A suntuosidade das águas Amazônicas

Foto – Marquelino Santana

Uma criança ribeirinha sente-se feliz ao sentir na sua imaculada alma a harmoniosa e embelecida água que de forma deslumbrante faz parte dos seus peculiares modos de vida. Nessa fabulosa cotidianidade ela entra em seus profundos devaneios para dialogar com os mitológicos deuses da floresta.

A criança é fenomenologicamente alimentada em seu ser pelos valores axiológicos ancestrais que no seu imaginário privilegiado faz parte de uma celebração divinal entre ela e a natureza estetizante. Essa singular celebração vivifica a exaltação dos sentidos e de forma desmesurada contagia transcendentalmente o exercício original da liberdade humana em estesia.

Nas espacialidades e temporalidades da vida a criança é agora um jovem sonhador que sentado à beira do rio Abunã vai ao encontro amoroso dos prazeres sentimentais da bonita e encantadora cabocla amazônica. O tapiri coberto de palha e com assoalho de Paxiúba é o seu mais generoso lar onde os seus virtuosos filhos irão também apropriar-se das encantarias ancestro-cosmogônicas herdados da inenarrável memória coletiva familiar.

Nesse tradicional espaço vivido, aquela criança, aquele jovem e aquele pai de família, agora é um exímio avô que conta as suas ancestrais narrativas e que alimenta seus amados ouvintes com as inefáveis e prodigiosas histórias herdadas de impolutas e briosas gerações do cenário florestal da fronteira inebriante do humano.

Ele narra o tempo em que o caboclinho-da-mata corria por entre árvores agora sepultadas, narra o tempo em que o pai-da-mata assistia feliz a orquestra florestal dos cantos dos pássaros agora extintos, e narra o tempo em que o menino-boto brincava com as suas fenomenais acrobacias nas suntuosidades dos rios amazônicos, agora transformados em estradas de terras secas e esturricadas pela ignorância da mente humana.

Por: Marquelino Santana

FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor

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