Jornada Patriótica – 1ª Perna

– Marina do Lessa – Pontal das Desertas

Marina do Lessa ‒ Veleiros Saldanha da Gama

É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que nem gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota. (Theodore Roosevelt)

Depois de realizar oito incursões pela Laguna dos Patos, Lagoa Mirim e Lagoa Mangueira, persisto na busca de novos desafios. Os sedutores Mares de Dentro, tal como as ancestrais nereidas da mitologia grega, vem, através dos tempos, cativando, enfeitiçando mesmo, os mais arrojados argonautas ‒ como diz o meu caríssimo amigo e intrépido velejador Coronel PM Sérgio Pastl: “Eu sonho com a Laguna, penso nela todos os dias, por vezes tenho medo, mas é uma cachaça”.

Nossos belos mananciais lacustres encantam pela bela vegetação nativa marginal, emoldurada por gigantescas, sofridas e seculares figueiras, ilhas paradisíacas, monumentais falésias, diversificada avifauna e límpidas águas, águas por vezes cálidas e mansas a espelhar o infindo e místico firmamento e, outras tantas, revoltas como as de um imenso oceano forçando-nos a reconhecer nossa pequenez perante o furor da procela sempre acompanhada de ventos e vagas formidáveis.

Decidi, portanto, fechar, com chave de ouro, minhas lagunares jornadas com a inédita “I Circunavegação dos Mares de Dentro” (navegação da Laguna dos Patos e Lagoa Mirim) utilizando meu caiaque oceânico “Argo II”, modelo Cabo Horn, da Opium Fiberglass, com o apoio do veleiro “Corais”, modelo Day Sailer, pilotado pelo Comandante Norberto Weiberg.

Fui autorizado, pelo General-de-Exército Edson Leal PUJOL Comandante do Comando Militar do Sul (CMS), líder da tropa de Elite do Combate Convencional do Exército Brasileiro, a dar início à esta Circunavegação e a continuar com minhas pesquisas e jornadas aquáticas em todo o território nacional.

O CMS enquadra, hoje, 162 Organizações Militares (OM) sediadas no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, duas Divisões de Exército, duas Regiões Militares, oito Brigadas, totalizando um efetivo aproximado de 55 mil militares – um quarto do efetivo do Exército brasileiro. O CMS concentra 90% dos blindados, 100% da Artilharia Autopropulsada, 75% da Artilharia de Campanha, 75% da Engenharia de Combate e mais de 80% dos Meios Mecanizados da Força Terrestre.

Planejei partir da Marina do Lessa (Belém Novo ‒ Porto Alegre, RS), no dia 05.03.2016, percorrer toda a Costa Oriental da Laguna dos Patos, subir o Canal de São Gonçalo, navegar pela Costa Ocidental brasileira da Lagoa Mirim desde o São Gonçalo até a Foz Rio Jaguarão, continuando pela Costa Ocidental uruguaia do Jaguarão até o Arroio San Miguel, retornando pela Costa Oriental da Lagoa Mirim, Canal São Gonçalo e Costa Ocidental da Laguna dos Patos, totalizando mais de 1.200 km.

Estávamos, naquele oportunidade, vivenciando, sem sombra de dúvida, o mais conturbado momento político de toda história republicana de nosso país. “Nunca antes na história deste País” a corrupção, os desmandos generalizados em todos os níveis da administração pública, a falta de gestão, e o império de um sectarismo político doentio e vampiresco que drenou os recursos de nossa nação para enriquecer seus vis correligionários, se fizeram tão presentes.

Este triste período passará para a história como a etapa mais caliginosa de nosso torrão, a fase das “Três Décadas Perdidas”. Algumas instituições perderam totalmente a credibilidade, os conchavos deram oportunidade aos menos capazes de assumir cargos; a educação, a saúde e a segurança foram sucateadas, atingindo um nível jamais visto. O Império do Caos, tinto de vermelho, cravou profundamente suas garras nos corações e mentes do povo brasileiro. O momento histórico pelo qual estamos passando levou-me a batizar esta Circunavegação de “Jornada Patriótica”, denominação que, oportunamente, justificarei. Permearei meu Diário de bordo com notícias que pipocavam pela mídia tendo em vista que durante nossas paradas, ao conseguir manter contato com familiares, ficávamos a par dos acontecimentos.

– Farol de Itapoã

Marina do Lessa ‒ Pta das Desertas (05.03.2016) 

A deputada comunista Jandira Feghali [PC do B – RJ], linha auxiliar do PT, gravou um vídeo na sexta-feira durante encontro com Lula na intenção de mandar um recado à militância, mas acabou expondo involuntariamente o palavreado do ex-Presidente contra as investigações de que é alvo. Logo no começo do vídeo, é possível ver e ouvir Lula ao fundo, em conversa por telefone [ele tem celular?] com a suposta Presidente Dilma Rousseff, conforme a própria Jandira informa, olhando para a câmera. “Eles que enfiem no cu todo o processo”, esbraveja Lula, em mais uma prova de que se acha acima da lei e despreza as instituições democráticas. (Felipe Moura Brasil ‒ Revista Veja, São Paulo, SP, 05.03.2016)

Os amigos Norberto e Pastl chegaram a minha residência em Ipanema antes das 08h00. Carregamos o caiaque e as tralhas no reboque do “Corais” e, logo que chegamos à Marina do Sr. Jorge Alberto Lessa (30°14’09,7” S/51°10’01,2” O), às 09h00, lançamos o veleiro e o caiaque n’água, colocamos o mastro no Corais e carregamos as tralhas de acampamento.

