Mulheres protagonizam o I Encontro de Prospecção e Valorização da Agricultura Indígena da Embrapa Roraima

O I Encontro de Prospecção e Valorização da Agricultura Indígena, com o tema “Milho e Algodão”, realizado pela Embrapa Roraima, foi um marco na valorização do papel das mulheres indígenas na agricultura familiar da região. Realizado em 27 de junho, reuniu cerca de 80 participantes, incluindo agricultoras indígenas, lideranças comunitárias, técnicos da Embrapa e representantes de instituições públicas e privadas. Serviu como uma ferramenta para fortalecer o diálogo, compartilhar experiências e prospectar demandas para o planejamento de novas ações e futuros projetos voltados à agricultura familiar indígena.

Essa iniciativa teve o objetivo de identificar demandas que auxiliem no planejamento estratégico de ações e novos projetos. A Embrapa busca, com ações como essa, contribuir para atingir a meta 2.3 do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 (ODS 2). Essa meta, a ser alcançada até 2030, prevê dobrar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores de alimentos, especialmente mulheres, povos indígenas, agricultores familiares, pastores e pescadores. Isso inclui acesso seguro e igualitário à terra, outros recursos produtivos e insumos, conhecimento, serviços financeiros, mercados e oportunidades de agregação de valor e emprego não agrícola (Nações Unidas, 2018).

O evento focou na prospecção de demandas da agricultura indígena, com ênfase no milho e algodão, destacando a importância das práticas tradicionais e das soluções tecnológicas que podem ser testadas e adotadas. As atividades incluíram palestras, relatos de vivências sobre a agricultura tradicional, debates e atividades voltadas para a valorização e o desenvolvimento sustentável da agricultura indígena.

A Chefe-Geral da Embrapa Roraima, Hyanameyka Evangelista de Lima Primo, juntamente com a equipe do setor de prospecção e avaliação de tecnologias (SPAT), recepcionou os participantes com uma abertura e uma cerimônia de purificação realizada pela Pajé Vanda Domingos da Silva, da etnia Macuxi em Roraima.

Para Hyanameyka, idealizadora do evento, o apoio da equipe do SPAT foi fundamental. A organização ficou a cargo da analista Leslie Bantim, antropóloga de formação e possui  experiência de trabalho com povos indígenas, que atuou no planejamento e execução do evento. A pesquisadora Rosemary Vilaça, da Embrapa Roraima, também desempenhou um papel importante, trabalhando com bancos de sementes, promovendo o resgate de sementes em comunidades indígenas e formando guardiões de sementes, o que fortaleceu a articulação com as lideranças presentes.

Também estiveram presentes representantes de diversas instituições parceiras, superintendente Federal de Agricultura de Roraima, Noemia Hass, (MAPA) o superintendente Federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Cassiano Flauzino, Departamento de artesanato indígena Telma Taurepang, Secretária Estadual dos Povos Indígenas (SEPI), Departamento de artesanato indígena Telma Taurepang, Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Ministério da Cultura (MINC), Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), Fundação Nacional dos Povos Indígenas, (FUNAI), Universidade Federal de Roraima (UFRR), Universidade Estadual de Roraima (UERR).

As organizações não governamentais também participaram do evento foram elas; Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR), União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira – (UMIAB), Associação Cultural Indígena de Roraima (Kapói), Organização dos Indígenas da Cidade (ODIC), Associação Estadual Indígena Kuai’kri de Roraima (AEIKRR) e agricultores da agricultura familiar Indígena das Comunidades Indígenas de Roraima.

Durante o encontro, as mulheres indígenas compartilharam seus saberes ancestrais e técnicas tradicionais de manejo sustentável dos recursos naturais, além de expor os desafios que enfrentam, como o acesso à terra, crédito e assistência técnica.

Para Telma Taurepang, indígena da etnia Taurepang da Comunidade da Mangueira em Roraima e Diretora do Departamento de Artesanato Indígena da Secretaria Estadual dos Povos Indígenas (SEPI), “é a primeira vez em meus 50 anos de vida que vejo a Embrapa realizar uma ação que nos escute e nos dê espaço de fala, especialmente para nossas mulheres indígenas”. Ela destacou a importância de adquirir conhecimento sobre o cultivo de algodão colorido para produzir artesanato e valorizar a cultura, afirmando que “ver a Embrapa trazer a vivência dos povos indígenas para dentro da instituição é gratificante como mulher indígena”.

O I Encontro de Prospecção e Valorização da Agricultura Indígena servirá como uma ferramenta essencial para o planejamento estratégico das ações, pesquisas e soluções tecnológicas a serem adotadas e desenvolvidas pela Embrapa Roraima, dando suporte na construção de projetos de pesquisa e estratégias de trabalho voltadas para políticas públicas mais eficientes e específicas para a agricultura familiar indígena. As discussões e debates realizados durante o evento serão fundamentais para identificar estratégias que ampliem o acesso das mulheres indígenas à terra, crédito e assistência técnica, além de fortalecer a pesquisa científica para o desenvolvimento de tecnologias e práticas agrícolas mais adequadas às comunidades indígenas.

A atividade de prospecção foi conduzida pela equipe de analistas do SPAT, Alcides Galvão, Leslie Bantim e Liliane Barbosa de forma participativa, com diálogo, troca de conhecimentos e escuta atenta, onde os principais pontos discutidos foram registrados e validados junto às comunidades indígenas. Essas prioridades serão trabalhadas posteriormente.

Daniel Ferreira, chefe adjunto de TT da Embrapa Algodão, realizou uma palestra sobre “Resgate, produção e variedades e usos do algodão na cultura indígena”. Ele destacou a oportunidade de valorizar o trabalho das mulheres indígenas com o cultivo de algodão, enfatizando a importância de inseri-las nas cadeias produtivas, promovendo a presença feminina e melhorando os processos de produção e as atividades de artesanato. “Com o trabalho de escuta realizado no evento, iremos conversar para construir um projeto junto com elas”, enfatiza.

Destaques do I Encontro:

      • Reconhecimento do papel fundamental das mulheres indígenas na produção de alimentos e na segurança alimentar das comunidades;
      • Identificação dos desafios enfrentados pelas mulheres indígenas no acesso à terra, crédito e assistência técnica;
      • Definição de estratégias para fortalecer as políticas públicas direcionadas à agricultura familiar indígena;
      • Fortalecimento da pesquisa científica para o desenvolvimento de tecnologias e práticas agrícolas adequadas à realidade das comunidades indígenas.

O evento contribui para que a Embrapa possa continuar trabalhando em parceria com as mulheres indígenas para fortalecer a agricultura familiar na região, promovendo o desenvolvimento sustentável e a valorização da cultura e dos saberes ancestrais.