Experiências do Sítio-Escola de Arqueologia em Barcarena, Pará

Projeto promoveu trocas científicas e interculturais entre pesquisadores, estudantes e moradores do Sambaqui Jacarequara na Ilha de Trambioca, cuja ocupação tem 2.700 anos.

Imagem postada em: Museu Goeldi

Agência Museu Goeldi – Entre julho e agosto de 2024, a comunidade do sítio arqueológico Sambaqui Jacarequara, na Ilha de Trambioca, em Barcarena-PA, recebeu pesquisadores e estudantes para vivenciarem juntos o trabalho de campo desenvolvido no projeto Sítio-Escola de Arqueologia, promovido pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), que neste ano, contou com a parceria da Universidade Federal do Pará (UFPA). A experiência contou também com a adesão da École du Louvre (França) e da Universidade Estadual do Tennessee (EUA).

Para os estudantes, o projeto sítio-escola significa uma experiência prática dos métodos de pesquisa arqueológica ensinados e discutidos em sala de aula. Escavações e resgate de materiais arqueológicos foram algumas das atividades realizadas e que fizeram parte deste importante processo de aprendizado e compreensão da formação histórica da comunidade do Jacarequara.

A mestranda do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Sociocultural, do Museu Goeldi, Helen Miranda, destaca o valor da vivência na sua formação. “É muito importante para que a gente entenda melhor os processos que antecedem o trabalho de laboratório. Também é uma experiência muito imersiva e a gente consegue ver na prática tudo aquilo que nós aprendemos e lemos em sala de aula. Um dos pontos interessantes que eu consegui destacar bastante nesse sítio é ver a comunidade visitando, conversando e convivendo diariamente com a gente e dá para sentir todo o carinho e hospitalidade que as pessoas da Ilha de Trambioca tem com a gente. Então isso foi uma experiência muito interessante, muito boa para mim e espero poder viver isso em outro sítios-escola futuros”.

A idealizadora do programa é a curadora da Coleção Arqueológica do MPEG, Helena Pinto Lima, que destaca o histórico do projeto realizado na instituição. “No Museu Goeldi, fazemos sítios-escola desde 2014 e já levamos muitos estudantes paraenses e de outras partes do Brasil, dos Estados Unidos e até da Coréia do Sul em locais do Pará, como Gurupá, Caxiuanã e agora em Barcarena”, relata Helena, que também é professora na Pós em Diversidade Sociocultural.

A novidade este ano foi a parceria entre o Programa de Pós-Graduação em Sociodiversidade do Museu Goeldi (PPGDS/MPEG) e o Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Pará (PPGA/UFPA), que juntos ofertaram a disciplina Métodos e técnicas de investigação em Arqueologia. As professoras da disciplina, Helena Lima (PPGDS/MPEG) e Daiana Travassos Alves (PPGA/UFPA) revelam que já passaram pela experiência de sítio-escola durante a formação como arqueólogas e viram uma nova oportunidade de valorizar esse momento prático. “Além disso, consideramos relevante trazer os estudantes para contato com as comunidades do interior da Amazônia que vivem em áreas com sítios arqueológicos”, comenta Helena Lima.

Também participaram do projeto, alunos da École du Louvre/França, da graduação em Arqueologia da Universidade Estadual do Tennessee (EUA), alunos de graduação dos cursos de Conservação e Restauro e de Geografia, ambos da UFPA, professores do ensino básico do Estado do Pará e alunos do ensino médio de Belém, reunindo ao todo 35 participantes.

Educação Patrimonial – O projeto sítio-escola alia o tripé de formação em pesquisa, ensino e extensão em torno do patrimônio ou herança arqueológica, que faz parte do conjunto de bens culturais produzidos pelos seres humanos e cuja preservação e proteção são garantidos pela legislação brasileira. No âmbito da Educação Patrimonial, foi feito um diálogo inicial com professores da escola local e da Secretaria de Educação do município de Barcarena para apresentação das atividades.

Além de pesquisadores, professores e alunos, a comunidade do Sambaqui Jacarequara também participou ativamente das ações do sítio-escola, principalmente das escavações. “Experiências como esta, ainda que breves, podem marcar a vida de jovens e crianças, que devem se sensibilizar quanto ao potencial deste patrimônio, e eventualmente se interessarem por seu estudo mais aprofundado no futuro”, ressalta Helena Lima.

Sambaqui Jacarequara – Desde 2012, pesquisadores do Museu Goeldi vêm estudando a região do Sambaqui Jacarequara. Dados presentes nesses estudos indicam que a ocupação iniciou há 2.700 anos. Os sambaquis são sítios arqueológicos cuja estrutura é formada por grandes acumulações de conchas, restos de alimentos, ossos, terra preta, cerâmicas, sementes, objetos de pedra, carvão e outros artefatos. Estes lugares são ricos marcadores de territorialidades e o estudo dos sambaquis é importante para entender a vida, a organização social e as práticas culturais das populações antigas que viveram naquela região.

Nas novas escavações realizadas foram identificados grandes quantidades de animais, como veados, preguiça, guariba, porco-do-mato, anta, tracajás e uma enorme variedade de peixes. “Estamos aprendendo que os antigos habitantes do Jacarequara tinham uma alimentação muito variada e que construíram o território que hoje configura a comunidade, cujos moradores têm interesse na pesquisa e se orgulham da sua história”, revela a pesquisadora Helena Lima.

A região do sambaqui Jacarequara também é campo de estudo do projeto Florestas Culturais e Territorialidades na Amazônia oriental pré-colonial, financiado pelo CNPq e sob coordenação da Dra. Daiana Travassos Alves (PPGA/UFPA), Dra. Helena Lima (PPGDS/MPEG) e Dr. Pedro José Tótora da Gloria (PPGA/UFPA).

Após o período de pesquisa de campo, os pesquisadores e estudantes vão analisar no Museu Goeldi os materiais coletados. Os resultados vão servir de base para novos estudos, incluindo um futuro mestrado, e ações de educação patrimonial voltadas para a comunidade. O sítio-escola de Arqueologia proporcionou uma experiência científica, intercultural e imersiva para todos os envolvidos.

“Essa troca cultural, essa interação com a comunidade do entorno, possibilita ver a relação que os moradores têm com os vestígios desse passado; mostrar como a arqueologia trabalha; para a comunidade saber como é o trabalho do arqueólogo; interagir com alunos de outros países; ter troca cultural, troca de saberes de conhecimento e poder aprender muito mais”, explica a mestranda em Diversidade Sociocultural (Museu Goeldi), Jessica Paiva, que encerra o relato pontuando: “Foi uma experiência magnífica”.

Os pesquisadores preveem um retorno à comunidade do Sambaqui Jacarequara com o objetivo de realizar uma devolutiva para a escola local e seguir dialogando com os professores da Ilha de Trambioca, assim que as análises iniciais estiverem concluídas.

Texto: Denise Salomão / Edição: Joice Santos – Experiências do Sítio-Escola de Arqueologia em Barcarena, Pará — Museu Paraense Emílio Goeldi (www.gov.br)