Parti do Lessa, às 10h00, deixando os velejadores ultimando os preparativos para a viagem. Aportei na Ilha do Chico Manoel (30°15’45,5” S / 51°09’48,4” O) onde conversei com o Comandante Luiz Morandi, Prefeito da Ilha, que estava ancorando o seu formidável veleiro Chamonix.

Mais uma vez o experiente velejador, lancheiro e reconhecido gourmet, gentilmente autorizou que acantonássemos nas instalações da Ilha por ocasião de nosso retorno a Porto Alegre. Às 10h30, avistei a equipe de apoio, largando da Marina do Lessa, aguardei um pouco e remei até me posicionar entre a Ilha e a Ponta dos Quatis. Fiz contato através do rádio, informando que aproaria diretamente para o Farol de Itapoã. O veleiro, inicialmente, deslocava-se com muita lentidão e resolvi, às 13h45, fazer uma breve parada na face Norte da Ilha do Junco (30°21’13,6” S / 51°04’03,9” O) onde me hidratei e estiquei as pernas. Quando o veleiro se aproximou, parti.

No planejamento inicial o Norberto tinha optado por pernoitar na Ponta Escura, margem oposta ao Farol, mas, como chegamos cedo, às 14h30, ao Farol de Itapoã (30°23’06,5” S / 51°03’34,6” O), decidimos pernoitar em um pequeno bosque de eucaliptos, meu velho conhecido, localizado no ponto extremo da Ponta das Desertas (30°26’12,8” S / 50°55’13,7” O).

Aportamos, às 16h30, montamos acampamento; o Cel Pastl preparou o jantar, coloquei uma pequena malhadeira (rede) para garantir alguns peixes para o dia seguinte e, depois do banho, nos recolhemos antes do pôr-do-sol, buscando proteção do forte vendaval que fustigou a região pouco antes do anoitecer.

Eu tinha percorrido 39,3 km, uma marca razoável, tendo em vista a hora da partida e que neste ano eu só remara quatro dias, em janeiro, na Lagoa Mangueira. Reporta-nos o Comandante Sérgio Pastl:

No dia 05 de março, fui com o Norberto, no Corais, e o Hiram, no Argo II, ao Lessa. Dali zarpamos às 10h00, rumo à Itapuã. O vento era Sul, fraco, o motor mercury pifou, na largada, como sempre.

Problema na agulha, o Norberto, já craque, fez uma manutenção a bordo e prosseguimos, o Hiram nos aguardava no Chico Manoel e depois seguiu adiante.

Chegamos a Itapuã por volta das 14h30, eu já pedira ao amigo Comandante Rodrigo do Comando Ambiental apoio em contatar a Administração do Parque, para eventual pernoite, pois o motor não ajudava. No farol alcançamos o Cabo Horn, ou melhor, ele nos esperou, e deliberamos avançar o quanto o motor permitisse, pois nada de vento.

Assim o fizemos, e às 16h30 aportamos nos eucaliptos, pequeno bosque, na Ponta das Desertas. Dali se avista a enseada da Varzinha, e o conjunto de torres com aerogeradores de Viamão. Impressionante obra de engenharia e bom para o Planeta. No lado Norte da ponta das Desertas, alguns barcos de pesca estavam ancorados e, no juncal, um bote de alumínio com alguns turistas passeando que nos cumprimentaram. Creio que vieram da Varzinha ou do camping do Richard. Montamos as barracas, fizemos fogo com lenha, abundante, e assamos uma costela, que comemos com arroz e salada.

Essa foi a festa de aniversário de 60 anos do Comandante Norberto. Ancoramos o Corais atrás de um alfaque ([1]), e o Hiram pescou alguns peixinhos, para garantir para o outro dia, como sempre. À noite veio um temporal de verão, do meio da Laguna, violento, como sempre, que fez vergar as barracas. O Corais aguentou bem o tranco, na âncora, protegido pelo banco de areia. Em trinta minutos voltou a bonança.

Pouco antes do temporal, seis pesqueiros abrigaram-se na alagada da Ponta das Desertas, pelo lado Norte, sendo que um deles recolheu-se ao Porto da Varzinha cerca de uma hora antes, pressentindo a tromba d’água e o vento. Gente experiente, não quiseram arriscar encalhes nem naufrágios. (PASTL)

– Pontal das Desertas

Por: Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 6.05.2024 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP);
  • E-mail: [email protected] 

[1]   Alfaque: banco de areia. (Hiram Reis)

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