Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência

Cel Hiram em seu caiaque

Continuando engarupado na memória:

Jornal do Brasil n° 219, Rio de Janeiro, RJ
Quinta-feira, 19.09.1963
Conservação Democrática

O País está parado, em Suspenso, sem rumo, aguardando o restabelecimento da ordem, da paz e da normalidade trabalhista. Sua resistência tem um limite, que poderá romper-se comprometendo a unidade nacional. Este limite já se conta em horas.

As notas oficiais de Ministros anunciando calma só confirmam uma expectativa: é a de que se aproxima um desfecho restaurador da confiança com o esmagamento daqueles que, levados pela insânia, a tudo querem sacrificar, inclusive a Nação.

O desfecho resultante da vigília cívica anti-subversiva só pode ser o democrático. Sem Democracia, ou com interrupção do processo democrático, só estaríamos prolongando a expectativa e protelando a correção democrática dos males profundos da crise.

Não aceitamos, portanto, nem mesmo desvios antidemocráticos. Sequer aqueles previstos pela Constituição, portanto legais, para remediar a desordem e seus males. Queremos a restauração da ordem dentro da normalidade democrática, sem sítio, sem exceção ou regime de emergência. Exigimos o fim das greves políticas, de solidariedade ou de pura chantagem sobre o Poder Civil enfraquecido por um Presidente vacilante e dúbio, até agora incapaz de desencarnar da condição de líder sindical.

Isto é possível. Basta que seja cumprida a Constituição e sejam aplicadas as leis do País, em vigor, consoante definição do Supremo Tribunal Federal, para que os partidários da mazorca sejam reduzidos à impotência e o País reencontre o seu destino democrático.

O País não pode aceitar a entrega de poderes excepcionais ao Presidente da República que, diante da ilegalidade consumada das greves, insiste na prática de parlamentar com os líderes dos movimentos, como lhe fosse legítimo intermediar entre o criminoso e a lei. E, no entanto, sem aprender as lições recentes, é o que fazem o Presidente, o Ministro do Trabalho e o Ministro da Educação. Parlamentam com os grevistas, com os responsáveis pela paralisia nacional, danosa e criminosa.

Reforçam a posição e o poder desmoralizando a autoridade daqueles que se dispõem a sacrificar-se para defender a ordem constituída.

O País não pode entregar poderes excepcionais ao Presidente da República responsável principal pela situação de excepcionalidade que estamos vivendo. Dar o baraço e o cutelo a um Governo que concilia fora da lei.

O Estado de Sítio, baraço e o cutelo nas mãos do eterno líder sindical, será o instrumento para complementar, pela coação e pelo temor, a obra já bem avançada que o Governo João Goulart vem realizando de imolação da Democracia brasileira e fortalecimento da subversão sindical.

O Estado de Sítio seria prêmio imerecido acrescentando poderes excepcionais nas mãos daquele que não soube ou não quis usar os poderes normais de Presidente da República que lhe foram devolvidos em plebiscito realizado em janeiro deste ano.

O Estado de Sítio será o agravamento da inquietação e da desordem, ao provocar a inevitável reação conjunta da oposição democrática, dos sindicatos, e da Imprensa. Esta quer e vai continuar a ser livre para denunciar os desmandes e os erros e combater a desordem, como estamos agora livres e independentemente fazendo.

O Estado de Sítio será acusação de fraqueza atirada contra as Forças Aramadas que já demonstraram serem aptas e estarem prontas a reprimir a desordem dentro do regime legal normal, em obediência às leis vigentes, bastantes e suficientes para a defesa democrática. Só lhes resta, às Forças Armadas, receber de cima, do Presidente da República, a ordem de restabelecer a normalidade democrática e nacional.

As Forças Armadas estão alertas e prontas. Aguardam uma ordem de cima que já tarda, de seu Comandante em Chefe, nos termos da Constituição.

O limite de tempo começa a ser contado em horas. Daqui a pouco em minutos. Por que o Presidente da República vacila ainda em fazer o pronunciamento nacional que o País espera?

