A terceira mesa redonda do 1º Congresso Panamazônico dos Professores de Língua, Linguagem e Literatura da Educação Básica (1º Cllimaz) e do 2º Encontro dos Egressos do Profletras da Universidade Federal do Pará (2º Letrasvivaz) reuniu no último dia 26 de setembro, quinta-feira, pela parte da manhã, no Centro de Eventos Benedito Nunes, o líder indígena Gersem Baniwa, antropólogo e professor da Universidade de Brasília (UNB), e o professor José Manuyama Ahuite, educador e ativista ambiental peruano do povo Kukuma. Ambos debateram a temática Não tem terra sem gente, Não tem gente sem terra. A mediação foi do professor João Colares, Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará (PPGED/UEPA), e a interpretação da professora Gracinéa dos Santos Araújo, da Universidade Federal do Pará, Campus Castanhal.
Em sua fala José Manuyama Ahuite, educador e ativista ambiental peruano do povo Kukuma, que integra o Comitê de Defesa da Água, na cidade de Iquitos, disse que conheceu Ailton Krenak, com quem compartilha o documentário Pisar Suavemente na Terra. “Posso dizer que o povo Kukuma é parte do documentário. Assim conheci o Krenak e isso me traz aqui em Belém. É um imenso orgulho participar do Congresso Panamazônico dos Professores de Língua, Linguagem e Literatura da Educação Básica que debate Ensinos e saberes das linguagens na Amazônia: entre Vozes que gritam e a floresta que se levanta. Sou educador da área de Ciências Sociais. Há mais de 10 anos trabalho com ativismo ambiental, cultural e atuo no Comitê de Defesa da Água no meu país”, relatou.
O ativista ambiental explicou que quando se fala luta em defesa da água e do desenvolvimento local, sempre haverá conflitos ambientais com a mineração, o narcotráfico, a indústria do petróleo, o setor madeireiro e onde as demais vertentes do capital predador estiverem atuando. “É essa luta que travamos em defesa da água, um direito constitucional, junto com os companheiros lá em Quito. Colocamos o processo de conscientização em prática desde a moradia das famílias e a partir dos primeiros anos da educação em sala de aula para garantir o bem viver”, assinala.
A liderança detalha que hoje tudo está em rede. “Não se pode começar nem muito tarde, nem muito cedo. Temos que nos unirmos com uma educação forte e politizadora para formar um novo aluno cidadão crítico, menos materialista, mais social e mais respeitoso com a natureza e com a Amazônia. O planeta e a vida na terra estão caindo. Precisamos de uma educação ativa, da escola estruturada, da boa política, dos escritores e da literatura comprometida com as lutas e a defesa da vida e da natureza”, enfatizou.
Manuyama alerta, com um olhar de resistência, e conclama os professores da educação básica a lutar para construção de um novo aluno e uma nova aluna para uma nova sociedade. “A nova sociedade é um fruto coletivo da escola e da comunidade. A educação social transformadora sai da sala de aula, da família, das ruas, dos protestos e das ações políticas nos parlamentos. Está tudo articulado. A revolução não se forma em um dia. A história é assim. Chega um momento em que colapsa algo, como está acontecendo com o planeta. Não temos tempo, pois ele está cada vez mais curto. Temos que transitar para uma nova forma de viver em sociedade e que não seja destrutiva”, alertou.
Pisar Suavemente na Terra- O documentário do diretor Marcos Colón mostra a Amazônia em sua forma mais bela, mas também ameaçada por conflitos, venceu o prêmio de Melhor Fotografia do 12º Filmeambiente, no Rio de Janeiro. Nele, lideranças indígenas da Amazônia brasileira procuram manter vivas suas formas de estar no mundo e narram as ameaças que seus territórios sofrem por meio da atuação do capital transnacional. O diretor retrata a historia de Kátia, Cacica do povo Akrãtikatêjê, de Manoel, cacique o povo Munduruku, e de José Manuyama, professor de origem Kokama, que nos concedeu a entrevista acima.
No documentário, eles narram as ameaças pelo grande mineração, pelo monocultivo, pelo garimpo, pela exploração de petróleo, pela extração de madeira e pela construção de usinas hidrelétricas. Interligados pela voz e o pensamento ancestral de Ailton Krenak, esses relatos de resistência nos apresentam outras formas de existir e caminhar no mundo.
Para Marcos Cunha, presidente do Cllimaz e do Letrasvivaz, os enfrentamentos a estes conflitos partem, também, de uma ampla atuação da educação básica, a partir da sala de aula, e as vivências compartilhadas nas inúmeras comunidades urbanas, periurbanas ribeirinhas, quilombolas e junto aos demais povos das florestas. “O 1º Cllimaz e o 2º Letrasvivaz são movimentos lançados e que ultrapassam os muros das academias e das escolas públicas para ganhar a consciência social dos discentes por terra, água e ar em defesa da natureza e do planeta”, assevera.
Texto: Kid Reis – Ascom UFPA ProfLetras Norte – Fotos: Fernando Maués e Kid Reis.
FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor
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