Seguindo o princípio de não deixar ninguém para trás, a ONU apoia a participação dos Povos Indígenas nos processos nacionais e globais de tomada de decisão.

A enfermeira indígena Nara Martins cuida de crianças Yanomami em Roraima. – Foto: © UNICEF/BRZ/Kelyson Souza

Rosmery é indígena da etnia Warao e, com a crise na Venezuela, migrou para o Brasil com sua família em busca de uma vida melhor, assim como fizeram mais de 11 mil pessoas indígenas.

“Meu país começou a sofrer uma crise muito forte e isso fez com que muitos indígenas saíssem de seus contextos deixando tudo, em muitos casos deixando comunidades vazias e eu também tive que migrar”. 

Aos 44 anos, ela atualmente ela mora com seus pais e um de seus três filhos na comunidade Warao Janoko, localizada no município de Cantá, em Roraima.

Rosmery assumiu, assim como tantas outras mulheres refugiadas e migrantes, a responsabilidade de cuidar dos familiares que vivem com ela. Para isso, participou de cursos de português, confeitaria, ajudante de cozinha, gastronomia e panificação, ofertados por projetos implementados por diferentes organizações, entre elas a ONU Mulheres, a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) e a agência de saúde sexual e reprodutiva das Nações Unidas (UNFPA).

O pequeno negócio de Rosmery, uma padaria, começou a funcionar este ano, após dois anos de planejamento e organização financeira.

“Meu principal objetivo é fazer com que a minha comunidade, a comunidade Warao a Janoko, se desenvolva e seja vista como um lugar turístico. Começamos com essa padaria familiar e logo ela apoiará outras oportunidades de desenvolvimento”. 

Saúde indígena

Também em Roraima, a vontade de contribuir para o país de acolhida move Maria Audaly. Quando a venezuelana deixou a sua terra natal, nunca pensou que acabaria atuando numa outra situação de emergência, no seu novo país.

No Brasil, ela é uma das monitoras de saúde responsável por garantir a recuperação de meninos e meninas yanomamis, ike’uanas e sanumãs com desnutrição no Centro de Recuperação Nutricional da Casa de Saúde Indígena (Casai) em Boa Vista.

“Por aqui, já recebemos crianças tão fraquinhas que não tinham força nem para chorar. Foi um extremo que eu nunca tinha presenciado desde que comecei a atuar com saúde, assim que cheguei ao Brasil, em 2018”. 

Maria não está sozinha. Quem vê a sintonia entre Nara Martins, de 25 anos, e seus pequenos pacientes nem desconfia que eles não falam o mesmo idioma. A jovem nutricionista, que é indígena, usa outros tipos de linguagem para acalmar as crianças yanomamis que vêm de suas terras, a centenas de quilômetros de distância, para ser tratadas da desnutrição em Boa Vista, Roraima. A comunicação se dá por afeto, olhares, abraços e sorrisos.

“Como mulher indígena da etnia macuxi, eu me sinto muito privilegiada de exercer a minha profissão para cuidar de pessoas como eu. Sinto-me na missão de cuidar desses pequenos, porque eu os vejo como se fossem meu próprio povo. Essa é a minha luta”, afirma Nara, que com apoio do UNICEF enfrenta a desnutrição infantil na Casai Yanomami.

É para a Casai, situada na capital de Roraima, que são levadas as pessoas com as condições mais graves de saúde que vivem na Terra Indígena Yanomami (TIY), mas não podem ser tratadas lá. Com os esforços do Governo Federal e o apoio do Sistema das Nações Unidas, as mortes de indígenas yanomami caíram 33% no primeiro trimestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado, quando a emergência de saúde pública foi declarada no território indígena.

Proteção territorial

Além de iniciativas de apoio direto a pessoas e povos indígenas, o Sistema ONU, por meio do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), está trabalhando com o Governo Federal para fortalecer mecanismos de monitoramento, alertas rápidos e resposta aos crimes ambientais no contexto da mineração ilegal de ouro e da proteção territorial indígena.

A mineração ilegal acarreta severas consequências ambientais, sociais e econômicas e compromete a biodiversidade e os ecossistemas e expõe as populações a um contexto de vulnerabilidade e risco de segurança e saúde.

Essas e outras ações são parte do compromisso das Nações Unidas com o apoio e a proteção dos povos indígenas e seus territórios no Brasil, como estabelecido no Marco de Cooperação vigente de 2023 a 2027, seguindo o princípio de não deixar ninguém para trás nos esforços de promoção do desenvolvimento sustentável.

A diretriz básica de todas as iniciativas voltadas às centenas de povos indígenas do país é apoiar sua participação nos processos nacionais de tomada de decisão e prover assistência técnica ao governo para integrar gênero, raça e etnia nas políticas, planos e orçamentos públicos.

FONTE: ONU – O compromisso da ONU Brasil com os Povos Indígenas | As Nações Unidas no Brasil (VER GALERIA DE FOTOS)

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