Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência
Continuando engarupado na memória:
Jornal do Brasil n° 232, Rio de Janeiro, RJ
Sexta-feira, 04.10.1963
Governo Resolve Pedir o
Estado de Sítio
O Governo Federal desprezou as possibilidades de intervenção na Guanabara ou de enquadramento do Governador Carlos Lacerda na Lei de Segurança Nacional, e fixou-se na solução do Estado de Sítio, a ser pedido ao Congresso com base no número I do Art. 206 da Constituição, que admite a medida de exceção em caso de:
Comoção intestina grave ou de fatos que evidenciem estar a mesma a irromper.
As lideranças sindicais levaram ontem ao conhecimento do Ministro da Justiça que não apoiam o Estado de Sítio e que, se este for decretado, poderá provocar uma greve geral no País. Apoiam, sim, a intervenção federal na Guanabara ou o enquadramento penal do Sr. Carlos Lacerda, medidas que eram, até à madrugada de ontem, as preferidas dos Ministros Militares, demovidos desse propósito, porém, ante o argumento de que seria duvidosa a cobertura política na Câmara e no Senado.
Assessores jurídicos da Presidência da República fizeram ver aos Ministros Militares que, uma vez desautorizada a intervenção, pelo Congresso, o próprio governo teria fortalecido extraordinariamente a posição dos Srs. Ademar de Barros e Carlos Lacerda, colocando talvez as Forças. Armadas na contingência de terem que atuar à margem da lei para manter sua autoridade.
Reforçaram a tese do Estado de Sítio a possibilidade de decretação próxima de mais de 30 greves isoladas, que aumentariam a inquietação reinante no País, a perspectiva de “lockout” e a atuação, com repercussão internacional, do Governador Carlos Lacerda. O Sr. João Goulart, que presidiu duas reuniões ministeriais ontem, nas Laranjeiras, uma às 21h30, outra às 23h00, ordenara ao Comando da III Zona Aérea que preparasse o Viscount, pois ele iria, de madrugada, a Brasília, devendo retornar ao Rio ainda hoje.
A viagem, ao que se presume, prende-se à necessidade de o Chefe do Governo fazer contatos na área parlamentar visando ao pedido do Estado de Sítio ao Congresso.
O Governador Carlos Lacerda, que chegou ao Rio, de Teco-Teco, à noite, procedente de São Paulo, afirmou em entrevista à imprensa que só ontem tomara conhecimento do discurso pronunciado na véspera pelo Sr. João Goulart. Lera-o nos jornais. Comentou o Governador:
Aliás, pensei estar lendo um jornal do mês passado.
Os Palácios Guanabara e das Laranjeiras estiveram tranquilos, ontem, apesar da onda de boatos. Uma pessoa, no entanto, destoava das fisionomias graves no palácio presidencial: o menino João Vicente, que saiu, à tarde, no Mercedes-Benz do pai, com a irmã Denise, a babá e o motorista. Na mão agitava triunfalmente três cédulas de Cr$ 5 mil e duas de Cr$ 1 mil. Anunciou aos repórteres:
Vou comprar balas.
Jornal do Brasil n° 242, Rio de Janeiro, RJ
Quarta-feira, 16.10.1963
General Pinheiro diz que era de Rotina
a Operação Considerada Anti-Lacerda
O Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, General Alfredo Pinheiro, em seu primeiro depoimento nas sindicâncias a cargo do General Antônio Henrique de Almeida Morais, assumiu inteira responsabilidade pela operação militar que se denunciou ter por objetivo a prisão do Sr. Carlos Lacerda, mas, como suas declarações não coincidem com os esclarecimentos prestados por oficiais que se recusaram a cumprir a ordem, voltará a ser reinquirido, possivelmente hoje.
O ponto discordante, que o General Almeida de Morais considera indispensável esclarecer bem para conclusão das investigações preliminares, está na afirmação do General Pinheiro de que a operarão fez parte do programa de manobras de “rotina”, o que se choca com declarações de oficiais então mobilizados e que alegam não ter atendido a ordem de sair com a tropa porque o objetivo visado era a prisão do Governador da Guanabara e até a sua morte, se houvesse resistência.
Expectativa
O General Almeida Morais está mantendo as investigações sob o maior sigilo, mas em círculos bem informados do Ministério da Guerra revelou-se, ontem, que há uma contradição flagrante entre o que afirma o General Pinheiro e o que sustentam os oficiais que foram chamados a comandar a operação.
Tudo indica, segundo as mesmas informações, que o Comandante dos Paraquedistas continuará reafirmando que houve coincidência entre o deslocamento da tropa para as cercanias do Hospital Miguel Couto, no dia 5, e a presença, ali, do Sr. Carlos Lacerda, na ocasião.
