Lideranças de 62 povos indígenas da Amazônia brasileira, representando os nove Estados da região, participaram do “Curso sobre Mudanças Climáticas, Carbono e REDD+ na Amazônia Indígena” e são agora multiplicadoras do conhecimento adquirido, para difundir as informações em suas aldeias e com suas organizações de base.

Formação reuniu representantes em terras indígenas de Roraima, Acre e Pará (Foto: Bibiana Garrido/IPAM)

O objetivo é fortalecer povos indígenas em suas reivindicações por espaços de fala em discussões e decisões pelo clima no Brasil e no mundo, bem como fornecer as bases para o acesso a benefícios devido à sua histórica contribuição para o equilíbrio climático e para a proteção da sociobiodiversidade.

A formação teve início ainda no segundo semestre de 2023 e foi concluída no último dia 16, em uma realização da COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), com apoio do Fundo para Defesa da Natureza (EDF) e do programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC).

“O curso é resultado de um encontro que fizemos no começo do ano passado para entender quais eram as lacunas de informação. Por mais que a mudança do clima seja um tema em evidência, muita coisa ainda não chega nos lugares em que precisa chegar. Junto com as lideranças, juventudes, além de comunicadores e da rede de advogados indígenas, identificamos a necessidade de debater mais profundamente o mecanismo de REDD+ e seus riscos, por exemplo”, explica Martha Fellows, coordenadora do núcleo de estudos indígenas do IPAM.

Com três ciclos presenciais em aldeias de Roraima, Acre e Pará, cada módulo do curso reuniu lideranças e representantes de povos de diferentes Estados amazônicos. A terceira etapa ocorreu na aldeia Vista Alegre do Capixauã, na região de Santarém, no Pará. Ao todo, a iniciativa contou com representantes de 81 terras indígenas e 38 organizações.

“Realizar a formação nos territórios é uma forma de resistência, além de propiciar momentos de troca entre os parentes. Já sabemos que a causa da mudança do clima está ligada aos combustíveis fósseis, às queimadas e ao desmatamento. A partir da percepção das lideranças, estamos identificando as consequências dessas mudanças climáticas, como a seca dos rios, a morte de peixes, maior alastramento de queimadas e, principalmente, mais doenças nos territórios”, diz Gracinha Manchineri, gerente de formação político-pedagógica do CAFI (Centro Amazônico de Formação Indígena) da COIAB.

Seca

Os impactos da seca causaram o adiamento do curso na aldeia Vista Alegre do Capixauã. Em períodos de seca comum, a água do lago Anumã, formado pelo rio Tapajós em frente à aldeia, costumava se afastar um pouco das casas, mas não impedindo a passagem de embarcações menores. Dessa vez, o lago secou até a entrada do rio, a quilômetros de distância.

“Não tinha jeito de andar por horas e horas na areia, carregando peso, debaixo de sol, até chegar na aldeia. Era para ter começado a chover em outubro, e o curso seria em novembro, mas tivemos que esperar até janeiro para voltar a ter passagem”, comenta Irenilse Kumaruara, cacica de Vista Alegre.

Reparação

“Os mais velhos já vinham alertando sobre esses problemas. Agora existe a necessidade de reparação, afinal, as mudanças climáticas não foram provocadas pelos povos indígenas, mas por um processo externo aos territórios. Estamos com o desafio de identificar o que é possível fazer para reparar esses territórios, portanto, uma das principais reivindicações das lideranças hoje é garantir a participação dos povos indígenas nas discussões”, acrescenta a gerente do CAFI.

Para continuidade das ações, a COIAB irá elaborar um plano de ação dos povos indígenas pela justiça climática a partir do conteúdo discutido na formação e de pesquisas realizadas nas aldeias.

Por Bibiana Alcântara Garrido
– Jornalista de ciência no IPAM, [email protected]
PUBLICADO POR: 62 povos indígenas participam de curso sobre REDD+ e clima na Amazônia – IPAM Amazônia