Contrarrevolução de 64 – Parte II
Diário de Notícias n° 12.644, Rio de Janeiro, RJ
Sexta-feira, 07.02.1964
Partido Comunista Volta à Legalidade
Dando ênfase ao programa elaborado pelo Deputado San Tiago Dantas e aprovado pelo presidente João Goulart, a cúpula do PSD assentou, ontem, a volta do Partido Comunista à legalidade.
Das 16 às 18 horas, no gabinete do presidente do partido, os senhores Amaral Peixoto, Tancredo Neves, Martins Rodrigues e Doutel de Andrade tomaram aquela deliberação, examinando as três fórmulas sugeridas para o retorno do PC e para tornar elegíveis aqueles que, por serem tachados de comunistas, não podiam ser candidatos. A primeira e a segunda, que tratavam da reforma constitucional e do apelo ao Supremo Tribunal Federal, foram abandonadas, sendo escolhido o recurso à alteração da lei eleitoral. Nessa ordem de ideias, foi examinada a maneira de contornar a decisão da Justiça Eleitoral que cassou o registro do partido e estudada a volta do PC com outro nome ao pedir novo registro.
Logo depois, PSD e PTB discutiram o voto para os analfabetos e para as praças de pré, a elegibilidade dos sargentos e a Reforma Agrária, ficando assentado que, em outra reunião, no dia 20, esses problemas terão solução.
Diário de Notícias n° 12.670, Rio de Janeiro, RJ
Quarta-feira, 11.03.1964
Falta de Autoridade Incentiva Agitação Social
Num ambiente tumultuado, dominado por um espírito de oposição ao governo, as classes produtoras iniciaram, ontem, a discussão do manifesto que hoje será lançado ao País, em cuja redação inicial manifestaram que “a falta de autoridade do presidente da República se patenteia no incentivo à agitação social, na omissão, indiferença e mesmo a transigência com comunistas, detentores de funções públicas; na intimidade com órgãos ilegais, no condicionamento das nomeações à prévia aprovação de líderes sindicais e na demagogia carreirista, conforme ocorre no abastecimento”.
Diário de Notícias n° 12.673, Rio de Janeiro, RJ
Sábado, 14.03.1964
Constituição não Serve Mais ao País
Falando a uma multidão de centenas de milhares de pessoas, no palanque diante do qual se viam as Forças militares, montando guarda ao povo, que conduzia cartazes exigindo sobretudo as reformas e a legalidade do PC, havendo inclusive a foice e o martelo, o presidente João Goulart afirmou que “os milhões de brasileiros que nada têm se impacientam com a demora, já agora quase insuportável, em receber os dividendos de um progresso também construído pelos mais humildes”.
Depois de salientar que ali estavam os trabalhadores, “vencendo uma campanha de terror ideológico e sabotagem, cuidadosamente organizada para impedir ou perturbar a realização do comício”, disse que, dentro de associações de cúpula, de classes conservadoras, “levantou-se voz contra o presidente pelo crime de defender o povo contra os que o exploram nas ruas, em seus lares, movidos pela ganância”.
Passou, em seguida, a pregar a reforma da Constituição que tachou de “inadequada, porque legaliza uma estrutura socioeconômica já superada, injusta e desumana”. Ao anunciar que acabava de subscrever o decreto da SUPRA, declarou que “ele não é a reforma agrária pela qual lutamos, ainda não é a carta de alforria do camponês abandonado”, acrescentando que “reforma agrária com pagamento prévio do latifúndio improdutivo, à vista e em dinheiro, não é reforma agrária, é negócio agrário, que interessa apenas ao latifundiário”.
Voltando a atacar a Carta Magna, frisou que “em todos os países civilizados do mundo já foi suprimida do texto constitucional, a parte que obriga, na desapropriação por interesse social, o pagamento em dinheiro”. Revelou, ainda, o sr. João Goulart que vai promover “rigorosa e implacável fiscalização dos exploradores”, e advertiu: “Aqueles que desrespeitam a lei, explorando o povo – não interessa o tamanho de sua fortuna, nem o tamanho de seu poder, esteja ele em Olaria ou na rua do Acre – hão de responder perante a lei, pelo seu crime”.
Atacou a Associação Comercial e, ao concluir, disse que os funcionários públicos, médicos e engenheiros terão atendidas suas reivindicações.
Diário de Notícias n° 12.674, Rio de Janeiro, RJ
Domingo, 15 e Segunda-feira, 16.03.1964
Apreensivo o Congresso Com os Termos da Mensagem de Goulart
O Congresso Nacional está apreensivo com a Mensagem que o presidente da República enviará hoje por ocasião da reabertura dos trabalhos parlamentares.
Segundo informações oficiais que chegaram ao conhecimento da Mesa da Câmara e do Senado, o documento presidencial “é altamente explosivo”, falando inclusive num desdobramento do discurso da praça Cristiano Otoni, que “ou o Congresso vota as reformas de base, ou haverá derramamento de sangue”. Ao que apuramos, o Deputado Ranieri Mazilli, tomando conhecimento do pensamento do sr. João Goulart, externou sua preocupação com as implicações políticas da atitude do governo, procurando imediatamente o presidente do PSD, o senador Juscelino Kubitschek e os principais líderes partidários, advertindo-os das consequências que poderão advir, devido às ameaças e acusações que o Executivo quer lançar sobre o Legislativo.
Diário de Notícias n° 12.675, Rio de Janeiro, RJ
Terça-feira, 17.03.1964
Agripino: o Golpe deu Grande Passo
O Sr. Artur Virgílio, líder do PTB no Senado, passou, ontem, de interpelador a interpelado, quando solicitou que o Sr. Auro Moura Andrade esclarecesse o seu discurso na solene instalação do Congresso. O senador João Agripino, em nome da UDN, interferiu dizendo que “um líder não pode, regimentalmente, interpelar o presidente do Senado”.
A seguir, depois de uma série de perguntas, disse que “ninguém é surdo neste País, e todos ouviram o discurso do correligionário e cunhado do presidente da República, pregando o fechamento do Congresso, a revolução, apoiado e prestigiado pelo próprio sr. João Goulart”. Adiante, afirmou que, no comício do dia 13, “ninguém deixou de sentir que fora dado o grande passo para o golpe”. Por outro lado, o senador Filinto Müller, líder do PSD, também, levantou-se contra as pretensões do PTB.
Por: Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 15.05.2024 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP);
- E-mail: [email protected]
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