Prêmio Nansen: “todas as pessoas têm dignidade”, afirma Irmã Rosita Milesi

Ao falar sobre os desafios e dificuldades enfrentados no trabalho missionário junto aos migrantes e refugiados, Irmã Rosita, ganhador do Prêmio Nansen, afirmou que “uma dificuldade, grande ou pequena, ou um desafio, ou mesmo, passar por uma experiência negativa, por um fracasso, tudo isto é aprendizado”.

Irmã Rosita Milesi -Imagem postada em:   VATICAN NEWS

Para quem conhece de perto Irmã Rosita Milesi sabe que de fato, dignidade humana é o motor que a faz mover céus e terra em favor dos migrantes e refugiados. Como ela mesma afirma, “independente de cor, nacionalidade e condição social ou econômica, todas as pessoas são portadoras de dignidade”.

A luta incansável em defesa dos Direitos Humanos  das pessoas em situação de vulnerabilidade e de maneira especial dos migrantes e refugiados, leva Rosita Milesi ao Podium na cidade de Genebra, Suíça, para ser reconhecida em âmbito global com o Prêmio Nansen, que será entregue no próximo dia 14 de outubro.

Ao falar sobre o significado da premiação em entrevista exclusiva à Rádio Vaticano, Irmã Rosita diz se sentir honrada e agradecida por esta distinção, a qual sinaliza, segundo ela um reconhecimento que não decorre só do seu trabalho, pois é o resultado de muitas forças e atores. “milhares de refugiados e refugiadas que conheci e ajudei ao longo de minha vida, de inumeráveis colaboradores, de órgãos públicos e organizações que confiaram em mim e que me apoiaram, dando-me lições de esperança nos caminhos compartilhados”.

A missão

Natural de Farroupilha, RS e pertencente à Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo Scalabrinianas, Irmã Rosita Milesi, se dedicou à educação por 10 anos, colaborou na construção do Hospital Mãe de Deus, de Porto Alegre. Ao final dos anos 70, quando a Congregação decidiu retomar sua missão específica de atenção e serviço evangélico aos migrantes e refugiados, foi convidada pela instituição a estudar em Roma  no período de 1986 a 1988 para implementar o Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios (CSEM), no Brasil. “Minha dedicação foi total ao tema, pensando na missão junto e a favor dos migrantes e refugiados”, conta.

Neste período Rosita criou o Departamento de Direito e Cidadania, especificamente para atendimento aos migrantes e refugiados que necessitassem de apoio para a questão documental e jurídica. “Com o passar do tempo, este serviço se tornou muito grande e foi necessário criar uma instituição específica para este fim. Foi ali que decidi procurar ajuda e amigos para criar o Instituto Migrações e Direitos Humanos (inicialmente ISMI e logo em seguida adotou-se a denominação imdh)”, acrescenta.

A Declaração de Cartagena

Sobre a Declaração de Cartagena que completa este ano 40 anos, Irmã Rosita destaca a sua importância na ampliação normativa da proteção internacional dos direitos humanos dos refugiados. “No caso da migração venezuelana e outras migrações se tornou uma importante via de acesso à documentação quando as pessoas não se consideravam simplesmente ‘migrantes’. Numa palavra é um importante instrumento normativo diante de fluxos mistos e a crescente complexidade do fenômeno migratório e de suas causas”, enfatizou.

Desafios e dificuldades

Ao falar sobre os desafios e dificuldades enfrentados no trabalho missionário junto aos migrantes e refugiados, Irmã Rosita, afirmou que “uma dificuldade, grande ou pequena, ou um desafio, ou mesmo, passar por uma experiência negativa, por um fracasso, tudo isto é aprendizado. Quando saímos de uma situação difícil, complexa ou mesmo frustrante, somos mais fortes do que o momento em que tivemos que enfrentar aquele desafio”. Um dos maiores desafios, relata, “foi prestar assistência a estrangeiros presos, ver as difíceis situações em que se encontravam e respeitar ou encontrar uma solução viável, minimamente razoável, frente às duras regras de assistência num cárcere, local de sofrimentos e de sérias violações de direitos”. Comprometer-se com a causa que se assume, não se deixar abater, resiliência, buscar sempre uma solução para qualquer dificuldade, sendo transparente/ e buscar dialogar, sem renunciar ao fim principal são, segundo a laureada, algumas razões do sucesso no trabalho junto aos migrantes e refugiados.

A inspiração

A missionária revela que sua maior fonte de inspiração vem do histórico da Congregação e do fundador São João Batista Scalabrini e co-fundadores, a bem-aventurada Assunta Marchetti e venerável Padre José Marchetti. “Uma vez que havia decidido pertencer à Congregação das Scalabrinianas, a opção e o rumo da minha vida seriam a fidelidade, o empenho para corresponder àquilo que sempre entendi como um chamado de Deus, enfatiza”.

“Partir do princípio que todas as pessoas são portadoras de dignidade”

Ainda questionada sobre lições aprendidas a compartilhar com governos e instituições em vista da eficácia na defesa dos direitos e interesses dos refugiados, Irmã Rosita destacou a importância de optar sempre pela busca de soluções dialogadas, envolvendo os atores que têm responsabilidade ou atuação na causa; levar aos órgãos públicos e outras instituições participantes em qualquer causa / argumentos claros, transparentes sobre a dimensão positiva, humana, humanitária que o tema envolve; partir do princípio da dignidade que todas as pessoas são portadoras, independentemente do local de nascimento, da cor, e da posição social ou econômica.

Para Irmã Rosita, o que mais lhe dá satisfação no trabalho “é ver as pessoas refugiadas em condições de retomar uma trajetória de vida em segurança /  e com o apoio necessário para viver em condições de dignidade humana”.

O Brasil é reconhecido por suas políticas e atitudes inclusivas em relação aos refugiados. De acordo com Irmã Rosita, uma das razões, é o diálogo entre poder público e sociedade civil que foi algo constante nestes anos. As legislações são de vanguarda e garantistas, mas a implementação ainda está distante. O discurso é de garantia, mas existe ainda bastante precariedade. Há uma legislação garantista, mas as instituições ainda operam numa lógica anterior (por ex, o visto humanitário para afegãos, política migratória…). As instituições ainda não operam para concretizar os princípios das normas.

A entrega do Prêmio Nansen será realizada em 14 de outubro, em Genebra, na Suíça.  Foram laureadas e receberão o prêmio outras quatro mulheres: a ativista de Burkina Fasso Maimouna Ba (África), a empreendedora síria Jin Davod (Europa), a refugiada sudanesa Nada Fadol (Oriente Médio e Norte da África) e a ativista nepalesa Deepti Gurung (Ásia-Pacífico).

Por: Rosa Martins – Publicado por: Vatican News – Prêmio Nansen: “todas as pessoas têm dignidade”, afirma Irmã Rosita Milesi – Vatican News 

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