O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) dará início este ano à execução do projeto Condições de Saúde Bucal e Fatores Comuns de Risco em Populações Rurais Ribeirinhas da Amazônia, financiado pelo Ministério da Saúde e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio da chamada pública 21/2023, sobre Estudos Transdisciplinares em Saúde Coletiva, com recorte territorial abrangendo macrorregiões de saúde do Amazonas e do Pará.

A Fiocruz Amazônia pontua que o processo de adoecimento e cuidado em populações rurais ribeirinhas ainda é abordado de maneira incipiente pela comunidade científica, o que resulta em uma invisibilidade destas populações (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil) – Postada em: FIOCRUZ

O estudo será desenvolvido em parceria com professores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade do Estado do Amazonas (UEA), além de mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos das três instituições, ao longo de dois anos de atividades. Também conta com a colaboração de pesquisadores de instituições de fora do país. O trabalho será coordenado pelo pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia Fernando Herkrath.

Segundo o pesquisador, a intenção não é somente avaliar as condições de saúde bucal das populações, mas identificar os fatores de risco comuns a outras doenças crônicas que acometem essas mesmas populações. A pesquisa terá como público-alvo adolescentes e adultos residentes nas localidades rurais ribeirinhas a serem selecionadas. “O trabalho começará pela delimitação geográfica da nossa área de atuação para que possamos planejar a coleta de dados, que se dará por meio de idas às localidades para a avaliação da saúde bucal e da saúde geral e aplicação de questionários para identificar os comportamentos relacionados à saúde , como, por exemplo, consumo alimentar e os mecanismos pelos quais são determinadas as condições de saúde e doença”, explica Herkrath.

A pesquisa tem por objetivo investigar os mecanismos pelos quais os comportamentos relacionados a saúde associam-se aos desfechos de interesse, mas também abordará as barreiras de acesso aos serviços de saúde. “Temos trabalhado bastante com isso e sabemos que as condições de saúde, tanto bucal quanto geral, são piores nas populações que residem em localidades rurais ribeirinhas, e que são inúmeras as dificuldades de acesso aos serviços de saúde. Ao longo dos estudos já realizados, observa-se que os determinantes para as doenças bucais são comuns aos determinantes de doenças crônicas, ou seja, representam fatores comuns de risco – conforme denomina a literatura científica. Queremos compreender como esses fatores de risco comuns atuam nessas populações, sobretudo a partir do modo de vida dessas populações, para que seja possível propor intervenções em saúde pública adequadas as suas especificidades”, afirma Fernando, que é doutor em Saúde Coletiva, na área de concentração de Epidemiologia.

O projeto será executado a várias mãos. Na justificativa, a Fiocruz Amazônia pontua que o processo de adoecimento e cuidado em populações rurais ribeirinhas ainda é abordado de maneira incipiente pela comunidade científica, o que resulta, segundo a proponente, em uma invisibilidade destas populações e na escassez de informação/conhecimento que possa nortear planejamento de ações em saúde voltadas a essas populações. A ideia é que o estudo possa contribuir na superação deste cenário.

De acordo com a proposta, a expectativa é que “o conhecimento gerado pelo estudo seja capaz de subsidiar as políticas e ações em saúde voltadas para as populações rurais ribeirinhas, identificando possibilidades transversais e integradas de intervenção que permitam superar as barreiras de acesso a bens e serviços, bem como garantam a melhora das condições de saúde geral e bucal e apontem caminhos para a reorientação da atenção das equipes da ESF Fluvial e Ribeirinha por meio de um modelo que seja capaz de lidar de maneira mais eficaz com as condições crônicas não transmissíveis nessa população”.

Estudo observacional transversal

Fernando Herkrath explica que se trata de um estudo transversal. O público-alvo será composto por indivíduos de 15-19 e 35-44 anos, de ambos os sexos, residentes em localidades rurais de municípios com equipes de saúde bucal da Estratégia de Saúde da Família (ESF) Fluvial implementadas nos dois estados. Além das capitais, serão selecionados municípios em cada macrorregião de saúde. No Amazonas, existem três macrorregiões: Oeste (21 municípios), Central (25 municípios) e Leste (16 municípios); no Pará, há quatro macrorregiões I (30 municípios), II (30 municípios), III (29 municípios) e IV (30 municípios). A seleção dos participantes será realizada a partir do cadastro das equipes de Atenção Básica.

A coleta de dados envolverá a aplicação de questionários eletrônicos construídos no REDCap, que conterá os instrumentos que mensurarão as variáveis de interesse, através da utilização de smartphones. As condições de saúde bucal serão avaliadas por meio de exame clínico intrabucal – utilizando metodologia e índices recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para levantamentos epidemiológicos em saúde bucal, empregados nos inquéritos nacionais de saúde bucal.

Chamada pública

A chamada 21/2023, sobre Estudos Transdisciplinares em Saúde Coletiva, foi aberta em agosto do ano passado, com financiamento do Departamento de Ciência e Tecnologia, da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde, do Ministério da Saúde, e CNPq, visando apoiar projetos de pesquisa que visem contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação do País, considerando a transversalidade e a interseccionalidade em saúde coletiva para o desenvolvimento de evidências sensíveis às necessidades da saúda da população brasileira. Além disso, aproximar o conhecimento científico e a gestão pública por meio de estratégias inovadoras e efetivas de comunicação, no intuído de proporcionar conhecimento mais amplo em áreas prioritárias, estratégicas e de interesse do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo equidade e sustentabilidade como pilares nas temáticas relacionadas às condições pós-Covid; alimentação e nutrição; Determinantes Sociais em Saúde (DDS); Doenças e Agravos não Transmissíveis (DANT); redução da morbimortalidade e violência em populações em condição de vulnerabilidade; gestão e políticas públicas de saúde; informação e saúde digital; tecnologia, incorporação e inovação em saúde; trabalho e educação em saúde; e vigilância em saúde e ambiente.

Júlio Pedrosa (Fiocruz Amazônia)Agência Fiocruz de Notícias