Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência
Nos parece que Alto Comando do Exército Brasileiro está agindo de forma politicamente persecutória […]. Os Oficiais Superiores, que conduziram tanto a Sindicância quanto o IPM, possivelmente, ao que parece, estão dolosamente fazendo uma interpretação de um texto, ressalte-se, sem autoria comprovada, para justificar a narrativa de tentativa de golpe, e tentando usar os investigados como uma espécie de exemplo para a corporação.
(Advogado Felipe Trompowsky)
Não acredito nessa historinha de golpe. Golpe em que ninguém viu um soldado sequer na rua, um tiro, ninguém sendo preso. Alexandre de Moraes fica inventando narrativa com a Polícia Federal bastante criativa.
(Ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro)
Vai acabar não dando em nada.
(Gen Ex Augusto Heleno Ribeiro Pereira)
O crítico momento atual me fez engarupar na memória e relembrar alguns noticiários de outrora:
Jornal do Brasil n° 157, Rio de Janeiro, RJ
Dom. 07, e Segunda-Feira 08.07.1963
Carta ao Povo
(Carlos Lacerda)
Denuncio ao povo carioca e a todos os brasileiros a conspiração dos desonestos, dos incompetentes, dos comunistas e dos seus auxiliares contra o esforço e a integridade de um Governo honrado, o Governo da Guanabara. Enquanto a conspiração visava, apenas, à pessoa do Governador, preferi não responder, por serem tão falsas as acusações quanto os acusadores. Agora, o cerco ameaça a nossa obra de Governo. E isto, sim, é grave.
O único prejudicado será você, cidadão carioca. Depois, todos os brasileiros. Temos, pois, o dever de reagir. O que se procura é paralisar a administração, estadual. Não nos perdoam o trabalho, a honradez e o esforço em dar solução a problemas que há anos desafiam os administradores. O crescimento visível do Governo da Guanabara no conceito público é para certos grupos uma provocação permanente. Pelo contraste, somos um exemplo de que os problemas se resolvem, com tenacidade e esforço, num Governo honrado e eficiente. Num Governo que só tenha compromissos com o bem público. Num Governo verdadeiramente democrático. Não nos podem, pois, poupar os que pregam a subversão e promovem, ativa e passivamente, a desagregação da autoridade legítima, no Brasil. Desonestos e renegados, gente que nunca será capaz de dizer de onde lhes veio o dinheiro, filhos da ditadura e pais da podridão fantasiam-se de acusadores e até de moralistas, como se disfarçaram de democratas e nacionalistas para promover a desordem e trair a Nação.
O cerco se estreita. As provocações se sucedem, as agressões se multiplicam. Os ardis mais baixos, as manobras mais torpes, de tudo lançam mão os nossos inimigos, que o são do regime democrático. O Governo Federal se atira contra a Guanabara com o ímpeto de quem move uma guerra contra uma Nação inimiga. A Guanabara é um Estado sitiado. Os fatos se sucedem. Ontem deixava-se o povo carioca sem comida. O arroz desaparecia. As filas se formavam. O objetivo era encurralar o Governo do Estado. A vítima era você, cidadão carioca. Constantemente o Governo Federal procurava pretextos para intervir na Guanabara.
Apesar de tudo não nos desviamos do nosso caminho: provar ao povo que num Governo verdadeiramente democrático e verdadeiramente honra-o está a solução dos problemas brasileiros, para uma verdadeira reforma democrática.
As greves organizadas pelo Governo Federal tinham um objetivo: criar o caos na Guanabara para justificar a violência. Vencemos as greves oficiais, graças à sua compreensão, cidadão carioca de todas as classes, inclusive os trabalhadores livres, em todas as áreas da Cidade-Estado.
O Governo Federal ocupou a Cia. Telefônica Brasileira para impedir que a Guanabara desse solução ao problema dos telefones. As verbas federais destinadas, no Orçamento da União, ao Estado da Guanabara, são sistematicamente negadas. Nem como empréstimo nos é entregue o que o Congresso mandou dar ao povo carioca. As providências administrativas que reclamamos, sob mil pretextos são adiadas, quando não negadas. A vítima continua sendo você, cidadão carioca.
O cerco prossegue. A grita aumenta. Os pretextos se sucedem. A compra de geradores. A venda de terrenos da Avenida Getúlio Vargas. As contas do Governo. Os empréstimos externos. O comportamento político de alguns Ministros do Tribunal de Contas, politiqueiros conhecidos, que fazem qualquer papel para prosseguir a sua triste rotina. Ameaça de “impeachment”. A criação de uma Polícia Federal, de achaque e de assalto à autonomia dos Estados.
A tentativa de desmoralização cia COPEG, empresa estatal cujo êxito acentua o malogro de outras, na área federal. Outros pretextos virão. Pois, tudo terá de ser tentado, para paralisar a obra administrativa que estamos executando. A vítima continua sendo você, cidadão carioca.
