BELÉM (PA) – As comunidades indígenas Munduruku e os produtores rurais do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Terra Nossa, no sudoeste do Pará, enfrentam uma crise sem precedentes devido às queimadas que devastam a região. Localizadas entre Altamira e Novo Progresso, essas áreas estão sendo consumidas por incêndios que não apenas destroem o meio ambiente, mas também colocam em risco a saúde e a segurança dos moradores.
À CENARIUM, a coordenadora da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborun, Ediene Kirixi, relata que as queimadas deste ano foram especialmente severas, agravadas pelas mudanças climáticas e pela ausência de chuvas por meses. “Essa queimada foi muito triste para a gente, um impacto muito grande na saúde e na proteção dos animais da floresta. Estamos vendo os impactos das grandes empresas hidrelétricas, das fábricas e das queimadas das fazendas afetando nossas vidas e a natureza”, disse à reportagem.
As chamas, que começaram em julho de 2024, trouxeram consequências graves para a saúde das comunidades, como problemas respiratórios aumentando devido à densa fumaça que dificulta até o transporte aéreo de pacientes das aldeias. “Essa situação de queimadas não é normal, muita fumaça, fumaça que não vemos nem 500 metros à frente. Pedimos socorro para a vida da natureza e do planeta”, clama Ediene.
O produtor rural José da Silva, de 57 anos, que vive no PDS Terra Nossa, também expressou angústia. Segundo ele, os incêndios atingiram cerca de 19 hectares de sua propriedade, destruindo plantações e ameaçando os meios de subsistência dos agricultores locais. José destaca a falta de apoio e infraestrutura adequada para enfrentar tais crises. “O cuidado do Incra é muito pouco. Nós não temos condições de desenvolver, falta assistência técnica, e essa situação só piora com as queimadas”, afirmou.
MPF aciona governo federal
Diante dessa emergência, o Ministério Público Federal (MPF) solicitou ações urgentes dos órgãos públicos para combater as queimadas na TI Munduruku e no PDS Terra Nossa. Em ofícios enviados em 23 de agosto, o MPF pediu o envio de aeronaves para apoiar as operações do Ibama e da Polícia Federal nas áreas afetadas, além de uma articulação entre diversas entidades para conter os incêndios.
A procuradora da República Thaís Medeiros da Costa ressaltou a complexidade logística do acesso às áreas em chamas, agravada pela expansão dos focos de incêndio. Além disso, o MPF recebeu denúncias de que os incêndios podem ser criminosos e que há ameaças contra lideranças socioambientais locais.
O MPF também pressionou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para que forneça informações sobre os processos decorrentes da supervisão ocupacional no PDS Terra Nossa, e para que investigue ocupantes suspeitos de crimes ambientais e ameaças na região.
Por: Fabyo Cruz – Da Cenarium / Editado por Adrisa De Góes – Incêndios florestais afetam indígenas Munduruku e produtores rurais no Pará (revistacenarium.com.br)
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