Repercutiremos, a seguir algumas notícias do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, em sua edição de 31 de Março de 1964:

MINAS GERAIS LEVANTA-SE: ESTÁ EM CAUSA A DEMOCRACIA

Numa proclamação que lançou, ontem, ao País, o Governador Magalhães Pinto afirmou que o apelo dirigido à Nação pela Marinha de Guerra do Brasil não pode deixar de repercutir no espírito dos responsáveis pela sobrevivência da ordem democrática. Acrescentou que “não se trata, agora, de simples episódio interno de disciplina. Estão em causa os próprios fundamentos do Regime Democrático que tem nas Forças Armadas os elementos específicos de sua segurança”.

Em seguida declarou: “Se, por influência, de inspirações estranhas e propósitos subversivos o País está ameaçado, têm as Forças Armadas; não só o direito como também o dever de pugnar pela sua integridade, pois de outra maneira não cumprirão o pesado e glorioso destino que a Constituição lhes assegura”.

Disse ainda que “não apoiaremos nunca qualquer movimento que venha apenas agravar a intranquilidade dos brasileiros”, mas aduz que “pelo fato de desejarmos profundamente as reformas, não as queremos ver substituídas, afinal pela implantação de sistemas despóticos”.

HORA DE DECISÃO

Está vivendo o País uma hora decisiva. Ou soçobra, de vez, a democracia, com a derrocada do que ainda resta por salvar, ou reage a Nação e faz valer a Lei e a Ordem, dentro das regras constitucionais. É a própria Constituição que está em jogo e está rudemente ameaçada. O presidente da República coloca-se em posição frontalmente contrária a que lhe compete, como autoridade suprema do Executivo e, nessa qualidade, guardião dos princípios básicos sobre os quais se alicerçam as Instituições democráticas. Afasta-se deliberadamente de seus deveres legais, acobertando movimentos conduzidos pela liderança comunista numa aventura que poderá levar o País ao imprevisível.

A decisão é, portanto, impositiva, inadiável. A opção é definitiva

*   *   *

Mais uma vez, faz-se ouvir a voz do Governador Magalhães Pinto, figura infensa a radicalizações, contra as quais se manifestou recentemente com o equilíbrio e senso de medida que o marcam singularmente no cenário da vida pública brasileira. E o que diz agora o Governador de Minas Gerais, em face dos acontecimentos atuais? O mesmo que, em coro, numa unanimidade que não admite dúvidas nem reservas, dizem e pensam todos quantos não integram a ínfima minoria empenhada na subversão do regime.

Os fatos que abalaram a Marinha não podem ser encarados simplesmente como um episódio interno da disciplina que precisa ser mantida no seio das Forças Armadas. Neles estão em causa os ritos do Regime Democrático, que tem no respeito à disciplina e à hierarquia militares os elementos específicos de sua segurança.

O protesto do Almirantado, secundado pela esmagadora maioria da oficialidade naval, não pode de modo algum neste momento, ser considerado como manifestação de indisciplina e rebeldia. Se o presidente da República coonesta ([1]) e se cumplicia com a insubordinação, então o que esperar das mais altas autoridades responsáveis da Marinha senão essa manifestação que objetiva a repor a ordem onde ela foi duramente ofendida?

*   *   * 

Já não podem ser aceitas, a esta altura, medidas de termo médio. Não basta, absolutamente, que o presidente da República, como foi anunciado, retire o almirante Aragão, temporariamente, das funções que ele vem de há muito deslustrando ([2]). Trata-se de uma figura inteiramente comprometida com a subversão e a baderna disciplinar.

Para reconstituir a Marinha na integridade hierárquica, para repô-la onde lhe compete, no conjunto das Forças Armadas, com seus brios salvaguardados, terá o governo de alterar substancialmente tudo o que fez até agora, não apenas no caso do motim de quinta-feira, mas também na política de desmoralização dos escalões superiores da hierarquia.

Não se pode, sob forma nenhuma, pactuar com a inversão de todas as normas e princípios que dão sentido e base à ordem institucional. Ainda há uma porta de saída aberta para o presidente.

Não vá ele por insensato ou temerário expor mais longe o País e seu povo já tão castigados pela inépcia, pela incompetência, a cupidez e o divisionismo do seu governo.

Já não engana a ninguém. É inútil continuar jogando areia nos olhos do público. O que há de bom é dele, de mau é das estruturas que o Congresso não quer reformar.

Pois as reformas virão, hão de vir, não podem deixar de vir. E então, já sem o biombo da mistificação e do empulhamento. O sr. João Goulart ficará diante de todos tal como ele é, na sua verdadeira dimensão como chefe de Governo, na sua exata proporção de estadista e homem público, na sua efetiva estatura de político e como tal passará à história – o homem que infelicitou o Brasil, que tirou o sorriso e a verve ([3]) do seu povo e quase lhe tira a esperança.

Por Hiram Reis e Silva [*], Bagé, 28.03.2024 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem. 

Bibliografia 

Diário de Notícias n° 12.686. “Che” Guevara Anuncia: Vitória do Brasil Está Por pouco – Brasil – Rio de Janeiro, RJ, 31 de Março de 1964.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP);
  • E-mail: [email protected]

[1]    Coonesta: dá aparência de honesto ou legal ao que é indecente e indecoroso. (Hiram Reis).

[2]    Deslustrando: infamando, maculando. (Hiram Reis)

[3]    Verve: graça, humor. (Hiram Reis)

Nota – A equipe do Ecoamazônia esclarece que o conteúdo e as opiniões expressas nas postagens são de responsabilidade do (s) autor (es) e não refletem, necessariamente, a opinião deste ‘site”, são postados em respeito a pluralidade de ideias