Unidade passou por várias melhorias como implantação de sala de vacina, reabertura da Sala da Saúde da Mulher e da Criança e ampliação do refeitório
A Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) Yanomami, em Boa Vista, passou por ampla reforma e reestruturação dos serviços nos últimos meses, otimizando processos e atendimentos que resultaram em melhorias significativas para os pacientes, como a redução no tempo de permanência e internações. É o que afirmam a médica Ana Paula Pina e a enfermeira Luciana Márcia, responsáveis pela saúde da mulher e da criança na unidade.
Uma das salas mais movimentadas nas instalações da Casai é a Sala da Saúde da Mulher e da Criança. O espaço que esteve fechado por anos foi reaberto sob a supervisão de Luciana Márcia, e nele foram incrementados diversos serviços de atendimentos nos últimos meses, como pré-natal, pré-natal de alto risco, consultas e exames ginecológicos, puericultura, entre outros.
“Sem dúvida um dos maiores ganhos para a saúde das mulheres e das crianças Yanomami foi essa sala. Aqui, diariamente são feitos atendimentos de consultas e exames, investigação e rastreamento de sintomas e doenças desde os mais comuns até de câncer de colo do útero, por exemplo, e feitos os encaminhamentos necessários para os hospitais parceiros, quando preciso”, explica Luciana.
Com ações e fluxos estabelecidos para atendimento das mulheres que vem do parto em maternidades ou mesmo no território, foi possível reduzir também as internações hospitalares no puerpério. “Elas vêm da maternidade às vezes com alguma dor em baixo ventre, com infecção urinária, e aqui na Casai a gente já detecta e trata, evitando que elas voltem para mais uma internação hospitalar”, conta a enfermeira.
Ações de prevenção e educação em saúde também fazem parte da rotina da Sala de Saúde da Mulher e da Criança. A equipe realiza rodas de conversa com as mulheres, ouvindo suas necessidades e dúvidas, conscientizando acerca de doenças e da importância dos exames preventivos.
Um cuidado relevante que a Sala aplica às pacientes indígenas é também o de explicar em detalhes a necessidade de algumas práticas, de modo que elas compreendam os motivos de realizá-las. “Por exemplo: elas não entendem a necessidade de orientações para a amamentação, pois acreditam que sabem fazê-lo sem auxílio algum, como se fosse absolutamente intuitivo. Mas a mastite (inflamação das mamas) é uma realidade recorrente, o que explicamos a elas”, pontua.
Saúde da Criança
Com foco na saúde das crianças, a sala também oferta consultas, exames e acompanhamento de puericultura, de forma ampla e continuada, desde o nascimento, com a realização do ‘teste do pezinho’ e encaminhamento para testes como os da ‘orelhinha’ e ‘olhinho’.
As informações coletadas nos prontuários são enviadas ao Distrito Sanitário Indígena (DSEI), de forma que essas crianças tenham um histórico em seus registros, otimizando a continuidade de tratamentos, atualização de carteira de vacinação, situação nutricional, tratamentos odontológicos e outros. Crianças com necessidades de atendimentos especializados são encaminhadas à rede especializada e hospitais parceiros.
“Assim como fazemos com as mulheres, a ideia é que essa criança atendida na Casai não passe mais tempo do que deveria aqui. Os acompanhamentos da equipe são todos registrados e monitorados a fim de que ela volte para casa com tudo resolvido rapidamente”, explica Luciana.
Sala de Vacina
Outro grande ganho para a Casai foi a instalação da Sala de Vacina, há cerca de um ano. Nela estão disponíveis todos os imunizantes do calendário nacional de vacinação e a aplicação pode acontecer diariamente, de acordo com a necessidade dos pacientes. A sala recebeu recentemente um novo freezer horizontal para acondicionamento dos imunobiológicos, garantindo ainda mais segurança na efetividade das vacinas disponíveis.
“Um dos maiores benefícios que a sala trouxe é podermos ter um controle das doenças imunopreveníveis aqui, imunizando também as gestantes e pacientes de todas as idades. É comum também recebermos indígenas que vêm de áreas da Venezuela, e a maioria deles não tem nenhum histórico vacinal. Então nós iniciamos tudo por aqui”, ressalta a enfermeira responsável pela área, Natália Cristina, que atua no DSEI há dez anos.
