Na mundividência cosmopolita da vida, o sentido de bem viver dirige-se empaticamente à prática humana da pluriculturalidade nas benévolas e heterotópicas relações do homem com a terra. Para o geógrafo Eric Dardel, a terra é a mãe de tudo o que vive, de tudo que é, e segundo o autor, um laço de parentesco une o homem a tudo que o cerca, às árvores, aos animais, às aguas e até às pedras.
A mãe terra sofre violentamente com a absurdez e avareza doentia da humanidade, que de forma aviltante insiste em querer perpetuar em suas espacialidades o catrapoço antropocêntrico dominante como forma de romper definitivamente os laços de benignidade dos humanos com o mundo. As atividades humanas quando banalizadas por grupos parasitários, causam graves sequelas nas democracias internacionais, pois danificam e abalam os pilares do ecoequilíbrio. Essas atividades desregradas, ainda fortalecem criminalmente o ecocídio planetário, através de processos desditosos que resultam na degradação do sistema socioecológico e na derrocada humilhante da vida.
Os guardiães da mãe terra evitam embustes e chicanas, e procuram adotar democraticamente as complementaridades de uma ecoética amazônica que estabeleçam princípios norteadores do bem viver. Para o escritor boliviano Pablo Sólon, a complementaridade entre o bem viver, o decrescimento, os comuns, o ecofeminismo, os direitos da mãe terra, a desglobalização e outras propostas busca enriquecer cada um desses enfoques, criando interações cada vez mais complexas que ajudam no processo de construção de alternativas sistêmicas.
As alternativas sistêmicas brotam sem devassidão e sem atos danosos, são propostas de diálogo que alimentam o bem viver e alimentam o ser, no propósito de estabelecer diretrizes que visem o relacionamento sadio entre o homem e a terra, pois para Eric Dardel, vir ao mundo é se destacar da terra, mas sem romper o cordão umbilical pelo qual a terra nutre o homem.
Sobre a ecoética amazônica, o escritor Ricardo Castro – a partir da ética do bem viver – analisa os desafios da nossa responsabilidade humana na degradação e na preservação da vida para o presente e para futuras gerações. O mesmo autor nos diz como trilhar um caminho escosófico na busca de compreendermos o que está acontecendo com o nosso mundo, e quais as causas da contradição entre o alto nível de conhecimento científico e tecnológico e a crise de vida do nosso planeta.
O homem, a terra e o bem viver precisam urgentemente se tornarem numa tríplice ferramenta de harmonia e embelecimento estetizante entre a vida e a resistência pela dignidade da vida, entre o homem e a resistência pelo ser do homem, e entre a terra e a resistência por uma terra sem mácula.
Alberto Acosta nos oferece um brioso ensinamento a nos dizer que o bem viver aceita e apoia maneiras distintas de viver, valorizando a diversidade cultural, a interculturalidade, a plurinacionalidade e o pluralismo político. O mesmo autor ressalta ainda que o bem viver será para todos e todas, ou não será.
Por: Marquelino Santana
FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor
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