explicou que o próximo passo será trabalhar no planejamento detalhado por território, com ações definidas para os anos de 2025 e 2026, e que o processo será revisitado anualmente, permitindo ajustes conforme a evolução das atividades no campo.

A implementação do projeto segue agora com o estabelecimento de comitês e instâncias de consulta para garantir que as comunidades possam tomar decisões de maneira participativa.

Caminhos para o futuro: o legado do projeto

O lançamento do projeto Fortalecendo Processos de Manejo Participativo de Recursos Naturais para o Desenvolvimento Econômico Sustentável, a Conservação da Biodiversidade e a Manutenção de Estoques de Carbono em Áreas Alagáveis da Amazônia, no Amazonas, é um marco para o fortalecimento das práticas de manejo sustentável e para a promoção de um futuro mais justo e equilibrado para as populações amazônicas.

Com a união de saberes tradicionais e ações inovadoras, a iniciativa visa não apenas preservar a biodiversidade, mas também garantir que as futuras gerações da Amazônia possam viver de maneira digna, com acesso a recursos naturais bem geridos e com uma economia que respeite o meio ambiente.

Com as palavras do tuxaua João Fernandes Cruz, “somente juntos, com força, podemos alcançar nossos objetivos e garantir que o meio ambiente e a economia da nossa região prosperem”.

Texto: João Cunha

FONTE: Iniciativa de manejo de recursos naturais é lançada no Amazonas. Projeto vai alcançar 24 territórios e 3 estados amazônicos – Instituto Mamirauá