Com mais de um século de contribuição na circulação de conhecimento científico na produção de boletins e livros, a instituição sesquicentenária reúne editores para refletir o seu papel, promove encontros e debates e apresenta novas publicações em programação comemorativa sobre Livro e o Direito dos Autores.

Agência Museu Goeldi – Quando um museu soma à sua função de guardião de acervos o papel de editor e publicador de ciência, ele transforma constantemente a informação em memória viva e coletiva. É nesse lugar de produção e circulação do saber que o Museu Paraense Emílio Goeldi se insere – com mais de um século de contribuição editorial para a ciência brasileira, especialmente sobre a Amazônia.

Neste dia 23 de abril, Dia Mundial do Livro e do Direito dos Autores, reunimos para um bate-papo rápido duas profissionais que estão à frente da edição de livros e do boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi – Iraneide Silva e Jimena Felipe Beltrão, respectivamente. Elas refletem sobre os caminhos percorridos e aprendizados obtidos. Em um país onde o incentivo à leitura e à divulgação científica ainda enfrenta obstáculos, publicar é insistir em dar acesso ao conhecimento. As editoras do Museu Goeldi pontuam o que é essencial nesse processo.

A arte da editoração científica  A participação do Museu Goeldi no campo editorial começa em 1894 com a publicação da primeira edição do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, criado por Emílio Goeldi sob o nome original de Boletim do Museu Paraense de História Natural e Ethnographia. Atualmente o Boletim é publicado três vezes ao ano em duas versões: Ciências Humanas e Ciências Naturais. O primeiro volume do Boletim foi o marco inicial de uma trajetória editorial que se estende até hoje com livros, coleções temáticas e outras publicações científicas.

Atuando na Editoração Científica há mais de três décadas, Iraneide Silva é editora executiva da Editora de Livros do Museu Goeldi. Ela testemunhou e participou de diversas fases dessa trajetória. “Quando iniciei, as publicações eram mais simples, quase todas em brochura e em preto e branco. Com o tempo, os investimentos permitiram a melhoria do padrão gráfico e editorial, o que nos colocou em paridade com grandes editoras científicas e acadêmicas do Brasil”, relembra.

A evolução vem sendo reconhecida há 26 anos em premiações importantes, como o Prêmio Jabuti, conquistado em 1999 com o livro Caxiuanã, e o Prêmio ABEU, com destaque para Peixes Teleósteos da Costa Norte do Brasil (2022) e Exposição em Botânica (2023), além de Menção Honrosa com o livro “A Expedição do Guaporé (1933-1935): cadernos de Campo, Publicações e acervo de Emil Heinrich Snethlage“.

Para Iraneide, o papel da editora do Museu vai muito além da publicação: é uma missão de tornar público o conhecimento produzido sobre a Amazônia, em diferentes formatos e linguagens. “Todas as nossas publicações são submetidas à avaliação por pares, e buscamos qualidade editorial e gráfica compatível com a excelência do conteúdo científico que produzimos”, afirma. Iraneide faz parte de uma equipe pequena e dedicada que inclui também a artista gráfica Andrea Pinheiro e a produtora editorial Ângela Botelho.

Com 135 anos de história, o Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi reflete o compromisso da instituição com a pluralidade e a ciência aberta (disponível sem custo para quem acessa). A editora científica do Boletim Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Jimena Felipe Beltrão, ressalta que a diversidade de autorias – seja étnica, de gênero ou geográfica – é um pilar fundamental da revista. “Resultado de políticas de inclusão e de valorização dos saberes tradicionais, pesquisas que compartilham conhecimento com as comunidades fazem parte da essência da publicação”, destaca.

Jimena ressalta que, além do rigor na avaliação por pares, o periódico busca ampliar a visibilidade de seus conteúdos por meio das redes sociais, textos jornalísticos e resumos em áudio e vídeo. A publicação também é gratuita para autores e leitores, graças ao apoio de agências como CNPq e Capes, e não cobra taxas de submissão ou publicação – um diferencial importante em tempos de expansão de revistas predatórias. “Sem gente, não se publica o que quer que seja”, reforça a jornalista ao lembrar da importância das equipes editoriais qualificadas para manter a integridade e a relevância da ciência brasileira. Além de Jimena, a equipe do Boletim conta permanentemente com o profissionalismo de Rafaele Lima, responsável pela normatização e revisão ortográfica, e Talita do Vale, responsável pela editoração e versão eletrônica do periódico.

