Ponta das Desertas ‒ Canal Fazenda (06.03.2016)
Os petistas vão agora querer ocupar as ruas – convocados por Lula, diga-se – para construir a narrativa mentirosa de que a sociedade brasileira está dividida diante do impeachment. E ela não está. A esmagadora maioria é favorável, segundo as pesquisas de opinião, porque percebeu que Dilma parece treinada para nos levar para o buraco. (Reinaldo Azevedo ‒ Revista Veja, São Paulo, SP, 06.03.2016)
Partimos, às 07h00, com destino à boca do sangradouro da Lagoa dos Gateados, na Costa da Salvação (30°30’52,5” S / 50°41’06,7” O), localizada a 26 km de nosso acampamento. Na minha primeira incursão pela Laguna dos Patos enfrentei, neste trajeto, vento de 60 km/h e vagas de 3,5 m, tendo de abortar a missão, agora, felizmente, uma suave brisa de popa (quadrante Oeste) cooperava com a travessia. Aportei, às 11h30, e orientei a aproximação do veleiro, a costa é muito rasa e na Foz do sangradouro está fundeada a carcaça de uma velha embarcação de metal exigindo atenção redobrada dos nautas.
No dia 10.04.2011, eu e o Professor Romeu Henrique Chala fizemos uma parada de mais de uma hora neste mesmo local tentando, sem sucesso, entrar em contato via telefone ou vislumbrar no horizonte algum sinal do veleiro Ana Claci pilotado pelo Coronel Sérgio Pastl e assessorado pelo professor Hélio Riche Bandeira que nos apoiaria em nossa descida até Rio Grande.
Enquanto o Coronel Pastl aquecia a refeição do jantar do dia anterior, eu tentava, em vão, tarrafear alguns lambaris no sangradouro da Lagoa dos Gateados.
Depois de nos alimentarmos e hidratarmos partimos em direção a um canal de irrigação (30°39’50,1” S / 50°40’53,1” O) que o Comandante Norberto georeferenciara como local ideal para o pernoite. Aportamos no canal, às 16h30, onde fomos recebidos com extrema cortesia pelo Sr. Douglas e sua esposa. Com apenas duas tarrafeadas no canal de irrigação, recentemente dragado, garanti uma quantidade suficiente de lambaris para o jantar que foi preparada com esmero pelo Coronel Pastl.
A noite foi agradável, e nosso sono só foi interrompido brevemente por uma enorme comitiva bovina que veio protestar contra a invasão de seu recanto de pernoite. Eu tinha percorrido 42,7 km, totalizando 82,0 km.
Relata-nos o Comandante Sérgio Pastl:
No dia seis de março, após o café da manhã, zarpamos às 07h00, e cruzamos o banco das desertas na alagada, ponto que o Comandante Emílio Oppitz, de Tapes nos fornecera pelo celular: 30°26’25,8” S / 50°53’34,8” O. Passamos com 0,8 m na taquara [instrumento náutico mais garantido que ecobatímetro, a meu juízo], cerca de 300 m de largura. Após o ultrapassarmos, abrimos vela com a brisa do Sul e rumamos para a Costa Leste, chamada da Salvação, visando o valo de irrigação do grande capão que se avista ao longe [creio que é a granja do Comandante Aloiz, perito navegador de Tapes, que já nos acolhera anteriormente na jornada do Mar de Dentro].
A brisa de Oeste, ajudada pelo Mercury, nos permitiu chegar lá às 11h30. Entramos num valo de irrigação em cuja Foz há o casco enorme de um barco de aço, ali soçobrado que ofereceria perigo à navegação. Não consta na Carta Náutica e, ainda bem, que nosso precursor, Comandante Hiram, o demarcou. Grande risco, mesmo. Vimos vários avestruzes [ema gaúcha] pela região, com filhotes, preparamos o almoço, carreteiro de churrasco e salada de tomate e cebola. Às 13h30 zarpamos novamente, rumo Sul, às 16h00 passamos pelo través de um pinheiral [Pinus elliottii] ao lado de uma grande casa de bombas, levante de arroz, que é porto de um pesqueiro tipo chalupa, cor verde.
