Bacia Hidrográfica da Lagoa Mirim – Parte III

– Apontamentos Diplomáticos Sobre… (Ernesto Ferreira França Filho), 1870

Walter Spalding, no seu livro “A Revolução Far­roupilha” relata os eventos ocorridos em 1836:

DIAS 7-8 [04.1836]: As forças revolucionárias, comandadas por João Manuel de Lima e Silva – tio do mais tarde Duque de Caxias –, entram em Pelotas após renhida batalha. Os imperiais, comandados pelo Major Manuel Marques de Souza [mais tarde Conde de Porto Alegre] resistiram até o fim, e só se renderam ao terem conhecimento da derrota do Coronel Albano de Oliveira Bueno, no “São Gonçalo”, pelas forças de Neto que formava a retaguarda das de Lima e Silva. Nesse combate do “São Gonçalo”, depois de heroica resistência, foi preso o Coronel Albano e, em viagem para Porto Alegre, cobardemente assassinado por negros que, em seguida ao crime, fugiram, nunca mais se tendo notícias deles. Na tomada de Pelotas ficou prisioneiro o Major Marques de Souza, que foi enviado para Porto Alegre e metido na célebre “Pre­siganga” ([1]), de onde, com a conivência do carcereiro e de colonos de São Leopoldo chefiados pelo Dr. João Daniel Hillebrand, promoveria, em grande parte, a reação de 15 de junho que restituiu a capital aos imperiais. Foi o seguinte o Termo de Capitulação assinado por Marques de Souza:

A força que tenho a honra de comandar, querendo evitar efusão de sangue de seus compatriotas, que necessari­amente correrá se não lhe admitirem uma capitulação honrosa, declara que deporá as armas, se o Comandante da força que nos sitia garantir as vidas e todas as mais considerações com que entre povos civilizados se cos­tumam tratar os prisioneiros; protestando no caso de se lhe negarem estas condições não as abandonar senão quando tenham exalado o último suspiro; pois que prezam mais a honra, que a vida sem ela.

Manuel Marques de Souza. Major Comandante Militar da cidade de Pelotas.

O Comandante da força sitiante da cidade de Pelotas, desejando evitar efusão de sangue brasileiro, que impre­terivelmente haveria se a força sitiada não depusesse as armas, declara que aos militares, e mais indivíduos da força sitiada, serão garantidas as vidas; e todas as mais considerações com que entre povos civilizados é costume tratar-se os prisioneiros, e isto em toda a sua plenitude desde o momento em que eles depuserem as armas.

Cidade de Pelotas, 07.04.1836. João Manuel de Lima e Silva, Cmt interino das Armas. (SPALDING)

Ernesto Ferreira França Filho (1870)

Em junho de 1801, chegando ao Rio Grande do Sul a notícia da guerra entre Portugal e a Espanha, cuidou logo o Tenente-General Sebastião Xavier da Veiga Cabral em tratar da defesa de todos os povos daquela Capitania. Estas medidas assustando o inimigo o fizeram abandonar todas as vertentes da Lagoa Mirim, ficando os nossos estabelecimentos cobertos pelo Rio Jaguarão. (FILHO)

Hernâni Donato (1987)

04.01.1828LAGOA MIRIM, RS. Guerra da Cispla­tina. O Iate-canhoneira “19 de Outubro” foi atacado por lanchões corsários argentinos da flotilha de Gerô­nimo Soriano, o conhecido guerrilheiro “Chantopé”. […] O barco seria retomado três meses depois. […]

05.01.1828LAGOA MIRIM, RS. Guerra da Cisplatina. Flotilha de lanchões corsários argentinos, sob o comando de Gerônimo Soriano, o “Chantopé”, ataca a canhoneira “Catalão”, do comando de Souza Junqueira. Enquanto combatia a canhoneira, outros lanchões apresaram dois iates mercantes que leva­vam provisões, sob escolta da “Catalão”. Um dos apresadores foi o iate-canhoneira “19 de Outubro”, ex-brasileiro, tomado na véspera pelos corsários. No dia 20, a “Catalão” foi visada outra vez pelo Chantopé. A tripulação, não a querendo em mãos inimigas, incendiou-a.

20.01.1828LAGOA MIRIM, RS. Guerra da Cisplatina. O iate-canhoneira “Catalão”, do comando do Tenente Souza Junqueira, foi abordado por cinco lanchões corsários. Ao fim de luta desesperançada, o Comandante ordenou o desembarque da tripulação e a queima do barco.

