No transcendental mundo amazônico, repleto de ritos e mitos, e de suas peculiares e heterogêneas encantarias, os povos da floresta resistem de forma obstinada buscando manter vivas as chamas sócio-linguístico-culturais de suas ancestralidades ancestro-cosmogônicas que foram de forma milenar apreendidas em seu ser.

Foto: Marquelino Santana

A exuberância e viscosidade de originários e tradicionais modos de vida demonstram com clarividência a incansável luta dessas coletividades no sentido de não romperem esses encantatórios laços com a heterotopia dos lugares e ao mesmo tempo dedicarem-se esses ontológicos pertencimentos de bem viver às futuras gerações, que necessariamente precisam internalizar o estetizante sentimento da cultura amazônica.

A cultura amazônica – para o escritor João de Jesus Paes Loureiro – representa uma das mais raras permanências dessa atmosfera espiritual em que o estético, resultante de uma singular relação entre o homem e a natureza, se reflete e ilumina a cultura. Uma cultura, que segundo ele, continua sendo uma luz aurática brilhando e que persistirá enquanto as chamas das queimadas florestais, provocadas pelas novas empresas que se instalam, com a entrada do grande capital e a mudança das relações dos homens entre si, não destruírem, irremediavelmente, o locus que possibilita essa atitude poético-estetizante ainda presente nas vastidões das terras-do-sem-fim amazônico.

Paes Loureiro nos alerta com uma relevante e instigante reflexão:

“Analisando-se a cultura amazônica na busca de encontrar o dominante que a mobiliza, depara-se com um verdadeiro universo povoado de seres, signos, fatos, atitudes que podem indicar múltiplas possibilidades de análise e interpretação. Trata-se de um mundo de pescadores, indígenas, extratores consumidos em longas e pacientes jornadas de trabalho”.

Nesse inebriante mundo de riqueza e exploração torna-se urgente e necessário que estejamos seguros diante da agonia avassaladora do capital que humilha e cotidianamente execra as coisas da Amazônia.

Por: Marquelino Santana

FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor

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