A flor das cinzas

Foto – Marquelino Santana

As cinzas parecem provocar toda uma agonia ao nosso ser, uma espécie de distanciamento e aversão à exaltação sublime da natureza encantadora. Mas há também, uma clarividente existência de uma flor que provoca um deslumbramento fascinante entre a benevolência humana e a suntuosidade inenarrável da natureza e toda sua exuberância cósmica que celebra o advento do bem viver.

Para Pablo Sólon – ativista ambiental boliviano – o objetivo do bem viver é a busca do equilíbrio entre os diferentes elementos que compõem o todo. É uma convivência harmônica não apenas entre seres humanos, mas também entre os humanos e a natureza, entre o material e o espiritual, entre o conhecimento e a sabedoria, entre diversas culturas e entre diferentes identidades e realidades vividas.

A ascensão das cinzas ecoa como uma adoção criminosa à xenofobia, como uma violação pugnaz ao sistema internacional de proteção aos direitos do homem e da natureza, e como uma subserviência tacanha e perniciosa que culmina com a obliteração martirizante dos povos da floresta. Estamos assistindo a um verdadeiro conciliábulo externo que coercitivamente surgiu para anunciar o malogro dos modos de vida ancestrais das minorias étnico-raciais marginalizadas da Amazônia brasileira.

O escritor Pablo Sólon nos diz que é preciso nos libertarmos das amarras das categorias coloniais que limitam a nossa imaginação. Para ele é necessário derrubarmos falsas barreiras entre a humanidade e a natureza, e dizermos em voz alta aquilo que pensamos, superando o medo de sermos diferentes e restaurando o equilíbrio dinâmico e contraditório que foi rompido por um sistema e um modo de pensar dominantes.

Derrubemos, portanto, o império das cinzas, e criemos como bem diz Pablo Sólon, um ponto-chave que promova “o encontro com nossas raízes, nossa identidade, nossa história e nossa dignidade”.

Por: Marquelino Santana

FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor

Nota – A equipe do Ecoamazônia esclarece que o conteúdo e as opiniões expressas nas postagens são de responsabilidade do (s) autor (es) e não refletem, necessariamente, a opinião deste ‘site”, são postados em respeito a pluralidade de ideias