O êxito da COPEG ressalta o fracasso do BNDE, entregue a uma administração trasviada. Por isso querem destruir a COPEG. Os incompetentes não conseguiram encontrar solução para a crise de energia que humilha o povo da Guanabara e ameaça de desemprego os trabalhadores do Rio. Encontramos a única solução que as circunstâncias permitem: a compra imediata de geradores para funcionamento a curto prazo. Aos inimigos do regime interessa o racionamento; não a normalização do fornecimento de energia. Tratam, por isto, de evitar a compra dos geradores. Não ousam agir publicamente, para o povo não perceber. Procuram, então, fazer escândalo em torno de uma compra honesta, legal e urgente. A vítima continua sendo você, cidadão carioca.
Mas os geradores virão e a crise será vencida. Mas a tentativa de nos fazer parar, pela desmoralização, pelo desânimo, continua.
Para obter recursos e acentuar o ritmo de execução das obras públicas teremos de vender pelo menos 2 bilhões de cruzeiros em terrenos da Avenida Getúlio Vargas, como nos assegura a lei. Para impedir que tenhamos tais recursos, mentem apregoando que não há autorização legal para tais vendas. Querem assustar os compradores. Querem fazer parar a nossa obra. O prejudicado continua sendo você, cidadão carioca.
Alguns Ministros do Tribunal de Contas participam do conluio, pois antes de juízes são políticos militantes, em plena campanha eleitoral. Não cumprem a Constituição do Estado e criam dificuldades para impor as suas facilidades. Como não damos sinecuras aos seus favoritos, nem permitimos o tráfico de influência, inventam irregularidades que não existem. E usando a máquina de propaganda montada pelos inconscientes, procuram reduzir-nos à inércia e, inutilmente, acovardar-nos.
O Governo da União, na ilusão de que a Guanabara vem executando obras somente com recursos obtidos de agências financeiras internacionais, não vacila em quebrar a autonomia estadual e desrespeitar frontalmente a Constituição, procurando impedir que os Estados e Municípios possam manter, com respeito à lei, contatos com esses organismos quatro projetos, dois dos quais já em final de estudo; aprovados pela Comissão Federal, estão em risco. O prejudicado continua sendo você, cidadão carioca.
A criação de uma Polícia Federal, provocadora, nos termos propostos pelo Governo Federal, e que se encontra em votação no Senado, significa a destruição do que ainda resta da autonomia estadual e municipal. Desde que seja para atingir a Guanabara nada importa, vale tudo. E quem paga é você, cidadão carioca.
O Governo da Guanabara conseguiu reanimar no povo a confiança no regime democrático. Os agentes da subversão procuram destruir, a qualquer preço, o Governo do Estado. Para que? Para destruir no povo a confiança no regime democrático, não no do roubo, não no do caudilhismo, não no do comunismo, não no da politicagem.
O mês de julho será decisivo. Pois, a partir de agosto, o Governo Federal terá que respeitar, ainda que não queira, a Constituição e as Leis. A partir de agosto qualquer crise institucional terá solução prevista na própria Constituição. Se o Presidente da República ameaçar as instituições, elas terão, a partir de agosto, como se defender legalmente. É por isto que, até lá, estamos ameaçados e ameaçados estão os cidadãos que querem paz e progresso, lei e liberdade.
Temos um compromisso de honra com a democracia e com você, cidadão carioca, vítima desarmada dos que pretendem esconder a sua incompetência e a sua desonestidade, agredindo o Governo da Guanabara. Porque defendemos, cidadão carioca, o seu direito de ter um governo livre, democrático, honrado e eficiente.
E porque defendemos, no exemplo da Guanabara, a esperança e a dignidade de todo o povo do Brasil.
Quer-se destruir, na semente lançada na generosa terra carioca, a esperança do povo brasileiro em melhores dias, de honradez e de trabalho, na vida pública. Estamos mostrando que só o trabalho honrado resolve os problemas. Por isto, é preciso destruir-nos. É preciso provocar a desmoralização do crédito do Estado, das nossas iniciativas, dos nossos esforços. Não dispomos de órgãos de pressão nem de um lado nem de outro. Não fazemos coletas de dinheiro da indústria e do comércio para plebiscitos. E o povo sabe disto.
Hoje, é preciso reagir. Estamos usando hoje o dinheiro do povo para alertar o povo, comprando espaço e tempo para este anúncio, a fim de barrar a tentativa de destruir a nossa administração. Porque essa obra não pode ser interrompida e tem que ser respeitada pelos gatunos, pelos comunistas, pelos politiqueiros, pelos incapazes.
Tenta-se abrir uma série de frentes para imobilizar e desacreditar o Governo da Guanabara. Com isto, também se visa a distrair a atenção do povo da inércia e da desordem administrativa no Governo Federal. É por isto que nos querem destruir. É por isto que temos de resistir, com a sua ajuda e a proteção de Deus. Nem uma nem outra nos têm faltado. E por isto, temos feito, apesar de tudo, muita coisa. Precisamos defender o que fazemos e o que ainda, juntos, podemos fazer. (JORNAL DO BRASIL N° 157, 08.07.1963)
Hiram Reis e Silva, Bagé, 27.11.2024 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
– Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
- Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
- Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
- Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
- E-mail: [email protected]
FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor
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