BRASÍLIA (DF) – “Infelizmente o Estado do Amazonas vem se consolidando como um novo epicentro de desmatamento. Ele era o Estado com as maiores áreas de florestas do Brasil e com as taxas mais baixas de derrubada e, agora, a situação mudou em plena crise climática”. É o que afirma o pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) Carlos Souza Jr ao analisar os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do mês de julho.

Área de mata desmatada (Reprodução/PF) – Postada em: Revista Cenarium

O Imazon lançou, na última sexta-feira, 23, a análise do calendário do desmatamento 2024, que compreende o período de agosto de 2023 a julho deste ano. De acordo com o instituto, embora os dados mostrem uma diminuição de 46% na derrubada de florestas, em comparação com o período anterior, pelo segundo mês consecutivo há registro de aumento do desmatamento. Em julho, foi registrada uma elevação de 29% na derrubada florestal, com 642 quilômetros quadrados devastados, frente aos 499 quilômetros quadrados, de julho de 2023.

Os Estados do Amazonas, Pará e Acre concentraram 77% da destruição florestal, responsáveis por 495 km² de destruição, no mês de julho de 2024. Foram 28% no Amazonas, 27% no Pará, 22% no Acre, 9% no Mato Grosso, 7% no Maranhão, 6% em Rondônia e 1% em Roraima.

Dos dez municípios críticos, quatro estão localizados em território amazonense: Apuí, Lábrea, Novo Aripuanã e Boca do Acre. Em seguida, estão Feijó e Tarauacá, no Acre; Portel e Itaituba, no Pará. Completam a lista, Porto Velho, capital de Rondônia, e Colniza, no Mato Grosso. No mês de junho, o SAD do Imazon apontou Lábrea, Novo Aripuanã, Boca do Acre, Apuí e Manicoré entre os dez municípios que mais desmatavam na Amazônia.

Estudo do MapBiomas, lançado na semana passada, mostra que o Amazonas e o Amapá são os dois estados com maior proporção de vegetação nativa preservada, com 95% cada. Até 1985, o Amapá detinha 98% de suas áreas naturais intactos, enquanto o Amazonas conservava 97%.

Segundo o estudo do Imazon, em julho de 2024, “67% do desmatamento ocorreu em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse. O restante do desmatamento foi registrado em Assentamentos (23%), Unidades de Conservação (8%) e Terras Indígenas (2%)”.

“As florestas degradadas na Amazônia Legal somaram 175 quilômetros quadrados em julho de 2024, o que representa uma redução de 55% em relação a julho de 2023, quando a degradação detectada foi de 113 quilômetros quadrados. Em julho de 2024 a degradação foi detectada no Mato Grosso (35%), Pará (33%), Acre (15%), Amazonas (13%) e Rondônia (4%)”, diz a anotação do estudo do Imazon.

Tendência de aumento contínuo

Em entrevista ao Imazon, o pesquisador Calos Souza Jr. alerta para a tendência de aumento do desmatamento pelo segundo mês consecutivo, junho e julho, num momento em que começa a época mais crítica do ano, quando as estatísticas de devastação são altas. “É preciso seguir avaliando o cenário, há uma tendência de aumento que pode acelerar nos meses seguintes. Intensificar medidas de fiscalização nas regiões mais pressionadas e penalizar devidamente os desmatadores ilegais é fundamental para barrar a atividade”, ressaltou.

Ainda em julho, o Imazon observou aumento de 14% do desmatamento nas unidades de conservação (UCs), saindo de 43 43 km², em julho de 2023, para 49 km² em julho de 2024. Das dez UCs mais desmatadas, seis estão no Estado do Acre, duas no Pará e uma no Amazonas, com destaque para a Resex Chico Mendes (AC), que saiu de sétimo para o primeiro lugar no ranking de desmate, em apenas um mês.

As terras indígenas continuam com o menor índice de desmatamento, 2% do total. Entre as dez Terras Indígenas (TIs) com maior registro de derrubada de florestas, cinco estão no Amazonas, três no Pará, uma em Mato Groso e uma no Maranhão.

Segundo a pesquisadora do Imazon, Larissa Amorim, mesmo com o aumento registrado nesses locais, “as unidades de conservação, terras indígenas e territórios quilombolas funcionam como barreiras contra a destruição florestal, por isso, a atividade é sempre menor dentro dessas regiões”. Amorim chama a atenção para a necessidade de dar uma destinação para as terras públicas, criando novas áreas protegidas, como forma de dar maior defesa florestal por meio de lei, combater a grilagem de terras e melhorar a segurança dos povos e comunidades locais.

O que é o SAD

O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) é uma ferramenta de monitoramento da Amazônia Legal baseada em imagens de satélites, desenvolvida pelo Imazon em 2008, para reportar mensalmente o ritmo da degradação florestal e do desmatamento na região.

Por: Ana Cláudia Leocádio – Da Cenarium / Editado por Adrisa De Góes – Pesquisador do Imazon aponta o AM como novo epicentro do desmatamento (revistacenarium.com.br)

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