Manaus (AM) – Cerca de 100 homens, avistados com mais de 70 motosserras, adentram a mata fechada para destruir o que vêem pela frente. Eles partem em busca de castanhais, árvores medicinais e o que mais tiver valor, para posteriormente transformar a floresta em pasto. Há um mês e meio, um desmatamento de grandes proporções avança ao redor de cachoeiras do rio Manicoré, numa região conhecida como Tracajá e Miriti. Manicoré é uma das cidades-alvo onde mais cresce o desmatamento no sul do Amazonas e foco de queimadas.
As cenas que foram captadas por comunidades extrativistas do rio Manicoré indicam uma imagem que se repete na região. Em 2022, a Amazônia Real denunciou desmatamento e queima de quase 3 mil hectares no mesmo local. Desta vez, grileiros estão retornando mais equipados e mais armados. Uma balsa com quatro tratores e escavadeiras embarcadas chegou a subir e descer o rio, levando desmatadores e equipamentos para completar um serviço que começou meses atrás.
Manicoré foi o quarto município no ranking de queimadas em 2023, com 1.183 focos de calor. Ficou atrás somente de Lábrea (1º lugar, com 2.421), Apuí (2º lugar, com 2.131) e Novo Aripuanã (3º lugar, com 1.735), conforme o BD queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Essas cidades foram responsáveis por grande parte da fumaça que cobriu Manaus por três meses seguidos e é de onde são parte dos criminosos do atual desmatamento, segundo fonte ouvida pela Amazônia Real.
De 12 a 23 de março, a balsa esteve numa área de desmatamento. No retorno à cidade de Manicoré, uma imagem capturada por pessoas locais mostra apenas três tratores na balsa, o que indica que um permanece no local do desmatamento e segue sendo utilizado na atividade ilegal. “Tem um rapaz que mora na [comunidade] Barro Alto, ele que conduz toda a gasolina, os baldes, os ranchos. Eles não estão indo assim na balsa, estão indo de lancha. Mas é muito arriscado também porque estão armados e não são daqui do rio Manicoré”, explica a liderança Maria Cleia Delgado, presidente da Central das Associações Agroextrativistas do Rio Manicoré (Caarim).
Segundo apuração da Amazônia Real, há também grileiros de Rondônia. A movimentação no rio Manicoré acontece pela noite para manter a atividade de forma discreta. A situação, desta vez, está pior devido ao armamento, indicam os comunitários.
“Eles estão com pistoleiros, estão todos armados. Ninguém pode passar por conta que eles já têm um lá esperando, um não, vários. Os que trabalham vêm comprar gasolina aqui em Manicoré e aí eles falam que não pode entrar porque só pode entrar o que trabalha na ‘obra’. Quem não trabalha não é permitido e a ordem é se entrar vão ter que matar”, explica Mariludes Cunha da Silva, fundadora e secretária da Caarim.
O objetivo maior da atividade dessa “obra” é para extração de madeira e criação de gado no local. Em 2022, a Amazônia Real sobrevoou, em parceria com o Greenpeace, as florestas localizadas no perímetro da Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) coletiva das comunidades ribeirinhas do rio Manicoré, onde foi possível avistar hectares de floresta queimados, madeira ilegal, criação de gado e abertura de ramais e estradas.
ÍNTEGRA DISPONÍVEL EM: AMAZÔNIA REAL
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