O País espera esse pronunciamento para já. Em cadeia nacional, de rádio e televisão. Pronunciamento que defina o Presidente, de uma vez por todas e até o fim de seu mandato, do lado da Lei. Pronunciamento que inclua a ordem que as Forças Armadas estão esperando ansiosas, como o País, de reprimir a desordem instalada pelas greves ilegais em território nacional.

Pronunciamento que assinale o início de novo rumo de Governo, capaz de inspirar confiança. Se ele não vier, se ele for protelado, para deteriorar ainda mais situação insuportável, então terá chegado o momento de falar mais alto o instinto nacional de conservação democrática. (JORNAL DO BRASIL N° 219, 19.09.1963)

Jornal do Brasil n° 221, Rio de Janeiro, RJ
Sábado, 21.09.1963
Cresce Apoio a Peri na Campanha Contra Cúpulas Sindicais

São Paulo (Sucursal) – Mais de mil pessoas estiveram ontem no QG do II Exército para demonstrar solidariedade ao General Peri Beviláqua, ora em choque com os sindicatos, aos quais dirigiu pesadas críticas através de nota de instrução aos seus comandados, nos quartéis.

O General Peri Beviláqua, em vários pronunciamentos dirigidos aos visitantes, reafirmou seus propósitos de não fugir ao juramento de soldado, e criticou violentamente os órgãos de cúpula do sindicalismo brasileiro, fazendo referência até ao uso de armas se necessário.

 Ovacionado

Estiveram no QG do II Exército, ontem, o Desembargador Joaquim de Silos Cintra, Presidente do Tribunal de Justiça; José Geraldo Rodrigues de Alkmin, Presidente do Tribunal de Alçada; Rafael de Barros Monteiro, Presidente do Tribunal Regional Eleitoral; Paulo de Almeida Barbosa, Presidente da Associação Comercial de São Paulo; José Adolfo Cordo, Presidente do Sindicato dos Bancos de São Paulo; José Ermírio de Morais Filho e Antônio Devisate, industriais; representantes da Associação Cristã de Moços; veteranos de 32 acompanhados por Guilherme de Almeida; Lions Club, Ação Cristã Brasileira, União Cívica Feminina, Rotary Club, Instituto de Engenharia, Grêmio da Faculdade de Direito Mackenzie, numerosos deputados e vereadores.

Várias vezes o Comandante do II Exército foi ovacionado pelos presentes, muitos dos quais, tomados de emoção, não conseguiram esconder as lágrimas. O General também estava bastante comovido, e mais de uma vez falou com a voz embargada.

Reafirmou o Gen Peri Beviláqua sua disposição de cooperar para manter dentro do País o respeito à Constituição, dever primordial do soldado. Disse que os interessados em subverter a ordem com greves esparsas, que buscam a greve geral, escudando-se ‘ em entidades espúrias como o Pacto de Unidade e Ação, Comando-Geral dos Trabalhadores, CNTI, Fórum Sindical de Debates e outros serão combatidos de todas as formas. Disse:

Em caso extremo e se necessário, os inimigos da democracia serão combatidos com as armas, cuja voz é argumento indiscutível.

 Não Quer Polêmica

O General Peri Beviláqua declarou ontem ao JB que não pretende polemizar com os dirigentes sindicais: sua posição sobre o movimento dos sargentos foi tomada com clareza e definição, não tendo motivo para:

Dar ouvidos aos elementos subversivos.

Criticou também os sargentos que insistem em levar adiante o problema da elegibilidade, já definido pela Justiça, tendo classificado como ato “condenável de indisciplina” o manifesto divulgado há dias a este respeito.

Não se Perturba

O Comandante do II Exército declarou que não pretende:

Descer para polemizar com dirigentes sindicais, claramente, classificados por mim na Instrução tornada pública.

Esclareceu o General Peri que não se perturba com os termos insultuosos empregados pelas dirigentes sindicais em notas e telegramas enviados ao Ministro da Guerra e ao Presidente da República. Sua posição foi tomada com clareza e definição:

Não darei ouvidos a elementos nitidamente subversivos e antidemocráticos.

Comentando o manifesto divulgado quinta-feira pelos sargentos de São Paulo, o Comandante do II Exército disse que o documento não é em nada construtivo.