O periódico do Museu Goeldi adota os princípios da Ciência Aberta, é publicada em quatro idiomas (português, espanhol, inglês e francês), e passou a reconhecer formalmente as editorias associadas que acompanham cada submissão – medidas que fortalecem a credibilidade da publicação no cenário internacional. Para Jimena, os desafios são muitos, mas as perspectivas são de continuidade com qualidade, mantendo o lugar histórico da revista entre as mais respeitadas da América Latina.

O Boletim. Ciências Naturais, cujo editor é Fernando Carvalho, possui, como principal missão, publicar trabalhos originais nas áreas de Biologia (Zoologia, Botânica, Biogeografia, Ecologia, Taxonomia, Anatomia, Biodiversidade, Vegetação, Conservação da Natureza) e Geologia. Juntamente com Fernando, participam da edição do Boletim Rafaele Lima, Talita do Vale, Luiz Ramiro Cardoso e Elaynia Ono.

No portal do Museu Goeldi, na aba Difusão Científica, você pode acessar a produção da instituição. Ali se encontram as plataformas online dos boletins (clique aqui para acessar o de Ciências Humanas e aqui o de Ciências Naturais), o Catálogo de Publicações (clique aqui), assim como uma aba específica de livros digitais (clique aqui).

Programação  Além do convite para conhecer a produção editorial do Museu Goeldi na WEB, a instituição também convida para confraternizar presencialmente, entre os dias 23 e 30 de abril, o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor. Sob o tema “Livros, Memória e Transformação: Diálogos sobre Literatura, Editoração e Conservação”, uma programação especial de encontros, debates, oficinas ocorrerão na Biblioteca Ferreira Penna, no Campus de Pesquisa, e no Parque Zoobotânico da instituição, sempre das 9h às 12h.

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A iniciativa, coordenada pela Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, localizada no Campus de Pesquisa da instituição, propõe uma reflexão sobre o papel do livro como agente de transformação cultural e social, com foco na Amazônia. A programação destaca a importância das editoras independentes na valorização de autores locais e compartilha conhecimentos sobre os desafios da conservação de acervos bibliográficos – além de dar visibilidade à produção científica do próprio Museu Goeldi.

Abrindo a agenda comemorativa, no dia 23 de abril, o público poderá participar de uma roda de conversa com o poeta e professor paraense João de Jesus Paes Loureiro, o editor Filipe Laredo e a conservadora Ethel Soares, além da equipe da Editora do Museu Goeldi, composta por Iraneide Silva, Angela Botelho e Andréa Pinheiro. A mediação será feita por Rodrigo Paiva, chefe do Serviço de Biblioteca do Museu.

Nos dias 24 e 25 de abril, também na biblioteca, será realizada a oficina “Uma introdução ao livro raro: curadoria, segurança e descrição de acervos”, com Berenice Bacelar (MPEG) e Elisangela Silva (UFPA), voltada a profissionais e estudantes da área.

Encerrando a programação, no dia 30 de abril, o Deck Cultural do Parque Zoobotânico será palco do lançamento de novos títulos da Editora do Museu Goeldi, com bate-papo entre autores e sessão de autógrafos. Um momento para celebrar o livro como encontro – entre ciência e cultura, entre passado e futuro.

Texto: Marcelo Dias / Edição: Joice Santos

SERVIÇO

Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor

📚 De 23 a 30 de abril – Confira a programação:
🗓 23/04 – Roda de Conversa: Diálogos sobre Literatura, Edição e Conservação
📍 Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna
⏰ 9h às 12h
🗓 24 e 25/04 – Oficina: Introdução ao livro raro – Curadoria, segurança e descrição de acervos
📍 Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna
⏰ 9h às 12h
🗓 30/04 –  Deck Cultural: Lançamento de livros & bate-papo com autores
📍 Parque Zoobotânico – Espaço Me Gusta
⏰ 9h às 12h

Museu Paraense Emílio Goeldi – Do boletim à ciência para todos – o legado editorial do Museu Goeldi — Museu Paraense Emílio Goeldi