Jornada Patriótica – 3ª Perna

– Ponta Santiago – Taim

P. Santiago ‒ Canal do Curral Alto (30.03.2016)

Jaques Wagner admitiu que o governo está fazendo leilão de cargos para impedir o impeachment, que ele voltou a chamar de “golpe”. […] Trata-se de mais um crime de responsabilidade da Presidente Dilma. Aliás, ela os vem acumulando.
(Reinaldo Azevedo ‒ Revista Veja, São Paulo, SP, 30.03.2016)

Às 07h00, partimos da Ponta Santiago aproados para uma árvore isolada na costa oposta, a uns 14 km de distância, que mal e mal se vislumbrava no horizonte.

Às 09h00, aportamos para reverenciar a centenária e querida amiga. Considero esta figueira como a mais admirável e emblemática de toda a Lagoa Mirim.

Este formidável monumento arbóreo permanece vivo e belo apesar de ter sido rudemente açoitado pelos ventos e pelas águas, o sólido tronco foi despedaçado por algum malévolo ciclone de outrora e as vagas “pesadas batendo no frouxo areal” foram-lhe solapando os torrões que a sustentavam roendo suas rijas raízes tombando-a, mas esta valorosa Valquíria continuou lutando e apoiada nos seus rijos galhos sobrevive galhardamente – uma imagem inspiradora para um sexagenário e atrevido Argonauta.

Galo de Rinha
(Jayme Caetano Braun)

[…] E ao te ver morrer peleando
No teu destino cruel.
Sem dar nem pedir quartel.
Rude gaúcho emplumado.

Meio triste, encabulado,
Mil vezes me perguntei
Por que é que não me boleei
Pra morrer no teu costado?

Porque na rinha da vida
Já me bastava um empate!
Pois cheguei no arremate
Batido, sem bico e torto.

E só me resta o conforto
Como a ti, Galo de Rinha
Que se alguém dobrar-me a espinha
Há de ser depois de morto!

Carioca de Nascimento e Gaúcho de Coração! 

A austera e inabalável figueira trouxe-me à memória a imagem de meu querido e saudoso pai, meu “Norte”, meu “Eterno e Inspirado Mestre” – o velho Cassiano, um carioca de nascimento que, logo que plantou os pés neste torrão sagrado de Sepé, teve sua alma arrebatada por uma formosa gauchinha chamada Maria, minha mãe, pela cultura e hospitalidade campe­sina convertendo-se em um gaúcho de coração. No meu aniversário de oito anos, em Rosário do Sul, meu pai me presenteou com o livro “De Fogão em Fogão” de Jayme Caetano Braun. Li encantado cada verso, cada estrofe, cada poema, procurando sorver os ensinamentos do Jayme que, através de sua gaudéria poesia, mostrava-me a beleza da vida campeira, a altivez dos gaúchos, nossa história e tradições e outras tantas maravilhas de minha amada Querência.

Desde então a poesia do maior “Payador” de todos os tempos acompanha-me no dia-a-dia lembrando minhas origens e minha afeição “eterna” por este pago abençoado.

Meu Verso
(Jayme Caetano Braun)

[…] E um dia quando souberes
Que este gaúcho morreu,
Nalgum livro serás eu
E nesse novo viver
Eu somente quero ser
A mais apagada imagem
Deste Rio Grande selvagem
Que até morto hei de querer!

Inspirado nos versos do “Payador”, eu pretendia colocar no logotipo do projeto “Desafiando o Rio Mar” a imagem de um “Galo de Rinha”, minha poesia preferida. Nos dias de hoje, porém, a homenagem podia ser mal interpretado pelos adeptos do “politicamente correto”. O símbolo pretendia mostrar a garra do “guasca vestido de penas” e não desejava, absolutamente, fazer apologia às bárbaras rinhas. Identifico-me, por demais, com as últimas estrofes do “Galo de Rinha”, acho que ela tem uma energia e uma mensagem muito especial que eu gostaria que fizessem parte de meu projeto. Às 12h30, adentramos no Arroio Del Rey para fotografar o mastro do Itaqui e às 14h00, aportamos para o pernoite no Canal do Anselmo ou Curral Alto.

Pesquei alguns peixes para o almoço, atraindo-os com a espuma do sabão.

Quando nos banhávamos estes ávidos animaizinhos pecilotermos beliscavam nossa pele em busca de alimento.

As Trevas
(Castro Alves)

[…] E tudo… tudo as trevas envolviam.
As frontes ao clarão da luz doente
Tinham do inferno o aspecto… quando às vezes
As faíscas das chamas borrifavam-nas. […]

Deitamos cedo, da barraca eu admirava extasiado o pôr-do-sol na Lagoa. Em primeiro plano a pequena fogueira crepitava e as faíscas das chamas ganhavam os céus contagiadas pelo belo crepúsculo. Nosso humilde lume, qual funérea pira emprestava um toque melancólico à magnífica paisagem. À noite, cansado e sonolento, ao revisar e excluir as fotos ruins da minha máquina fotográfica optei, acidentalmente, pela deleção de “TODAS” elas.

O meu caro amigo Sargento Cláudio Cesar Carvalho de Carvalho conseguiu, mais tarde, recuperar parte delas. Perdi, porém, algumas fotos e filmes importantes como a dos flamingos voando e a garcinha boiadeira comendo na minha mão que tirara nestes três últimos dias. Felizmente meu caro amigo Gustavo, de Santa Vitória do Palmar, tinha salvo todas as fotos da 1° e 2° Pernas no computador de sua mãe, Sr.ª Nádima. Percorrêramos 41,2 km com ventos suaves e céu nublado.

²  1° Perna Total =         349,1 km.
²  2° Perna Total =         322,2 km.
²  3° Perna Parcial =       135,5 km.
²  Total Parcial =            806,8 km.

GALERIA DE FOTOS:

– Ponta Santiago

– Flamingos-de-james

– Ponta Latinos

– Ponta Latinos

– Baía Latinos

– Baía Latinos

– Baía Latinos

– Curral Alto

Por: Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 31.05.2024 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP);
  • E-mail: [email protected]

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