Os sargentos continuam na mesma linha errada, na maneira de conduzir a questão já definida pela Justiça, exercendo pressão sabre o Congresso com o objetivo de intimidá-lo. Este novo manifesto é mais um ato condenável de indisciplina.

Ademar Apoia Peri

No entender do Sr. Ademar de Barros o Brasil está caminhando para a “autodestruição econômica, financeira, social e política”. O Governador fez essa observação ao reafirmar, em entrevista coletiva, o apoio total às ponderações do General Peri Beviláqua, Comandante do II Exército, a respeito do sindicalismo brasileiro. Afirmou o Governador:

Minha posição é de intransigente solidariedade ao General Peri. O que ele declarou considero a voz do bem, da razão e do patriotismo. Não vejo razão alguma em se querer refutar as palavras desse bravo soldado de Caxias, que colocou sua espada a serviço de uma Pátria livre e não à disposição de apátridas.

Finalizou o Sr. Ademar de Barros:

Nós, que somos conscientes de nossas liberdades e da importância das instituições, manteremos o princípio da hierarquia e respeito à Constituição. Aliás, o próprio Ministro da Guerra, General Jair Dantas Ribeiro, outra, coisa não tem feito senão procurar restabelecer esse princípio de autoridade, tão desprestigiado, bem como o da hierarquia e da disciplina.

Industriais com Peri

A recente nota de Instrução baixada pelo General Peri Constant Beviláqua e lida em todas as unidades do II Exército, perfilha as tradições do Exército Brasileiro e assume as características de pronunciamento, que transcende do campo institucional das Forças Armadas para sensibilizar a consciência dos brasileiros.

Declarou o Sr. José Ermírio de Morais Filho, Vice-Presidente em exercício da FIESP e do CIESP, durante a visita feita pela diretoria daquelas entidades ao Comandante do II Exército, na tarde de ontem.

Os diretores da FIESP e do CIESP e o Presidente da Associação Comercial de S. Paulo, acompanhados de representantes das classes produtoras paulistas, compareceram ao QG do II Exército a fim de hipotecar apoio e solidariedade dos homens de empresa de S. Paulo ao pronunciamento do Gen Peri Beviláqua, a propósito dos últimos acontecimentos político-militares. Prosseguindo, disse o Sr. José Ermírio de Morais Filho:

As entidades da indústria, preocupadas com a gravidade do momento nacional, sentem-se no dever de expressar a V. Exª suas congratulações pelo seu espirito patriótico, cujas palavras retemperam as nossas esperanças, no sentido de prosseguir, no campo da produção industrial, nas lutas para a grandeza e felicidade da Nação, sob a égide da lei e da ordem.

Depois das palavras do Sr. Mário Toledo de Morais, falou o General Peri Beviláqua, que reafirmou a sua disposição de zelar pelo cumprimento da ordem, disciplina e respeito à Constituição. Compareceram ao QG do II Exército, além dos que usaram da palitara, os Srs. Paulo de Almeida Barbosa, Manuel da Costa Santos, Nadir Dias de Figueiredo, Antônio Devisate, Jorge Duprat Figueiredo, Lélio Toledo Piza e Francisco da Silva Vilela.

Protesto

A Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de São Paulo enviou ontem telegrama de protesto ao General Peri Beviláqua pelos termos da Instrução baixada pelo Comandante do II Exército contra as organizações sindicais como o Pacto de Unidade Intersindical, CGT e Fórum Sindical.

O telegrama classifica de “caluniosos e agressivos” os termos da Instrução, e repele as “injúrias assacadas contra a dignidade do movimento sindical”. Reafirma o apoio do operariado às reivindicações dos sargentos e dos “deputados eleitos e não empossados” e ratifica sua disposição de luta “contra caducos privilégios”. (Jornal do Brasil n° 221, 21.09.1963)

Hiram Reis e Silva, Bagé, 09.12.2024, um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

– Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;   

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
  • Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
  • Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
  • Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
  • E-mail: [email protected]

FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor

Nota – A equipe do Ecoamazônia esclarece que o conteúdo e as opiniões expressas nas postagens são de responsabilidade do (s) autor (es) e não refletem, necessariamente, a opinião deste ‘site”, são postados em respeito a pluralidade de ideias