Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência

– Tribuna da Imprensa, 23.12.1963 – Imagem postada por: Hiram Reis e Silva

Continuando engarupado na memória:

Tribuna da Imprensa n° 3.233, Rio, RJ
Segunda-feira, 23.12.1963
Brizola Exige Ministério com
Ameaça de Revolução

Ou o senhor Jango Goulart nomeia um Ministério esquerdista sob meu comando na Fazenda, dentro de vinte dias, ou será derrubado tranquilamente dentro de quarenta dias. 

Esta frase pertence ao cunhado presidencial, sr. Leonel de Moura Brizola, deputado federal pelo PTB da Guanabara, ex-governador do Rio Grande do Sul, agitador político de esquerda e candidato [é a primeira vez que acontece no Brasil] a ministro da Fazenda.

O sr. Brizola ficou irritadíssimo com o manobra rápida do sr. João Goulart, nomeando o sr. Nei Galvão para o Ministério da Fazenda, minutos depois de receber a carta de demissão irrevogável do professor Carvalho Pinto. Brizola considera essa atitude do cunhado inteiramente contrária aos interesses das esquerdas brasileiras, que já se estavam preparando para assumir o poder.

Tomado de surpresa com a súbita demissão de Carvalho Pinto, o sr. João Goulart tomou atitude mais ou menos idêntica, nomeando Nei Galvão e torpedeando, desse modo, certas pretensões dos seus amigos de esquerda. A jogada do sr. João Goulart foi considerada “diabólica” por círculos pessedistas que examinaram ontem a situação política, depois da saída do professor Carvalho Pinto da Pasta da Fazenda. “Diabólica” porque atingiu os objetivos perseguidos por Jango:

1) Respondeu à altura a manobra do professor, demitindo-se sem aviso-prévio e irrevogavelmente, com o que conseguiu quebrar o impacto da reforma ministerial anunciada pelo Presidente; 

2) Descartou-se de Brizola e seu grupo radical; 

3) Pôs na Fazenda um homem intimamente ligado a Brizola, por mais que Brizola desminta, essa é a verdade, e aos negocistas do Governo, incluindo o próprio Jango.  

Diante do fato consumado, as esquerdas lideradas por Leonel Brizola resolveram desencadear uma campanha nacional e pressionar o presidente da República para obter a Pasta da Fazenda “de qualquer maneira”, como afirmou ontem o deputado Neiva Moreira. Sentindo-se frustrados, os esquerdistas atacam o sr. João Goulart pelos flancos mais vulneráveis do Governo e afirmam, como afirmou o sr. Brizola, que, se dentro de 20 dias não for nomeado um Ministério de esquerda, o grupo romperá com o Governo e o derrubará.

Acreditam os esquerdistas, que a esta altura declararam guerra ao sr. João Goulart, que não será muito difícil a derrubada do presidente da República, pois os dispositivos de segurança do Governo se sustentam, apenas, no grupo de esquerda, tanto na área civil como na área militar. Desde que esse grupo passe a conspirar e a agir contra o Governo será bastante fácil a sua derrubada. A verdade é que o sr. João Goulart não tem saída para a crise que ele próprio armou. Chamou as esquerdas para o Governo, o sr. Brizola reivindicou o poder através da Pasta da Fazenda, o sr. Miguel Arrais pronunciou-se favoravelmente a um Governo “popular”, voltado para os interesses dos nacionalistas.

A “batata quente”, como afirma Brizola, está nas mãos do presidente. Somente ele está em condições de decidir: ou aceita as esquerdas e constitui um Ministério nitidamente esquerdista e nacionalista, ou aceita o desafio público dos esquerdistas comandados por Brizola e vai à luta. Sobre a situação do ministério da Fazenda, existe o seguinte:

1) O grupo esquerdista acha que Jango nomeou Nei Galvão apenas para “ganhar tempo”, pois na primeira quinzena de janeiro incorporará o dispositivo civil esquerdista ao Governo e assinará a nomeação de Brizola para a principal Pasta do governo; 

2) Grupos petebistas, San Tiago Dantas à frente, afirmam que Nei Galvão é solução definitiva, até o ponto em que são definitivos os ministros e os rumos do governo João Goulart. 

