Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência
O governo federal assiste de braços cruzados a esse incêndio financeiro ampliado por um imponderável: – A Nação não pode depender de um irrefletido, à menos que se despedace o País com o “slogan”: “QUANTO PIOR MELHOR”. (A Noite, n° 17.441, 14.10.1963)
Continuando engarupado na memória:
Tribuna da Imprensa n° 3.243, Rio, RJ
Segunda-Feira, 06.01.1964
O Quinto Mistério
Em apenas dois anos e três meses de governo, o sr. João Goulart já teve quatro ministérios, com 52 ministros, fora os “mauros sales”. E nos conciliábulos do Palácio Rio Negro, nas mesas do Sacha’s e nas convulsionadas reuniões dos sindicatos, já está nascendo o quinto ministério desta República que não é a dos nossos sonhos. Há, decerto, uma lógica política para substituição deste ministério: é que ele se desagregou e se desintegrou. Mas há também outra lógica, mais lógica ainda: é que todos os ministérios do sr. João Goulart já nascem desagregados. Pois, embora haja sempre o rodízio dos ministros incertos mas sucessivos, não há a estrutura político administrativa destinada a mantê-los nos cargos. E não havendo governo, não há ministro, bom ou mau, que consiga manter-se nas pastas.
O PROBLEMA, portanto, não são os ministros. É o sr. Goulart, que não governa. E, não governando, vive de crises e com as crises, provocando-as e fomentando-as, à procura de abrir veredas de ilegalidade que levem o País à República Sindicalista, que esta, sim, é a de seus sonhos e de sua formação extralegal. O sr. João Goulart tem apenas, e felizmente, mais dois anos de governo, que serão, fatalmente, mais dois anos de inflação, aflição e corrupção. Nessa marcha, com o aceleramento da queda desses ministérios que apodrecem em alguns meses, ele chegará ao fim de seu mandato com a respeitável soma de 10 ministérios. E de nenhum governo, o que é mais crucial ainda para o povo brasileiro, que paga tão caro esta terrível aventura.
Tribuna da Imprensa n° 3.245, Rio, RJ
Quarta-Feira, 08.01.1964
Em Primeira Mão
(Hélio Fernandes)
Novo plano de “assassinato” do presidente da República está sendo cuidadosamente preparado em Brasília pela assessoria militar do Palácio do Planalto. Objetivo: sensibilizar a opinião pública e os comandos militares e atraí-los para uma represália violenta que poderia conduzir fatalmente ao golpe tão pretendido e tão perseguido pelo sr. João Goulart.
Na verdade, o sr. João Goulart sente que seu governo se desgasta a cada dia e perde consistência nas áreas militares. Apesar do desgaste a que está sendo submetido, através de manobras e ardis do general Assis Brasil e seu grupo esquerdista, o ministro da Guerra, general Jair Dantas Ribeiro, ainda detém a maior parte dos comandos e procura situar o seu dispositivo na faixa da legalidade democrática.
Tribuna da Imprensa n° 4.249, Rio, RJ
Segunda-Feira, 13.01.1964
Em Primeira Mão
(Hélio Fernandes)
Dois aos funcionários do Ministério da Fazenda encontram-se neste momento em Zurique, embarcaram às 21h00 de sábado, anteontem, em avião da “Air France”, numa missão importantíssima do governo brasileiro. Vão tentar junto às autoridades do Fundo Monetário Internacional um empréstimo de um bilhão e meio de dólares para salvar as finanças nacionais. Essa missão brasileira junto aos governadores e altos dirigentes do Fundo Monetário Internacional foi guardada debaixo de grande segredo. Depois de ter conseguido o reescalonamento da dívida, 2 bilhões e 800 milhões de dólares, do Brasil no exterior, os Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e outros Países do Bloco Ocidental, o Governo Goulart despachou os dois altos funcionários da Fazenda para Zurique, onde se encontra, hoje, praticamente, a sede do FMI, entidade controlada pelos banqueiros europeus, a fim de obter o empréstimo salvador, de um bilhão e meio de dólares. O sr. João Goulart atribuiu tanta importância a essa missão, que confessou a alguns deputados que o procuraram no fim de semana:
Se esse empréstimo não sair imediatamente, estaremos liquidados. O Brasil vai fechar para balanço, pois não temos dinheiro nem para pagar o funcionalismo.
