Os Yanomami estão se reerguendo, mesmo sob a sombra do garimpo e das facções criminosas que permanecem rondando o território. A recuperação se manifesta de muitas formas. Uma delas é a jornada de medicina espiritual conduzida durante a celebração de 20 anos da Hutukara Associação Yanomami (HAY). A entidade nasceu da luta do xamã e líder político Davi Kopenawa para proteger a maior terra indígena do Brasil, localizada entre o Amazonas e Roraima. Idealizada em uma assembleia na comunidade de Watoriki, a HAY se tornou uma referência na articulação política e na defesa dos povos Yanomami e Ye’kwana contra as ameaças de invasores. Em novembro, e 12 anos após o último encontro, os xamãs Yanomami se reuniram para um ritual de limpeza da Urihi-A, a terra-floresta. A Amazônia Real testemunhou essa festa.

Mulheres Yanomami se preparam para a celebração no Encontro do Xamãs na comunidade Yakeplaopi (Foto: Felipe Medeiros/Amazônia Real).

Palimiu (TI Yanomami) – A chegada de Davi Kopenawa foi um dos pontos altos das comemorações dos 20 anos da Hutukara Associação Yanomami (HAY), na manhã do dia 8 de novembro, na aldeia Yakeplaopi na região de Palimiu, no rio Uraricoera. O principal líder do povo Yanomami era aguardado por outras lideranças e por xamãs que vieram de diferentes comunidades da terra indígena no bacarrão de lona construído para recepcionar os visitantes. No local, as lideranças pintavam-se e enfeitavam-se com seus adornos para subirem jutos ao malocão. A presença de Davi era símbolo de resistência e inspiração

O líder e xamã indígena liderou a caminhada, observando a floresta exuberante e o seu povo. No meio do caminho, passaram por debaixo de uma mangueira atingida por tiros de garimpeiros. No malocão, as músicas e danças Yanomami intensificavam-se, com os indígenas trajando seus adornos e vestes completas. As mulheres substituíam algumas peças de roupa pela pintura de urucum e seus acessórios.

A comunidade Yanomami estava em festa. Davi e os convidados dançaram. Os não indígenas, presentes na celebração, tentavam acompanhar a energia – o que não era nada fácil. Os indígenas acordam muito cedo e nos dias de festejos pouco dormem. As crianças que ainda não andavam ficavam encostadas na parede do malocão, sob os olhares atentos dos irmãos mais velhos e dos idosos, que riam com alegria. “Aqui é minha casa”, ratificou Davi a uma profissional de enfermagem quando solicitado a apresentar o teste de Covid e fazer um outro para malária.

Davi Kopenawa é um líder singular. Mesmo com poder e influência mundial, mantém a humildade e a acessibilidade, tocando corações com sua essência Yanomami. Admirado por seu povo, Davi valoriza tanto as responsabilidades quanto os gestos simples, como distribuir camisetas e copos na festa, demonstrando naturalidade e conexão com seus parentes. Ele sempre ouvia seu povo atentamente, mesmo já conhecendo os impactos do garimpo em cada região. Para o líder Yanomami, era fundamental que todos se sentissem acolhidos, ouvidos e  fizessem parte de algo maior.

Pelos três dias seguintes, Davi participou de reuniões, conversou com os jovens comunicadores e relembrou a importância da união para enfrentar as ameaças externas. Ao ser questionado se o céu vai cair, numa alusão ao livro que escreveu com o antropólogo Bruce Albert, ele respondeu firme: “Não! Ya Temi Xoa!”. Em português: eu ainda estou vivo. “O povo Yanomami está vivo!”, acrescentou Kopenawa.

Por 

CONTEÚDO NA ÍNTEGRA DISPONÍVEL EMAMAZÔNIA REAL  – (VER GALERIA DE FOTOS)

FONTE: A retomada Yanomami – Amazônia Real

RELACIONADAS: