Visitada por mais de 55 mil pessoas em seis meses de exibição, Nhe’ẽ Porã apresenta a pluralidade linguística de povos indígenas brasileiros contada pelos próprios protagonistas. A narrativa envolvente articulada em vários suportes museográficos, alcançando todas as idades, entrou no apreço e na memória dos visitantes como uma das melhores exposições na cidade e chega aos seus últimos dias em Belém.

Exposição “Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação”

Agência Museu Goeldi – A exposição “Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação”, que destaca a diversidade linguística indígena no Brasil, desembarcou em Belém no início de fevereiro e se despede do público na próxima sexta-feira, 26 de julho. Cerca de 55 mil pessoas já a visitaram no Centro de Exposições Eduardo Galvão no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi. E você já foi conferir? Corre para não perder!

Antes da chegada do colonizador português ao território que hoje conhecemos como Brasil, estima-se que existiam entre seiscentos e mil línguas diferentes faladas no país. E ainda hoje, apesar de termos apenas um idioma oficial, o país continua sendo um local de pluralidade. As estimativas apontam para algo em torno de 175 línguas faladas por 305 etnias diferentes.

Realizada pelo Museu da Língua Portuguesa, a exposição convida para um rio de histórias, com curadoria da artista indígena e mestre em Direitos Humanos Daiara Tukano, e da antropóloga Majoí Gongora. Este projeto reconhece a diversidade cultural e a luta que esses povos representam.

A itinerância conta com a articulação e patrocínio master do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet e é correalizada pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. O projeto tem cooperação da UNESCO no contexto da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) e parceria do Instituto SocioambientalMuseu de Arqueologia e Etnologia da USP e Museu do Índio da FUNAI. A realização é do Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, do Governo do Estado de São Paulo, do Ministério da Cultura e do Governo Federal.

O espírito da língua – Se língua é memória, palavra tem poder, espírito, Nhe’ẽ Porã (“boas palavras”, no Guarani Mbya) expressa a necessidade e a urgência de lembrar que falar de povos indígenas é falar de outras formas de interação com a natureza e outros modos possíveis de viver em sociedade. Por isso Daiara Tukano reconhece as línguas como territórios e que as famílias de línguas são árvores de raízes profundas capazes de renascer, representando mais de 500 anos de histórias, memórias, processos de luta e atuação política, a partir da língua que se desenha como uma espécie de tecnologia de resistência cultural, uma tecnologia de sobrevivência, nas palavras do líder indígena e escritor brasileiro Ailton Krenak.

A exposição propõe uma imersão no vasto e caudaloso rio da realidade dos povos indígenas do Brasil, cercado por uma floresta de troncos linguísticos ancestrais, aproximando o público de objetos arqueológicos, instalações audiovisuais, obras de arte e etnográficas, com o intuito de abordar outros pontos de vista sobre suas trajetórias de lutas e resistências. Histórias, memórias e identidades sobre seus territórios.

O visitante de Belém tem a chance de conhecer uma enorme diversidade de línguas indígenas faladas no território brasileiro a partir das quais esses povos vêm experimentando e vivenciando o mundo como fontes de conhecimento. Para o Instituto Cultural Vale, patrocinador da itinerância da exposição, a cultura, enquanto instrumento de transformação social, é capaz de gerar impacto e construir legados positivos na vida das pessoas, ao potencializar e valorizar patrimônios, democratizando o acesso e incentivando diferentes expressões artísticas.

Parceiro e co-realizador da mostra, o Museu Goeldi, que desenvolve trabalhos há mais de um século relacionados às culturas indígenas principalmente da Amazônia, contribuiu com seu extenso acervo linguístico, cuja curadoria foi feita pela pesquisadora Ana Vilacy Galúcio,  para a exposição aberta em São Paulo. Na versão que chegou a Belém, foram inseridos objetos das coleções arqueológicas e etnográficas da instituição. Além da réplica de uma urna funerária marajoara produzida no projeto Replicando o Passado, em colaboração com artistas ceramistas do distrito de Icoaraci.

Nhe’ẽ Porã também marcou o lançamento da Década Internacional das Línguas Indígenas no Brasil (2022-2032). Liderada pela Unesco e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a Década pretende chamar atenção do mundo para a situação de muitas línguas autóctones consideradas em estado crítico de preservação e risco de desaparecimento, e como uma forma de mobilizar recursos e grupos interessados na sua preservação, difusão e promoção.

Texto: Kelvyn Gomes – Edição: Joice Santos – Fonte: Museu Goeldi – Exposição Nhe’ẽ Porã se despede do Museu Goeldi — Museu Paraense Emílio Goeldi (www.gov.br)