Os meios econômicos, porém, não acreditam que tal empréstimo venha a salvar o País, pois a desordem das finanças nacionais, o empreguismo e a inflação desenfreada põem a perder qualquer medida dessa natureza. Acham que se os emissários do governo brasileiro conseguirem êxito nas negociações com o FMI e trouxerem o dinheiro da Suíça, apenas ficará momentaneamente aliviada a situação interna e desafogado o País por algum tempo. Por poucos meses, pois logo em seguida esse dinheiro será absorvido pela inflação, o empreguismo, e a manifesta incapacidade administrativa do Governo.
A atitude do sr. João Goulart, no momento, é de conciliação com as forças conservadoras e as entidades internacionais de crédito, conforme previ nesta coluna, há alguns dias. Pressionado pela inflação e pela falta de dinheiro, o presidente da República apela para as tradicionais fontes de crédito a fim de desafogar a economia nacional. Para tanto aceitará todas as fórmulas propostas pelos Estados Unidos e pelas agências financeiras internacionais a fim de obter créditos. Realizado o objetivo, partirá, naturalmente, para as suas habituais jogadas políticas contra o regime e as instituições.
Os comissários brasileiros que se despacharam para Zurique não acreditam na viabilidade das negociações. Houve, antes, um contato preliminar, telefônico, entre ao autoridades brasileiras e os dirigentes do Fundo Monetário Internacional. Estes solicitaram a presença de destacados funcionários brasileiros, devidamente credenciados para celebrar os acordos. Mas os funcionários que partiram não confiam no êxito das negociações. Partiram desesperançados, pois levaram, na bagagem apenas uma garantia: a de controlar o câmbio através do Banco do Brasil, medida defendida pelas esquerdas brasileiras. Em outras palavras: o monopólio do câmbio pelo governo. E isto não seria o suficiente para convencer as autoridades do FMI.
De qualquer forma o sr. João Goulart considera que essa é a sua última jogada no plano financeiro internacional para salvar o Brasil. Se obtiver o empréstimo, diz ele, poderá marchar tranquilamente para as suas reformas de base, garantindo o processo eleitoral. Caso contrário, afirma o sr. João Goulart, não se responsabilizará por nada. Partirá para a agitação pura e simples, pois não quer perder a sua liderança política e popular. E, naturalmente, acusará o Fundo Monetário Internacional como responsável direto pela situação brasileira. Quer dizer: ganha se vier o dinheiro, e ganha se não vier.
Tribuna da Imprensa n° 4.252, Rio, RJ
Quinta-Feira, 16.01.1964
Esquerda Denuncia: Jango Arma o Golpe
As forças da esquerda dissidentes manifestaram a opinião de que o presidente João Goulart arma realmente um golpe contra as instituições, a pretexto de realizar as reformas de base e evitar uma possível vitória do sr. Carlos Lacerda para a Presidência da República. O golpe que está sendo cogitado pelo sr. João Goulart contaria com o apoio da corrente do sr. Leonel Brizola, do Partido Comunista liderado por Prestes, e espera o apoio do governador Arrais, manifestando-se contra o sua execução o ministro da Guerra e os setores esquerdistas, contrários à orientação do sr. Carlos Prates.
Golpe
A preparação psicológica para o golpe começou a ser feita, de forma aberta, pelo sr. Leonel Brizola, que no último encontro com o vice-governador Elói Dutra chegou a dizer claramente que não aceita sua candidatura ao Governo da Guanabara porque não haverá eleições. O PC de Prestes, por tática política, empresta seu apoio ao golpe, considerando ainda que seria uma das fórmulas de impedir a eleição do sr. Carlos Lacerda à Presidência da República. O incentivador do golpe, e seu principal porta-voz, é o sr. Leonel Brizola através da Frente de Mobilização Popular.
O apoio do sr. Miguel Arrais parece ter sido tentado no encontro mantido segunda-feira em Petrópolis. O governador pernambucano, que está na linha dissidente das esquerdas, parece não estar convencido da viabilidade de sua execução. O presidente Goulart procura atraí-lo para o seu esquema, certo de que uma reação contrária de sua parte faria fracassar o movimento.
O grupo das esquerdas dissidente tem-se manifestado contra as articulações golpistas do sr. João Goulart, considerando que a radicalização nestes termos seria cada vez mais prejudicial ao processo revolucionário e certo de que o golpe seria dado para efetuar uma mudança de posições com relação à área de influência de capital no Brasil. Segundo acreditam, o movimento se assemelha mais a um golpe fascista, sem nenhum conteúdo popular e nacionalista.
Hiram Reis e Silva, Bagé, 08.01.2025, um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
– Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Link: Currículo do Canoeiro Hiram Reis e Silva
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
- Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
- Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
- Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
- E-mail: [email protected]
FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor
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