Projeções indicam que o rio Negro pode ultrapassar cota de inundação em Manaus, com chances de também ocorrer para Manacapuru, Itacoatiara e Parintins
Manaus (AM) – As cidades do Amazonas podem mais uma vez sofrer com um cenário de inundação devido a cheia de 2025. É o que indicam informações do 1º Alerta de Cheias do Amazonas, realizado nesta sexta-feira (28) pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), com o objetivo de apoiar o planejamento de ações para o período. As previsões, com antecedência de 75 dias para o pico da cheia, contemplam os municípios de Manaus, Manacapuru, Itacoatiara e Parintins, onde vivem mais de 2,3 milhões de pessoas. O evento ocorreu na Superintendência de Manaus (SUREG-MA).
A diretora de Hidrologia e Gestão Territorial do SGB, Alice Castilho, abriu as apresentações e ressaltou a importância da região amazônica para o país. “Se compararmos a Bacia do Amazonas a um país, ela seria o sétimo maior país do mundo. Por isso, os picos de cheia não ocorrem ao mesmo tempo e é fundamental avaliar as vazões dos rios. Para a região, o SGB emite o primeiro Alerta de Cheias com 75 dias de antecedência, seguido por um segundo alerta com 45 dias e um último aviso 15 dias antes da cheia. Dessa forma, a Defesa Civil, tanto local quanto estadual, pode se preparar e tomar medidas para reduzir os impactos”, analisou.
O gerente de Hidrologia e Gestão Territorial da instituição, Andre Luis Martinelli traçou um panorama sobre os desafios hidrológicos na Amazônia. “Vivemos um período de eventos extremos, após enfrentarmos duas das maiores cheias (em 2021 e 2022), nossa região logo em seguida se deparou com as duas piores secas registradas (em 2023 e no ano passado). Para este ano, espera-se uma cheia ordinária, entretanto há uma boa possibilidade (30%) de termos a cota de inundação superada e portanto mais uma grande cheia”, explicou
Previsões climatológicas
Segundo os pesquisadores do SGB, para Manaus(AM), a previsão é que o Rio Negro atinja, aproximadamente, 28,68 m, com um intervalo variando entre 27,93 e 29,43 m (considerando 80% de intervalo de confiança). Segundo o modelo utilizado, a probabilidade de que o rio venha atingir a cota de inundação na capital (27,50 m) é de 98%. Para a cota de inundação severa (29 m) essa probabilidade é de 30%, e para a cota máxima (30,02 m em 2021) é de apenas 1%.
Já em Manacapuru (AM), a previsão é que o Rio Solimões atinja, aproximadamente, 19,47 m, com um intervalo provável de 18,66 a 20,29 m (considerando 80% de intervalo de confiança). Segundo o modelo utilizado, a probabilidade de que o rio venha atingir a cota de inundação em Manacapuru (18,20 m) também é de 98%, mas para a cota de inundação severa (19,60 m) essa probabilidade é de 42%, já a cota máxima registrada em 2021 (20,86m) a probabilidade é abaixo de 1%.
Em Itacoatiara, tudo indica que o Rio Amazonas atinja um valor aproximado de 14,33 m, com um intervalo provável variando entre 13,67 e 14,98 m (considerando 80% de intervalo de confiança). Segundo o modelo utilizado, a probabilidade de que o rio venha atingir a cota de inundação (de 14 m) é de 76%, já a probabilidade de atingir cota de inundação severa (14,20 m) é de 61%. Para superar a cota máxima (15,20 m em 2021), a probabilidade é de 3%.
Em Parintins, a previsão é que o rio Amazonas atinja um valor em torno de 8,48 m, com um intervalo provável variando entre 7,97 e 8,99 m (considerando 80% de intervalo de confiança, verificar Figura 4). Segundo o modelo utilizado, a probabilidade de que o rio venha atingir a cota de inundação em Parintins (8,43 m) é de 56,0% e de superar a cota de inundação severa (9,30 m), apenas 2,0%. Para superar a cota máxima (9,47 m em 2021) a probabilidade é muito baixa, menor que 0.5%.
Confiabilidade nas previsões
eydilla Bonfim, pesquisadora do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM), abordou sobre a confiança nas previsões do tempo. “Trabalhamos com diferentes períodos de previsão, que vão de minutos a meses, cada um com níveis distintos de confiança. Ainda assim, todas são fundamentais para emissão de alertas e planejamento. Ao longo dos últimos anos, a precisão das previsões tem melhorado significativamente, apesar da insuficiência de dados em algumas áreas da nossa região. Porém, com o avanço da tecnologia, ganhamos mais confiança nos resultados, permitindo decisões mais assertivas e eficazes”, revelou.
Prognósticos e outras análises
Renato Senna, pesquisador e meteorologista do INPA, chamou atenção para o nível das chuvas no final do ano passado. “A estação chuvosa começou com déficit entre novembro e dezembro de 2024. No entanto, o resfriamento do Pacífico e as mudanças na temperatura do Atlântico Equatorial favoreceram a precipitação no primeiro trimestre de 2025. Logo, permitiu a recuperação dos níveis do rio Negro, que passou de muito baixos para normais”, expôs.
Esmiuçando as previsões, o pesquisador e meteorologista do LABCLIM-UEA, Leonardo Vergasta, apresentou o prognóstico das chuvas na Bacia Amazônica. “Em abril, as chuvas devem permanecer acima da média no oeste e sudoeste da Bacia Amazônica, abrangendo os rios Ucayali, Javari, Juruá e Alto Purus. Também prevemos precipitação acima da normalidade no centro-norte da bacia, especialmente ao norte da margem esquerda do rio Solimões”, contou.
Ele acrescentou que, nas demais regiões, as chuvas devem se manter dentro do esperado, mas alertou para possíveis inundações. “Emitiremos um alerta de inundação para a bacia do Rio Madeira e os trechos Alto, Médio e Baixo Solimões, com enchentes previstas entre o fim de março e o início de abril. No entanto, os níveis não devem superar recordes históricos, como a cheia de 2021”, finalizou.
Impactos na região
Subsecretário da Defesa Civil do Estado, Cel.Clóvis Araújo, revelou as ações realizadas para diminuir os impactos das cheias e das estiagens. “A Defesa Civil tem adotado diversas ações para minimizar os impactos das cheias e estiagens na região. Com 59% dos desastres relacionados a inundações, nossa principal preocupação é garantir uma resposta rápida e eficiente. Atualmente, 28 municípios estão em situação de normalidade, 8 em atenção e 23 em alerta, com destaque para os rios Madeira, Juruá, Purus e Alto Solimões”, salientou.
Sobre as medidas adotadas, o Coronel pontuou. “Ampliamos as estações fluviométricas de 10 para 50, fornecemos água potável pelo programa ‘Água Boa’, criamos um fundo de reserva para apoio financeiro emergencial e fortalecemos a capacitação dos coordenadores municipais. Além disso, desenvolvemos o SISPDEC para registrar ocorrências e necessidades dos municípios, e aplicativos como o ‘Agente’, para monitoramento em campo, e o ‘Cota Rio’, voltado à navegação segura. Nosso Centro de Monitoramento e Alerta continua acompanhando a evolução dos cenários para garantir ações preventivas e respostas rápidas”, concluiu.
Rafael Costa
Núcleo de Comunicação
Serviço Geológico do Brasil
Ministério de Minas e Energia – 1º Alerta de Cheias do Amazonas 2025: SGB prevê inundação para Manaus e outras cidades amazônicas – SGB
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