Levantamento do Greenpeace Brasil mostra que atividade ilegal extrapola territórios indígenas e já devastou 13 mil hectares em 15 Unidades de Conservação da Amazônia.

Sobrevoo do Greenpeace Brasil no Parque Nacional dos Campos Amazônicos (AM) em julho de 2024 | Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

Um levantamento inédito do Greenpeace Brasil mostra que, além das terras indígenas, o garimpo ilegal ameaça um importante patrimônio natural brasileiro: as Unidades de Conservação (UCs) da Amazônia. A organização identificou atividade garimpeira em 15 UCs em três estados do bioma, Amapá, Amazonas e Pará, com uma área total devastada de 13.484 hectares.

O novo levantamento sobre garimpo é publicado neste 5 de setembro, Dia da Amazônia.

“O garimpo tem sido um dos principais vetores de destruição da Amazônia. Com este novo levantamento, o Greenpeace alerta que não são apenas as Terras Indígenas que são devoradas pelo garimpo, mas também as Unidades de Conservação. O enfraquecimento da fiscalização e o afrouxamento de leis ambientais, ocorridos durante o governo Bolsonaro, assim como o aumento do preço do ouro no mercado externo, fizeram com que os números relativos a essa atividade crescessem exponencialmente, piorando um cenário que já era muito complexo no bioma”, explica o porta-voz da frente de Povos Indígenas do Greenpeace Brasil, Jorge Eduardo Dantas.

Floresta Nacional do Amanã, que fica na divisa entre o Amazonas e o Pará, é a UC com a maior área destruída por garimpo ilegal na Amazônia. Nesta UC, o Greenpeace Brasil identificou 6,8 mil hectares de garimpo – quase metade da área total de garimpo identificado dentro de UCs. “Amanã” é um termo de origem indígena que significa “água que vem do céu”. O rio, de mesmo nome, o mais importante daquela Floresta Nacional, possui 156 quilômetros – desses, 56 km já foram afetados pelo garimpo, sem contar seus afluentes.

A segunda posição é da Floresta Nacional (Flona) de Urupadi, no sul do Amazonas. A Flona sofre com o garimpo ilegal desde 1985, quando foram identificados 162 hectares da atividade ilegal em seu interior. Em 2016, quando a Floresta Nacional foi criada, o tamanho da área devastada por garimpo já era de 303 hectares. Em 2024, o levantamento do Greenpeace encontrou 2.603 hectares de atividade garimpeira – um aumento de 759% em menos de 8 anos.

O Greenpeace também analisou os pedidos de Permissão de Lavra Garimpeira (PLG) disponibilizados pela Agência Nacional de Mineração (ANM) dentro da UC. Foi feita a intersecção da área de garimpo com a área da PLG, e verificou-se que de 120 pedidos dentro da UC, 43 PLGs em diferentes fases estão sobrepostas à área de garimpo na UC.

Apesar da atividade garimpeira ser permitida em certas zonas da Floresta Nacional do Urupadi, o Plano de Manejo Florestal da Flona não foi localizado, o que seria de suma importância para verificar se os limites da exploração estão sendo respeitados.

Localização das Unidades de Conservação com registro de atividade garimpeira.

Fonte: Mapeamento de pesquisa Greenpeace Brasil /2024

As 15 UCs identificadas pelo Greenpeace Brasil devastadas com garimpo

A explosão do garimpo em Alto Maués e nos Campos Amazônicos

Das áreas analisadas pelo Greenpeace, duas delas chamaram atenção por conta do avanço recente do garimpo em seu interior: a Estação Ecológica do Alto Maués; e o Parque Nacional dos Campos Amazônicos, que protege, dentro da floresta amazônica, uma área de savana muito distinta e particular.

“O levantamento mostra que a atividade garimpeira teve um movimento migratório nos últimos anos, saindo do sentido leste para o sudoeste da Amazônia, mais precisamente, saindo do Pará e indo em direção ao Amazonas. Os impactos dessa migração já são vistos nos rios Tapajós, Jamanxim, Anamã e Parauari. Entre as áreas analisadas, uma delas nos chamou a atenção pelo grande e rápido crescimento do garimpo: a Estação Ecológica do Alto Maués, no município de Maués, Sul do Amazonas”, explica Dantas.

