A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) participou de mais um Seminário Regional de Escuta sobre a Universidade Indígena. Dessa vez, o evento ocorreu no município de São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, nos dias 28 e 29 de julho, com o tema “Territórios Etnoeducacionais Rio Negro e Yanomami”. Mais de 700 pessoas participaram do Seminário realizado pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e a Funai.
Entre as manifestações dos participantes sobre a importância de criação da Universidade Indígena, esteve a do pedagogo Paulo Sergio. Ele relatou as dificuldades que enfrentou para ingressar no ensino superior: “Gostaria que esse sonho se concretizasse para que nossos descendentes não tenham a mesma dificuldade que tivemos. Muitas vezes, somos excluídos no meio da sociedade e sofremos preconceito por sermos indígenas”.
A gestora educacional Alcenira da Silva Oliveira disse constatar, com outros professores, que muitos alunos indígenas do ensino médio não conseguem continuar os estudos por falta de condições financeiras. Ela também justificou a necessidade de criação da universidade para fortalecer o saber tradicional da diversidade cultural dos povos indígenas. “Para que tenham autonomia de escolha dos cursos que necessitamos para o desenvolvimento da região e valorização da ciência indígena”, complementou.
Estudantes indígenas também se manifestaram a favor da criação da Universidade Indígena. Vários deles falaram das dificuldades em se adaptar a culturas diferentes quando saem de suas comunidades para estudar em outros lugares, sofrendo preconceitos e discriminação ou até mesmo agressão física e psicológica, o que acarreta na perda de identidade. E, também, dos desafios para manter os estudos por falta de recursos financeiros. “A gente sabe como é difícil sair do lugar em que nascemos, da nossa vivência, da nossa cultura, para ter que se encaixar em outra”, comentou Emily Albuquerque.
Entre os tipos de formações e inovações que os estudantes indígenas almejam mencionados por Edel Otero, estão medicina indígena, literatura intercultural, literatura indígena, direitos indígenas, engenharia, economia indígena, manejo do mundo, informática básica e avançada, projetos sustentáveis, direitos humanos e empreendedorismo. “E o que não queremos é sair do nosso município para ir estudar em outro país, porque lá a gente sofre bastante e muitos indígenas acabam tendo vergonha do que são e fingindo ser o que não são. E isso é desagradável e desonroso”, afirmou.
A diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Funai, Lucia Alberta, esteve nos dois dias de discussão e lembrou aos participantes que a realização dos seminários de escuta é fruto da mobilização do movimento indígena, que colocou esse tema na sua pauta de discussões, há muitos anos. “Essas políticas estão surgindo porque nós estamos aqui neste coletivo, como resultado de vários outros momentos. A participação de cada um nessas discussões influenciou essa motivação do Governo Federal”, frisou.
Seminários de Escuta
O seminário ocorrido em São Gabriel da Cachoeira é o sétimo dos 18 encontros que percorrerão o Brasil até o dia 23 de setembro, como parte das ações do Grupo de Trabalho instituído pela Portaria n° 350, de 15 de abril de 2024.
O objetivo é realizar um processo de escuta para receber informações e análises de entidades indígenas e indigenistas, públicas ou privadas, e especialistas no tema, para subsidiar a criação e implementação da Universidade Indígena no Brasil.
Os seminários são realizados pela Secretaria de Educação Superior (Sesu), do MEC, em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi), do MEC, além do MPI e Funai.
Universidade Indígena
A criação da universidade indígena é uma demanda antiga dos povos indígenas. Por meio dela, os indígenas teriam garantia de gestão, e de recursos humanos e financeiros adequados ao seu funcionamento e manutenção. Todas as etapas do processo de construção do projeto também contariam com a participação e consulta aos povos, bem como atuação de indígenas no quadro institucional.
O pedido para a criação da universidade já foi apresentado nas Conferências Nacionais de Educação Escolar Indígena (I e II Coneei), realizadas em 2009 e 2018. Essas são as instâncias máximas de consulta aos representantes dos povos indígenas e de espaço para proposições de políticas públicas voltadas à melhoria da qualidade da Educação Escolar Indígena, em todas as esferas governamentais.
A demanda foi apresentada pelos povos indígenas durante a transição de governo, no final do ano de 2022, como pauta prioritária para fortalecer a educação escolar indígena no país.
Assessoria de Comunicação/ Funai – Indígenas evidenciam importância de criação da primeira Universidade Indígena no Brasil — Fundação Nacional dos Povos Indígenas (www.gov.br)