Pelo estilo creio que é obra do Sr. Mauro do Estaleiro da Lagoa, de Tapes, que aprendeu o ofício com o “patrão”, Sr. Divino Venetti, de São Lourenço do Sul [acho que todos os marceneiros navais e artífices náuticos da costa do Mar de Dentro foram seus aprendizes]. Às 16h30, chegamos num “valo real”, assim o chamamos quando é de grandes dimensões, com poderosa casa de bombas no levante.
Decidimos ali pernoitar. Fica o local no través do Distrito da Solidão, Município de Mostardas. Entramos com o leme todo embaixo, cerca de três pés, e à motor, rabeta abaixo. Ancoramos e montamos acampamento na margem Norte. O Hiram conversou com o funcionário da Casa de Bombas, Sr. Douglas, que nos autorizou o pernoite.
O Cel Hiram, como sempre, pescou dezenas de lambaris, que nos proporcionaram uma farta fritada. Fiz, preliminarmente um café da tarde, com pão, linguiça e queijo. Depois uma massa com picadinho de alcatra e salada, e fechamos a janta com os lambaris. Um banquete, mesmo. Às 21h00 horas me recolhi. (Sérgio Pastl)
Canal Fazenda ‒ Porto do Barquinho (07.03.2016)
O ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser alvo de ação civil de improbidade administrativa na Operação lava Jato, que tem como uma das punições a proibição de disputar eleições. Lula pode ser acusado nesse tipo de processo caso fique comprovado que empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras pagaram custos de obras do sítio frequentado por ele em Atibaia (SP) no final de 2010, quando ainda era Presidente, para beneficiá-lo ilegalmente. (Flávio Ferreira, Bela Megale ‒ Folha de São Paulo, São Paulo, SP, 07.03.2016)
Despedimo-nos de nosso caro parceiro, Cel Pastl, que foi levado pelo Sr. Douglas de carro até um ponto de ônibus onde o mesmo seguiria para Porto Alegre e partimos, eu e o Norberto, às 07h30. Às 09h20, depois de navegar 11 km enfrentando suaves ventos de proa, fizemos uma breve parada (30°45’39,5” S / 50°42’34,4” O) nas proximidades de uma bela mata nativa, a primeira que avistamos desde a Ponta do Anastácio.
Infelizmente a Costa Oriental até o Bojuru não possui atrativos significativos, permeada que é de enormes áreas dedicadas ao cultivo de arroz, pequenos bosques eucaliptos e extensas plantações de pinus. Desta parada em diante enfrentamos ventos de 15 km/h até à Ponta de São Simão onde aportamos (30°53’44,2” S / 50°57’57,5” O), às 15h00, depois de percorrer 43 km em oito horas. Ajudei o Norberto na transposição do enorme banco de areia, fiz uma cuidadosa manutenção no caiaque, ingeri três cápsulas de guaraná, um comprimido de relaxante muscular, apliquei “Salonpas” nos músculos doridos e parti, às 16h00, rumo ao Porto do Barquinho.
Precisava “picar a voga” para chegar ao meu objetivo antes do pôr-do-sol, enfrentei, nos primeiros treze quilômetros, ventos de proa de 15 km/h que, graças a Éolo, senhor dos ventos, amainaram nos seis quilômetros finais permitindo que eu adentrasse ao Porto do Barquinho (31°02’57,7” S / 51°00’25,3” O), às 18h45, oito minutos antes do Sol se por.
Novamente nosso caro amigo pescador Jaime de Souza Laguna abrigou-nos em sua residência poupando-nos o trabalho de montar acampamento. O Norberto comprou um peixe, de pescadores ali aportados, que o Sargento de Infantaria da reserva da Força Aérea Brasileira Eugênio preparou com muito esmero. Mal consegui ingerir alguns bocados do saboroso petisco tendo em vista o extremo cansaço físico. Dormimos cedo procurando recompor as energias desgastadas pela fatigante jornada.