Na Estação Ecológica do Alto Maués, as primeiras cicatrizes de atividade garimpeira apareceram em 2020, com 60 hectares de garimpo. Em 2023, esse número saltou para 178 hectares; em 2024, ele chegou a 313 hectares acumulados somente até o mês de julho – um aumento de 421% em quatro anos. A área devastada pelo garimpo dentro desta área protegida é, aproximadamente, duas vezes o tamanho do Parque Ibirapuera, de São Paulo (SP).

Ainda sobre a Estação Ecológica do Alto Maués, o garimpo se concentra na região sudeste, principalmente nos afluentes do rio Parauari. Também foi possível observar duas pistas de pouso ativas dentro da unidade de conservação.

Em relação ao Parque Nacional dos Campos Amazônicos, situado entre os estados do Amazonas, Mato Grosso e Rondônia, foi observado em 29 de janeiro de 2023 duas aberturas relativas à atividade garimpeira e o incremento de um ramal. Um segundo conjunto de alertas apareceu em fevereiro de 2023. O tamanho da área devastada associada ao garimpo dentro daquela Unidade de Conservação hoje é de 123 hectares. Além do garimpo, os Campos Amazônicos sofrem com desmatamento para transformação em pastagens ilegais, incêndios florestais e roubo de madeira.

Em 2021 a equipe do Greenpeace Brasil realizou um sobrevoo no PARNA, naquele ano a unidade de conservação estava sofrendo com  invasões que resultaram em desmatamento para pastagens ilegais, incêndios florestais e roubo de madeira, em julho/2024 a equipe voltou a sobrevoar a UC e comprovou o que já era observado em imagens de satélite: rios assoreados e perda da cobertura florestal.

Fonte: Imagens do sobrevoo. Fotos: Marizilda Cruppe/Greenpeace Brasil

Metodologia

A análise excluiu a categoria Área de Proteção Ambiental (APA). Considerou-se garimpo ilegal toda extração mineral realizada dentro de Unidades de Proteção Integral e de Uso Sustentável que não possuísse autorização no respectivo plano de manejo.

A análise do garimpo dentro das Unidades de Conservação foi realizada utilizando imagens de satélite do sistema Planet Lab e Sentinel -2. Foram utilizadas ainda alertas do Papa Alpha, ferramenta própria do Greenpeace, que utiliza os sensores GLAD (Global Analysis and Discovery). Sensores RADD (Radar para Detecção de Desflorestamento) foram empregados para analisar áreas com muita cobertura de nuvens. Além disso, o Greenpeace realizou um sobrevoo no Parque Nacional dos Campos Amazônicos e Parque Nacional Mapinguari para registrar in loco essas atividades.

As Unidades de Conservação são áreas protegidas, estabelecidas pelo poder público, que tem como objetivo proteger a biodiversidade, os recursos naturais e os ecossistemas brasileiros. Elas têm papel fundamental na mitigação dos impactos causados pela crise climática e na educação ambiental.

Junto às Terras Indígenas e Territórios Quilombolas, as Unidades de Conservação são ferramentas importantíssimas de conservação da natureza, de manutenção da vida de povos e comunidades tradicionais e enfrentamento da crise climática.

Terras Indígenas

Um levantamento anterior feito pelo Greenpeace Brasil mostrou que garimpeiros ilegais continuam abrindo novas áreas de exploração nas Terras Indígenas Kayapó, Munduruku e Yanomami: foram 417 hectares abertos entre janeiro e junho de 2024 – uma área equivalente a 584 campos de futebol.

Recentemente, a organização ambiental também identificou a volta de garimpeiros à Terra Indígena Sararé. A partir de dados do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi constatado o aumento de alertas de garimpo na região, registradas em primeira mão por fotografias durante sobrevoo.

Sobre o Greenpeace Brasil

O Greenpeace Brasil é uma organização ativista ambiental sem fins lucrativos, que atua desde 1992 na defesa do meio ambiente. Ao lado de todas as pessoas que buscam um mundo mais verde, justo e pacífico, a organização atua há 30 anos pela defesa do meio ambiente denunciando e confrontando governos, empresas e projetos que incentivam a destruição das florestas.

FONTE: Greenpeace Brasil

FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor

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