Mantido esse quadro, o Ministro da Guerra não terá outra alternativa senão instaurar um inquérito policial-militar que então levará a apuração do caso às últimas consequências. O Ministro Jair Dantas Ribeiro, que deverá estar hoje no Rio, de volta de Brasília, receberá do General Almeida de Morais informações preliminares sobre os rumos que as sindicâncias que lhe foram confiadas estão apresentando.
Brasília (Sucursal) – O Sr. Adauto Cardoso informou ontem que deverá escolher os dois representantes udenistas na CPI sobre o suposto atentado contra o Sr. Carlos Lacerda, entre três nomes: Pedro Aleixo. Bilac Pinto e ele próprio. A Indicação se fará hoje.
Também o Sr. Martins Rodrigues ficou de indicar hoje os nomes que representarão o PSD no órgão investigador. Recusou-se, porém, a antecipá-los.
O Sr. Doutel de Andrade, que viajou para o Rio, a fim de se encontrar com o Sr. João Goulart e o comando do PSD, só fará as indicações depois de ouvido o Presidente a respeito.
Os Srs. Adauto Cardoso e Bilac Pinto, respectivamente, líder e Presidente da UDN, disseram, ontem, ao “Jornal do Brasil”, que não estão preocupados com as notícias segundo as quais o Ministro da Guerra não permitirá que militares prestem depoimento na CPI, sobre o atentado ao Governador Carlos Lacerda, que nos próximos dias será instalada, porque:
Não depende do Ministro a convocação.
Jornal do Brasil n° 244, Rio de Janeiro, RJ
Sexta-feira, 18.10.1963
Pinheiro vai ser Afastado do Comando de Paraquedistas
por Ordem de Jair
Após despachar com o Presidente João Goulart, ontem, nas Laranjeiras, o Ministro da Guerra, Sr. Jair Dantas Ribeiro, convocou o General Alfredo Pinheiro ao seu Gabinete e comunicou-lhe que é iminente sua destituição do Comando do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, em face da comprovação, feita pelas sindicâncias até agora realizadas, de que a operação militar que comandou no dia 5, destinava-se realmente a prender o Sr. Carlos Lacerda.
Em círculo do Gabinete do Ministro da Guerra informava-se no fim da tarde, que o General Pinheiro foi à presença do Chefe do Exército para “pôr o cargo à disposição”, a fim de melhor facilitar as investigações em curso, mas em outros setores militares afirmou-se que o General Jair chegou à conclusão de que é impraticável sua manutenção no comando dos paraquedistas, dada a iniciativa que tomou e pela qual assumiu integral responsabilidade.
Goulart Endossou
Com base nas informações gerais que lhe foram prestadas pelo General Antonio Henrique Almeida de Morais, incumbido das investigações em torno da manobra idealizada pelo General Pinheiro, o Ministro da Guerra, em rápida conversa com o Sr. João Goulart, antecipou-lhe a decisão que iria tomar.
Todos os depoimentos da oficialidade que se recusou a cumprir a ordem de participar da operação, por ter o Comandante dos paraquedistas declarado que ela visava a prisão do Governador, não deixam dúvida quanto à autenticidade da iniciativa, embora o General Pinheiro tivesse procurado esvaziar a ordem ao depor, explicando que a operação se enquadrava num plano de manobras de rotina. O Gen Crisanto Miranda de Figueiredo, segundo as mesmas informações, está sendo apontado como o provável substituto do Gen Alfredo Pinheiro. A escolha do seu nome visa a aplacar o descontentamento que poderia surgir, no dispositivo militar governista, com a saída do Gen Pinheiro, pois o Gen Crisanto está intimamente ligado à cúpula militar do Governo.
Jornal do Brasil n° 250, Rio de Janeiro, RJ
Sexta-feira, 25.10.1963
Coronel vai Viajar sem falar à CPI
O Coronel João Sarmento, que chefiou interinamente o Gabinete Militar da Presidência da República e é apontado pela oposição como autor da ordem para a prisão do Sr. Carlos Lacerda, vai viajar para Paris e assumir seu cargo de Adido Militar sem depor à CPI que investiga o atentado porque seu Presidente, Deputado Bias Fortes, indeferiu o requerimento do Deputado Adauto Cardoso nesse sentido.
Hiram Reis e Silva, Bagé, 16.12.2024, um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
– Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
- Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
- Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
- Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
- E-mail: [email protected]
FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor
Nota – A equipe do Ecoamazônia esclarece que o conteúdo e as opiniões expressas nas postagens são de responsabilidade do (s) autor (es) e não refletem, necessariamente, a opinião deste ‘site”, são postados em respeito a pluralidade de ideias
Deixe um comentário