22(?).02.1836LAGOA MIRIM, RS. Guerra dos Farrapos. O iate Oceano, do Tenente Manuel Joaquim de Souza Junqueira, intima à rendição o cúter ([2]) Farroupilha “Minuano”. Seguiu-se combate, indo a pique o cúter, com o seu Comandante Tobias dos Santos Robalo e 18 marinheiros […] (DONATO)

Armando José Buchmann (2001)

A 21 de outubro, aniversário de nascimento, o Brasil reverencia a memória do homem que traçou as grandes linhas do desenvolvimento do país: Irineu Evangelista de Souza ‒ Barão e Visconde de Mauá. Nasceu em 1813, no extremo Sul do País, Município de Arroio Grande, junto à Lagoa Mirim. De ascen­dência humilde, órfão de pai aos cinco anos, foi levado para o Rio de Janeiro em 1822 por um tio que era Capitão de navio. Aos onze anos empregou-se num armarinho como caixeiro.

Em 1830, passou a trabalhar na firma importadora Ricardo Carruthers, onde aprendeu contabilidade, in­glês e a arte de comerciar. Sete anos depois tornou-se sócio-gerente da firma que lhe foi entregue em 1839, quando Carruthers retornou à Inglaterra. No mesmo ano, Mauá mandou buscar sua mãe, uma irmã e a sobrinha Maria Joaquina de Souza Machado, com quem se casou em 1841, depois de sua primeira viagem à Europa. O comércio era no Brasil, mais que alhures, uma posição inferior. Nenhum rapaz de boa família pensava a ele se dedicar; só procurado por portugueses pobres e nacionais analfabetos. Contudo, Mauá impôs-se solitário. Ergueu-se porque o seu merecimento era excepcional e pode fascinar um patrão inteligente. Sem esse inglês, Ricardo Carruthers, talvez Irineu não tivesse aparecido no cenário superior do Brasil, como grande industrial, banqueiro, empresário de grandes obras, realizador no Brasil, diplomata na América do Sul.

Com o pioneirismo como sua característica principal, Mauá foi um entusiasta dos meios de transporte, especialmente das ferrovias. Foi quem primeiramente assentou trilhos no solo do Brasil: Estrada de Ferro Mauá, ligando Rio de Janeiro a Petrópolis. (BUCHMANN)

Paulo Osório (2005)

A Estação Ecológica do Taim é área de suma impor­tância para o ecossistema do Sul do Brasil e de todo nosso continente americano. O Taim consiste em estreita faixa de terra entre a Lagoa Mirim, a Lagoa Mangueira e o Oceano Atlântico, onde centenas de espécies de aves de várias partes do mundo se en­contram para acasalamento e reprodução.

Vivem ali também alguns mamíferos roedores nativos, como preás, pacas e capivaras. E mais peixes e rép­teis, como jacarés, cobras e outros pequenos animais característicos das áreas de banhados. Essa área esteve ameaçada pela exploração econômica com lavouras de arroz e criação de gado. São 33.000 ha de proteção ambiental que estão sendo expandidos para 100.000 ha se as autoridades nacionais pensa­rem primeiro na humanidade. Desde a cidade de Rio Grande, a paisagem, ao longo da BR 471, é pratica­mente a mesma. São uns 200 km até o Chuí, e à medida que se mergulha em direção ao Extremo Sul do país, os efeitos da presença do homem vão ficando mais e mais escassos. Veem-se campos, banhados e Lagoas de ambos os lados da estrada, e raros capões de mata nativa. A fauna é fantástica e ajuda a quebrar a monotonia da paisagem. Aves de todas as espécies e de todos os lugares do continente circulam por ali. Porém, estávamos em abril, e só a partir de agosto é que o cenário se torna riquíssimo. A Estação Ecoló­gica, em si, ocupa quase vinte quilômetros de reta sem nenhum socorro e com animais de toda espécie cruzando a pista. (OSÓRIO)

– Apontamentos Diplomáticos Sobre… (Ernesto Ferreira França Filho), 1870

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 14.02.2024 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia: 

BUCHMANN, Armando José. O Estranho Perfil Do Rio Descoberto: Ensaios ‒ Brasil ‒ Brasília, DF ‒ Editora Thesaurus, 2001.

DONATO, Hernani. Dicionário das Batalhas Brasileiras – Brasil – São Paulo, SP – IBRASA, 1987.

FILHO, Ernesto Ferreira França. Apontamentos Diplomáticos Sobre os Limites do Brasil – Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ – Revista Trimensal do Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico do Brasil – Tomo 33, Parte Segunda – 4° Trimestre, 1870.

OSÓRIO, Paulo. O Portal ‒ Brasil ‒ Porto Alegre, RS ‒ Editora Age Ltda, 2005.

SPALDING, Walter. A Revolução Farroupilha – Brasil – São Paulo, SP – Companhia Editora Nacional, 1939.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP);
  • E-mail: [email protected].

[1]   Presiganga: navio ancorado em Porto Alegre usado como prisão durante a Revolução Farroupilha. (Hiram Reis)

[2]    Cúter: embarcação de um mastro e vela latina. (Hiram Reis)

Nota – A equipe do Ecoamazônia esclarece que o conteúdo e as opiniões expressas nas postagens são de responsabilidade do (s) autor (es) e não refletem, necessariamente, a opinião deste ‘site”, são postados em respeito a pluralidade de ideias