A suntuosidade das águas Amazônicas

Foto – Marquelino Santana

Eu vi a nascente do rio Mamu – Bolívia – brilhar suntuosa na região pantanosa de Santa Rosa del Abuná. Nesse habitat natural de sucuris, as águas desse importante afluente do rio Abunã – fronteira do Estado de Rondônia com o Departamento de Pando – correm entrelaçadas à verde mata pandina da Amazônia Sul – Ocidental brasileiro – boliviana.

Eu vi o rio Mamu mergulhar
Nas águas do Abunã em estesia
Eu vi a alma dessa fenomenologia
A mãe-d’água pelo boto se apaixonar
Eu vi o caboclinho-da-mata pastorar
Os animais da sua caça desumana
Eu vi uma mente despótica e tirana
Se dirigir ao pai-da-mata com delinquência
Eu vi o rio Madeira pedindo clemência
Àqueles que agem de forma insana

Eu vi o rio Abunã mergulhar nas inefáveis águas do rio Madeira que alimenta uma singular e plural biodiversidade amazônica. Nesse cenário ambiental de um clima em metamorfose, as tradicionais populações ribeirinhas, resistem heroicamente a essas alterações climáticas naturais, à revelia dos desafios enfrentados pelo poder público em combater aos ataques predatórios da sociedade envolvente.

Eu vi a mata perder a sua poética
E a extinção de seus deuses mitológicos
Eu vi o ser com seus valores ontológicos
Perder o brilho e a grandeza da estética
Eu vi o homem rasgar o código de ética
E destruir o que a nossa alma sente
Eu vi o ódio destruir o ambiente
E sepultar o sentimento de lugar
Eu vi o homem insistir em degradar
Desalojando a alma de nossa gente

Eu vi a guerra incessante do capital, promover estereótipos e estigmatizações, buscando desterritorializar as coletividades do lugar, e anunciando os embustes e engodos de uma parcela da sociedade reacionária que continua ceifando a suntuosidade das águas amazônicas.

Por: Marquelino Santana

FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor

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