Manaus (AM) – Em 23 de outubro, o indígena Milton Ribeiro de Menezes, pertencente ao povo Mura, retornou ao seu terreno, na aldeia Soares, em Autazes (município do Amazonas a 111 quilômetros de Manaus) e se surpreendeu com um tubo de origem desconhecida instalado no chão. Ele não havia consentido, mas o objeto foi fincado no local, a apenas 350 metros de sua casa. A Amazônia Real enviou fotos do material a alguns especialistas sobre o que pode ser o tubo metálico: uma das possibilidades é que se trata de um marco para fins de marcação topográfica de um território. O objeto traz informações geodésicas com uma plaqueta com a sigla ELPV, sem informações onde está credenciado. A outra possibilidade é de se tratar de um tubo de prospecção de solo.

Lideranças da aldeia Soares, em Autazes, afirmam que estão sofrendo pressão para aceitar exploração de potássio em seu território (imagens enviadas por indígenas Mura). Foto postada em: Amazônia Real

É a segunda vez que o terreno do indígena é invadido para a instalação de uma peça semelhante. Na primeira ocasião, Milton foi procurado por funcionários da empresa Potássio do Brasil, que sinalizaram querer comprar sua propriedade por 120 mil reais. Ele se negou e, desde então, vem sofrendo pressão para vender sua terra.

A mineração opõe dois lados bem definidos, com a aldeia Soares no epicentro dessa disputa. De um lado, está a principal interessada, a empresa Potássio do Brasil, que conta com o apoio público do governador do Amazonas, Wilson Lima, do prefeito de Autazes, Andreson Cavalcante, e de políticos defensores de mineração. Até o vice-presidente Geraldo Alckmin e ministros do governo Lula se mostraram favoráveis ao projeto. Já os indígenas Mura da aldeia Soares, no lado oposto, não querem a exploração em seu território.

Algumas lideranças Mura que não moram na aldeia Soares se manifestaram publicamente a favor do empreendimento em evento com a presença do governador do Amazonas. Políticos e empresários aproveitaram para vender a ideia de que contavam com apoio unânime dos Mura. Os indígenas pró-mineração chegaram a divulgar um documento apoiando a atividade. Em outubro, o grupo esteve no Ministério de Minas e Energia em busca de apoio.

A frente de mobilização de empresários e políticos em favor do projeto abrange desde tentativas de aval da academia a aproximações com o governo federal, com realização de reuniões com ministros de Lula, como aconteceu no mês de setembro, conforme divulgado pela Potássio do Brasil, mineradora controlada pelo banco canadense Forbes & Manhattan, mas que também conta com sócios locais. Um dos maiores defensores do empreendimento é o deputado estadual Sinésio Campos (PT-AM).

Mas este posicionamento de diferentes interesses e segmentos é rebatido por lideranças de Soares, aldeia que a será mais impactada pela exploração do minério, pois a mina está dentro da área. Eles negam que apoiam o projeto.

Milton Menezes e sua família (esposa e um casal de filhos) moram em uma casa-flutuante típica da região amazônica. Possui criações de animais, além de plantações e roçados. No período da seca, ele e a família se deslocam provisoriamente para uma área mais acima do Lago do Soares, mas não deixam de visitar seu terreno, aguardando o período da cheia para retornar, que acontece geralmente no mês de fevereiro.

À Amazônia Real, ele disse que o equipamento foi instalado durante sua ausência, possivelmente em um domingo (22), quando não estava em seu terreno. Ele descobriu no dia seguinte. “Eu não vi quando colocaram porque o lago (Soares) está muito seco e quando chega essa época a gente vai mais para fora, perto da comunidade. Mas eu vou toda semana em meu terreno para ver como estão as coisas. Quando vi esse tubo, esse cano, que eu não sei o que é, me senti mais uma vez ameaçado. Isso é uma invasão. Ainda por cima, escondido. Aproveitaram que estávamos parados do trabalho de campo. Sabiam que a gente não estava lá”, afirmou.

Por Elaíze Farias

TEXTO, NA ÍNTEGRA, DISPONÍVEL EM: AMAZÔNIA REAL – Sem autorização de indígena, tubo é instalado em terra Mura alvo de mineração – Amazônia Real (amazoniareal.com.br)   

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