A uma pergunta de conhecido jornalista palaciano sobre se Nei Galvão era ministro interino, respondeu o sr. Raul Riff: “Todo ministro de Jango é interino”. Ninguém conhece, na verdade as verdadeiras intenções presidenciais. O fato é que o sr. João Goulart perdeu substância com a súbita demissão do professor Carvalho Pinto, que pôs a nu a manobra presidencial para desmoralizá-lo e substituir o Ministério por um outro de tipo esquerdista. Jango enfrenta a crise que ele mesmo alimentou, e dificilmente sairá bem dela. O que se informava ontem nos círculos palacianos era de que a reforma ministerial será total e ninguém escapará nem mesmo o sr. Nei Galvão, recentemente nomeado para a Fazenda.

Tribuna da Imprensa n° 3.236, Rio, RJ
Sexta-feira, 27.12.1963
David: Medo Leva Brizola a Bater

O jornalista David Nascer, agredido, ontem, pelo sr. Leonel Brizola, no aeroporto do Galeão, disse que o ato do parlamentar foi a:

A reação natural de um homem primário, que depois de tantas derrotas se desesperou, entrando em pânico. 

O diretor de “O Cruzeiro” estava adquirindo uma passagem para Campinas, no balcão do Varig, quando o sr. Leonel Brizola se aproximou por trás, colocou a mão em seu ombro direito e, enquanto ele se virava, naturalmente, atingiu-o com um violento direto na cabeça. Os capangas do deputado cercaram os dois adversários, que caíram no chão atracados, quando o jornalista reagiu. Este se queixa de ter recebido pontapés dos capangas, enquanto lutava.

Como foi Mesmo

Eram cerca de 10h30, quando o sr. David Nasser foi abordado pelo sr. Leonel Brizola, que o agrediu imediatamente. O jornalista, recuperando-se rapidamente do soco recebido de surpresa, reagiu. O agressor sacudiu na mão um recorte da revista “O Cruzeiro” com um artigo do agredido, em que este o atacava, e prometia fazê-lo engolir o papel. Um dos socos que o sr. David Nasser desferiu contra Leonel Brizola foi atingir um dos assessores deste, o jornalista Jessy, cujos óculos saltaram longe. Os adversários permaneceram engalfinhadas durante alguns momentos, e foram logo separados por circunstantes e pelo encarregado do policiamento do Galeão, sr. Amário Amado, que retirou o jornalista da cena enquanto os amigos do deputado tratavam de contê-lo.

Poltrona e Cafezinho 

O sr. David Nasser, ainda aturdido com a surpresa, sentou-se em uma poltrona do saguão, ao tempo em que o parlamentar era levado para o lado oposto, na direção do café, pronunciando palavrões e recebendo apupos. “Fui covardemente agredido por esse cafajeste”, dizia o sr. David Nasser aos colegas e amigos que procuravam ouvi-lo. “Mas ele também levou o dele”. À tarde, o diretor de “O Cruzeiro” recebeu a imprensa em seu gabinete, dizendo que se sentia:

Como um toureiro distraído, que levou uma chifrada pelas costas. A luta não terminou, principalmente agora, que o adversário começa a apresentar sintomas de desespero. 

Afirmou que considera encerrado o incidente e não apresentará queixa à polícia, mas escreverá um artigo sobre o caso na próxima edição da revista. Apanhei pelas costas e dei de frente, é tudo. Isso que aconteceu hoje é o primeiro sintoma de que:

A “República de Denner” está chegando ao fim. É a luta desesperada de quem não quer ir para o exílio ou para a cadeia.

Hiram Reis e Silva, Bagé, 03.01.2025, um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.  

– Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;   

Link: Currículo do Canoeiro Hiram Reis e Silva 

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
  • Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
  • Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
  • Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
  • E-mail: [email protected]

FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor

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