Nutrição em foco
Com vasta experiência na saúde do povo Yanomami, a médica Ana Paula Pina destaca a ampliação do refeitório como um dos principais pontos da reforma. Entregue no primeiro semestre deste ano, ele conta com equipamentos de cozinha industrial, e agora oferece seis refeições diariamente para cerca de 400 a 500 pacientes, de acordo com a lotação da unidade.
“Hoje a gente tem uma organização do alimento, mais qualidade alimentar, as condições higiênicas são outras. Antes, eles pegavam a refeição e levavam para comer nos alojamentos e hoje eles comem no refeitório, de forma ordenada. Isso é muito positivo para o todo”, ressalta Ana Paula.
A questão da desnutrição é uma pauta muito frequente para os Yanomami, sob diversos aspectos, incluindo a perda de autonomia para produção de sua própria alimentação, seja por motivos de outras doenças debilitantes, como a malária, ou pela ação do garimpo. Por isso, os tratamentos nutricionais são de extrema importância para a população, sobretudo para as crianças e adolescentes. Com o acompanhamento nutricional feito pelas equipes e a inserção de fórmulas nutricionais, o DSEI tem controlado e reduzido o número de internações por desnutrição grave e moderada.
“Os nutricionistas têm feito um trabalho de acompanhamento muito valoroso. Uma vigilância contínua mesmo. E a gente vê o resultado desse trabalho acontecendo. Antes nós tínhamos em média 45 crianças, de 0 a 16 anos, com desnutrição grave. E isso caiu essencialmente, tendo ficado em torno de menos de 10 crianças, mesmo vindas de todo o território, que é bastante amplo e populoso”, afirma.
Entre as estratégias aplicadas nos tratamentos de desnutrição, o DSEI já fornece as fórmulas nutricionais F75 e F100 em 20 dos 37 Polos Base como solução suplementar.
Saúde para todos
A Casai Yanomami dispõe de um laboratório, onde são realizados exames de rotina dos pacientes e, desde janeiro de 2024, passou a oferecer uma variação mais ampla incluindo exames mais específicos como os de parasitose intestinal, leishmaniose tegumentar e visceral, malária e tuberculose. Em abril, foi implantado o acesso aos sistemas dos laboratórios parceiros, possibilitando o acompanhamento dos resultados online, o que confere mais rapidez e praticidade na retirada dos resultados.
“Há quase um ano, as coletas passaram a ser feitas aqui mesmo, o que facilitou muito a realização desses exames. Antes a gente só conseguia em torno de 5 indígenas por dia para coleta em outros laboratórios”, explica Leonardo Sampaio, responsável pelo laboratório local. “Hoje chegamos a atender o triplo aqui mesmo, com mais opções de exames, com resultados, ou encaminhando essa coleta para outras unidades, mas recebendo os resultados online aqui”, acrescenta.
Diminuição de agravos e óbitos
O Ministério da Saúde divulgou, em 5 de agosto, um novo informe do Centro de Operação de Emergências (COE) Yanomami. No primeiro trimestre deste ano, foram notificados 74 óbitos no território. Em comparação com igual período do ano passado, houve uma queda de 33% nas ocorrências. Nos três primeiros meses de 2023 foram registradas 111 mortes. O documento ressalta que os principais agravos tiveram queda como: óbitos por malária, desnutrição e infecções respiratórias agudas graves.
O povo Yanomami tem a maior terra indígena do Brasil, com 10 milhões de hectares, mais de 380 comunidades e 30 mil indígenas. Desde janeiro de 2023, o Ministério da Saúde investe para mitigar a grave crise causada na região pelo garimpo ilegal. A pasta aumentou o efetivo de profissionais, dobrou o investimento em ações de saúde e trabalhou para garantir a assistência e combater doenças, como a malária e a desnutrição, no território.
Sílvia Alves – Ministério da Saúde – Reforma e incremento nos serviços da Casai Yanomami levam mais saúde ao povo indígena — Ministério da Saúde (www.gov.br)
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