Infelizmente nossas expectativas de um sono reparador foram frustradas, de madrugada um grupo de jovens pescadores totalmente embriagados ligaram o rádio a todo volume e conversavam ou melhor gritavam a plenos pulmões até altas horas.
O Jaime teve um lamentável incidente com um fazendeiro local, e enfrenta sérios problemas com a justiça. Tudo se iniciou com o impedimento de acessar o Porto do Barquinho, um local público, em que fixou residência há oito anos, em decorrência do cercamento da área por um fazendeiro local.
Consta do processo AI 70048076095 RS, julgado em 05.06.2012, impetrado pelo Jaime:
Nas razões, alega o agravante ([1]), em apertada síntese, que a liminar deferida proíbe seu acesso à Lagoa dos Patos, o que, via transversa, lhe proíbe de trabalhar, pois é pescador e depende do acesso à Lagoa para prover seu sustento.
Afirma estender e recolher redes de pesca em local denominado Porto do Barquinho, fazendo uso de um pequeno caminhão para transporte do pescado. Narra que, desde 2008, o agravado explora a beira da Lagoa dos Patos com acampamento de turismo, praticando atos intimidatórios contra quem acessa sua propriedade para chegar ao Porto do Barquinho sem pagar pela “concessão da liberdade”. Afirma ter havido, inclusive, fechamento de via pública à beira da área marginal da Lagoa dos Patos. Aduz não concordar com essa tentativa de privatização da área, havendo, inclusive, abaixo-assinado de protesto dos pescadores locais.
Menciona que estes fatos são de conhecimento das autoridades locais. Conta já ter perdido 9.000 kg de pescado em face do cercamento da área.
Assegura não serem verdadeiras as alegações do agravado no sentido de que detém a posse da área, pois se trata de terreno de marinha. Entende que, em assim sendo, não há falar em turbação. Defende que se não fosse garantido o acesso ao local pela margem da lagoa, o porto público jamais teria sido construído, sendo lugar conhecido, de referência para navegação.
Reconhece não ter outra forma de acesso ao Porto do Barquinho que não pela margem da área do agravado, ora cercada, até porque a estrada não dá acesso direto ao local. […]
Percorri hoje extenuantes 58,7 km, totalizando 140,7 km de jornada. Relata-nos o Comandante Sérgio Pastl:
Despertamos, às 05h00, cercados por piquete de gado. Tomamos café, desmontamos o acampamento, e às 06h00 o Hiram e o Norberto, escoteiros ([2]) no Corais e no Argo II, prosseguiram para o Sul, rumo ao porto do Barquinho. Vi-os partir com um aperto no peito, tanta era a vontade de prosseguir, mas o dever do lar nos chamava. Resta-nos dar apoio aos bravos marujos enviando previsões, e contatando amigos e ao longo da rota, até Santa Vitória do Palmar e no retorno, pela Costa Oeste da Laguna.
O Sr. Douglas gentilmente levou-me até o Engenho da estrada municipal, distante cerca de 5 km, e dali peguei carona no ônibus escolar, que me deixou na RS-101, onde peguei, às 08h00, o ônibus de Tavares para a Capital, com escala em Palmares do Sul e Capivari do Sul, onde cheguei, às 11h30, com a alma leve pelo agradável passeio do final de semana. (Sérgio Pastl)
Por: Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 8.05.2024 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP);
- E-mail: [email protected]
[1] Agravante: Jaime de Souza Laguna. (Hiram Reis)
[2] Escoteiros: solitários. (Hiram Reis)
Nota – A equipe do Ecoamazônia esclarece que o conteúdo e as opiniões expressas nas postagens são de responsabilidade do (s) autor (es) e não refletem, necessariamente, a opinião deste ‘site”, são postados em respeito a pluralidade de ideias