Políticas de Formação de Leitores no Brasil, na Amazônia: da literatura ao humanismo. Este foi tema da conferência que a professora doutora Eliana Lucia Madureira Yunes (foto), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), realizou hoje, 25 de setembro, a partir das 9 horas, no Centro de Eventos Benedito Nunes, durante o segundo dia do Congresso Panamazônico dos Professores de Língua, Linguagem e Literatura da Educação Básica e do Encontro dos Egressos do ProfLetras da Universidade Federal do Pará.
A professora detalhou disse que avaliar se o Brasil tem uma população que lê, é necessário um olhar crítico e depende da perspectiva do que se olha o que seja leitura. “Se pensar na leitura do livro, você vê que ele tem uma experiência aparentemente rarefeita. Por quê? Não há o hábito familiar ou o hábito social de aquisição de livro, o que reflete, por exemplo, no número pequeno de livrarias no Brasil”. Conforme dados do Anuário Nacional de Livrarias de 2023, o país tem 2.972 livrarias e 25 milhões de consumidores de livro, refletiu Eliana, ressaltando que as estatísticas não são tão realistas como acontece no país, pois refletem o ponto de vista dos editores.
Por outro lado, prossegue a professora, as pessoas leem muito livro emprestado. “Eu tenho um grupo que fazemos a troca de livro. Lemos em rodízio. Então acho que se lê mais do que as estatísticas mercadológicas apontam. Elas são inferiores à realidade Mas de outra perspectiva e por outro lado, o brasileiro lê muito. Na internet não se faz nada sem ler. Durante a pandemia da Covid-19, a Cátedra UNESCO de Leitura fez uma pesquisa sobre o que estava acontecendo sobre a leitura na internet. Foram constatados mais de 1.200 projetos ativos de promoção de leitura, de debate, de escolha de livros, de poesia, de música dentro desse acervo de experiências de leitura no Brasil. As estatísticas não são tão confiáveis”, asseverou.
Eliana detalha, ainda, que ler é uma condição e uma exigência para estar no mundo e poder entendê-lo. “Nós lemos muitas linguagens. Você lê o comportamento das pessoas, o modo como elas se vestem, o clima, você lê tudo isso, mas em geral as pessoas não se dão conta de que estão lendo. Outra coisa é ler uma ficção, literatura, poesia e o cinema, além de ler uma exposição de arte e a arquitetura de uma cidade. Essa é leitura é artística, mas é efetiva”.
A professora fez ponderações construtivas a partir da importância da leitura e da literatura para quem trabalha a educação básica. “Eu tenho dito em outros lugares do Brasil e vou repetir aqui. O conteúdo da educação básica, principalmente até o quinto ano, é inócuo. É necessário fazer muita leitura desde a pré-escola, quando se conta histórias e temos a narrativa da oralidade. Assim como a gente aprende a caminhar caminhando, a gente aprende a ler, lendo. A leitura não é decifração de signos, mas compreensão destes sentidos. Os meninos e as meninas entram na escola básica para aprender a gramática, o plural, os coletivos e vários outros conteúdos” disse.
No entanto, ela ressalta que eles precisam, também, “é aprender a pensar e falar. Ouvir e dialogar para agir como cidadãos na sociedade. Se ele não souber ouvir, ler, falar e dialogar, ele não vai saber agir. A condição última da leitura é a reação. Depois de ler o que eu faço? E o que eu faço é agir no meio da coletividade em defesa de uma sociedade mais justa, sustentável e cidadã”, asseverou.
Para o estudante haitiano de mestrado em Ciências da Educação da Universidade Federal do Pará, Milius Gurrier (foto), “a leitura é parte integrante de um direito fundamental do ser humano, que é a educação básica, como pilar da cidadania e da participação social que vou praticar quando voltar ao meu país”. Para Jennifer Quintanilha (foto), estudante de Licenciatura em Letras na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), os eventos reforçam a importância da prática da oralidade e da formação profissional, para além dos interesses do mercado. “Para virar esta chave, os eventos deveriam, também, ser abertos e pensados para a participação dos alunos do ensino médio e fundamental, permitindo assim uma maior apropriação de conhecimentos e de cidadania”, sugeriu.
O Congresso Panamazônico dos Professores de Língua, Linguagem e Literatura da Educação Básica e o Encontro dos Egressos do ProfLetras da Universidade Federal do Pará prossegue amanhã, 26, a partir das 8:30hs, no Centro de Eventos Benedito Nunes, com a mesa redonda envolvendo os professores Gersem Baniwa, da Universidade de Brasília (UnB), e o professor peruano José Manuyama Ahuite, que debaterão a temática Não tem terra sem gente, Não tem gente sem terra. A mesa será mediada pela professora Gracinéa dos Santos Araújo, da Universidade Federal de Castanhal.
Texto e fotos: Kid Reis – Ascom UFPA ProfLetras Norte.
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