A ariranha (Pteronura brasiliensis), a maior lontra do mundo e uma das mais ameaçadas de extinção, tem sido o foco de uma pesquisa na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Amanã, no Amazonas. O estudo, coordenado pelo Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, visa entender o estado de conservação, os padrões espaciais e temporais, e a saúde da população de ariranhas na região, além de avaliar a percepção das comunidades ribeirinhas sobre a espécie.
A ariranha, endêmica da América do Sul, sofreu uma drástica redução em sua distribuição geográfica ao longo das últimas décadas. A caça predatória, principalmente para o comércio de peles, e a perda de habitat foram os principais fatores que diminuíram a população dessa espécie e levaram à sua extinção em alguns locais.
Na RDS Amanã, dois anos após a criação da área protegida, a espécie, que havia sido extinta localmente, voltou a habitar a região. No entanto, interações negativas entre os moradores locais e as ariranhas ainda são motivo de preocupação, podendo levar a prejuízos econômicos para as comunidades e ameaças à espécie. Dessa forma, o projeto busca investigar não apenas a ecologia da espécie, mas também a relação com as comunidades humanas.
Comportamento e monitoramento
O projeto de monitoramento também utiliza armadilhas fotográficas para registrar o comportamento das ariranhas. Dentre outras cenas, as câmeras capturaram imagens dos animais espalhando urina e fezes com as patas em locais conhecidos como “latrinas”, um comportamento típico da espécie para marcar território e alertar outros grupos sobre sua presença (confira aqui o vídeo). As armadilhas fotográficas também permitem aos pesquisadores mapear a distribuição das ariranhas na reserva e entender como diferentes grupos interagem entre si e com o ambiente.
Sendo um animal topo de cadeia, a conservação das ariranhas na RDS Amanã não só beneficia a espécie, mas também contribui para o equilíbrio do ecossistema como um todo. Ao investigar seu estado de conservação e buscar formas de conciliar a coexistência entre as ariranhas e comunidades locais, o projeto representa um passo importante em direção à proteção da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável das comunidades humanas que compartilham o mesmo território.
Especialistas identificam áreas prioritárias de conservação para a ariranha, animal ameaçado de extinção
Publicação resume conhecimento atualizado sobre a maior espécie de lontra do mundo e destaca 22 áreas onde as ariranhas têm melhores possibilidades de sobrevivência
Especialistas de 12 países da América Latina publicaram juntos o resumo mais abrangente do conhecimento sobre a conservação da ariranha (Pteronura brasiliensis), incluindo a identificação das áreas ribeirinhas mais importantes que fornecem habitat para esse ícone aquático da Amazônia. Confira o relatório.
A publicação digital de 276 páginas conta com a participação de 40 autores de 12 países da América do Sul que compõem a distribuição dessa espécie ameaçada, e está disponível nos idiomas inglês, português e espanhol.
A ariranha, carnívoro social de grande porte, barulhento e vistoso que vive ao longo dos cursos de água da Amazônia, foi um alvo fácil durante o comércio de peles dos anos 1940-1970, sendo a sua pele considerada particularmente valiosa. Como resultado, foi quase completamente extinta na década de 1980. Ainda hoje, as populações em recuperação são consideradas em perigo de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Relatório é um esforço inédito em conservação de ariranhas
A publicação resume o conhecimento mais abrangente e atualizado sobre a biologia, ecologia, ameaças e conservação da ariranha em cada um dos 12 países da sua distribuição histórica.
No relatório, são detalhadas as áreas onde existe conhecimento especializado sobre ariranhas. Foram identificadas 22 Unidades de Conservação Prioritárias da Ariranha, que correspondem a 29% da área de distribuição da espécie, e que representam a melhor esperança para a conservação desse mamífero semiaquático no futuro. Os autores fazem também uma série de recomendações para futuras ações de conservação dessa espécie extremamente carismática.
“Esta é uma grande conquista para a comunidade mundial de ariranhas”, afirma Miriam Marmontel, bióloga e líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
No Instituto Mamirauá, a pesquisadora trabalha há décadas para a conservação da ariranha no Brasil, país que abriga quase 62% da distribuição histórica da espécie.
“Este relatório reflete o engajamento dos atores mais relevantes da região amazônica, que se reuniram para compilar conhecimentos previamente publicados e inéditos, e para apresentar ideias e compromissos para a conservação da ariranha. Também destaca o papel crucial que o Brasil deve desempenhar nos esforços de conservação desta espécie grande, endêmica, ameaçada e icônica.”, ressalta.
O cientista sênior de Conservação da Wildlife Conservation Society (WCS) na Bolívia e na região dos Andes-Amazônia-Orinoco, Rob Wallace, acrescenta que “esta publicação mostra os incríveis esforços de conservação de um grupo de especialistas que estão todos apaixonados por esse ícone das águas doces. A WCS e a Sociedade Zoológica de Frankfurt coorganizaram o workshop original e, de modo geral, essa tarefa gigantesca enfatiza a disposição de um grupo mais amplo de unir forças e trabalhar em conjunto para destacar ainda mais a situação das lontras e estabelece uma série de prioridades geográficas e ações imediatas de conservação para o benefício dessa espécie globalmente ameaçada e dos habitats aquáticos que ela chama de lar”.
Usando a metodologia Range Wide Priority Setting, originalmente desenvolvida pela WCS há um quarto de século para avaliar o status de conservação da onça-pintada, o grupo de especialistas atualizou a área histórica da espécie (9.021.590 km²), modelou uma área histórica aquática ajustada e mais conservadora de 2,813.539 km², sistematizou 5.593 pontos de distribuição da ariranha em toda a área de distribuição e identificou áreas geográficas para as quais havia conhecimento especializado (63%), incluindo áreas onde a ariranha não ocorre mais (19%) e regiões geográficas onde a presença da ariranha é incerta devido à falta de conhecimento especializado (37%).
Em geral, as Unidades de Conservação Prioritárias de Ariranha eram relativamente grandes e aproximadamente 35% de sua área já foi designada como área protegida.
Fonte: Wildlife Conservation Society (WCS)
VER MAIS EM:
- Pesquisa com Ariranhas Busca Compreender seu Estado de Conservação e Ameaças à Espécie – Instituto Mamirauá
- Especialistas identificam áreas prioritárias de conservação para a ariranha, animal ameaçado de extinção – Instituto Mamirauá
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