Especialistas que trabalham na parte da Amazônia brasileira onde apareceu um jovem indígena que estava isolado na semana passada, esse fenômeno destaca a intensa pressão exercida pelas pessoas que se apropriam de terras e exploram os recursos florestais.

Um homem isolado da região de Mamoriá Grande, no Brasil, aparece perto de um assentamento em uma reserva extrativista, fevereiro de 2025 © Anon – Imagem postada em: SURVIVAL
O jovem, de um grupo de indígenas isolados de Mamoriá Grande, apareceu na semana passada em um assentamento ocupado por pessoas que colhem castanha-do-pará e outros produtos florestais no sul do estado do Amazonas. Ele voltou para a floresta no dia seguinte.
Em dezembro passado, a Funai, o departamento de assuntos indígenas do governo brasileiro, finalmente emitiu uma ordem de proteção da terra (proteção temporária) para o território, décadas depois que as comunidades indígenas locais relataram a presença do grupo. No entanto, o território ainda não beneficia de uma demarcação oficial (com medidas de mapeamento e proteção), e os políticos locais estão a questionar esta portaria.
Na região de Mamoriá Grande, a floresta está sob crescente pressão de atividades ilegais de caça e pesca e grilagem de terras.
Zé Bajaga Apurinã, coordenador da organização indígena local FOCIMP (Federação das Organizações Comunitárias do Médio Rio Purus), disse: “Há muito tempo pedimos que esse território seja protegido. Eles decidiram pela proteção temporária, mas isso não resolve nada. A demarcação é a verdadeira solução. Essas pessoas não têm para onde ir. As pessoas invadem a terra, pegam a riqueza que está lá, cortam árvores, pescam, caçam, pegam tudo o que existe. Eles [indígenas isolados] estão sufocando, estão em perigo. Devemos imediatamente estabelecer um cordão sanitário e demarcar este território com urgência.
Daniel Luis Dalberto, o procurador-geral, trabalha em questões relacionadas aos povos isolados. Presente na área na semana passada, ele disse ao site de notícias brasileiro A Pública: “Eu vi com meus próprios olhos os riscos aos quais essas pessoas estão expostas. O risco de genocídio ou extermínio é muito alto.”
Carlos Travassos é ex-diretor da Unidade de Povos Isolados e Recém-Contatados da Funai, e também foi chefe da base da Funai na área. Ele disse a A Pública: “[Algumas partes desta região] não têm proteção legal e sofrem com a especulação imobiliária, incluindo a grilagem de terras. A Ordem de Proteção da Terra da Funai foi muito importante. Este é o fim do ‘arco do desmatamento’, a região mais desmatada da Amazônia. É uma região onde a terra está sob muita pressão.”
A Survival emitiu recentemente um comunicado mencionando a natureza vulnerável deste território e de seus habitantes que, até recentemente, não tinham proteção.
Caroline Pearce, diretora da Survival International no Reino Unido, disse hoje: “Este desenvolvimento alarmante mostra como é urgente que este território, como todos os territórios indígenas, seja devidamente demarcado e protegido. Demorou anos para o governo brasileiro simplesmente emitir uma ordem temporária de proteção de terras, mas a presença de povos indígenas nesta área é conhecida há décadas, e a grilagem de terras agora está se intensificando.”
FONTE: SURVIVAL
- Brasil: Especialistas alertam para invasões após aparecimento de índio isolado
- Brésil : Les experts mettent en garde contre les invasions après l’apparition d’un homme autochtone non contacté
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