Uma homenagem a Dona Chica Xavier, esposa do Marechal, que morreu em 2 de novembro de 1949.

Francisca Xavier

O AMOR É ETERNO ATÉ O ÚLTIMO SUSPIRO

Em fevereiro de 1886, meus amigos Antônio e Alexandre Vieira Leal, filhos do Dr. Antônio Henrique Leal, diretor do Colégio Pedro II, onde Dr. Xavier era professor, foi convidado com sua família para assistirem os exercícios da Escola Militar. Todos ficaram sabendo da minha história de superação. Seus amigos foram lhe buscar para apresentar ao Dr. Xavier. Rondon retrucou lhes dizendo: “Vocês não sabem que sou bicho do mato, qualquer contato me faz ficar acanhado?

Há muito contragosto, Rondon acompanhou os amigos e gentilmente foi apresentado ao Dr. Xavier, sua esposa Dona Teresa e as suas filhas Teresita e Chiquita.

Diante da presença da família Xavier, Rondon se manteve em silêncio diante da cordialidade com que foi recebido, empertigado como se estivesse em forma. Depois quebrou o gelo e passou a conversar.

Rondon conversou muito em principio com Teresa, a mais velha, mas aos poucos foi se sentindo atraído pela doce figura de menina da que seria depois sua esposa.

Logo Rondon se identificou com aquele ambiente familiar daquele lar, que pressentia, sem nunca dele ter gozado, que aos domingos pedias aos amigos para irem até a casa do Dr. Xavier.

Dona Francisca Xavier e Rondon

Nas suas visitas a casa do Dr. Xavier, Rondon deixou por lá de vez o seu coração. Pedindo a jovem Chiquita em casamento no dia 1º de fevereiro de 1890, e em 1º de fevereiro de 1892 selou seu matrimônio.

O seu curto período como professor, teve um trabalho intenso, pois além de reger a cadeira de astronomia e ser repetidor de mecânica racional, ainda teria que substituir as lentes de matemática superior em suas faltas, o que significava dar de improviso a aula que deveria ser lecionada e que deveria está na ponta da língua toda a matemática. Ao regressar após um ano de exploração na selva, onde tinha ficado por muito temo longe dos livros, Rondon só tinha desejo de ficar próximo da noiva e ia visitá-la todas as noites.

Seu casamento seria realizado na igreja católica conforme os desejos da família Xavier, pois suas crenças positivistas não o impediam de receber a consagração católica.

A cerimônia do casamento aconteceu na igreja de Nossa Senhora do Amparo em Cascadura, Rio de janeiro. Celebrado pelo frei Ambrósio, pároco da igreja.

Quando chegou o dia 1º de fevereiro de 1892, a noiva entrou agarrado pelo braço de seu pai Dr. Xavier, encantadora como que cinzelada com justeza para realizar na forma a perfeição interior. Envergava a sua farda de major em comissão.

Aquele momento para Rondon parecia um sonho. Os noivos se ajoelharam ao pé do santíssimo.

Nesse momento, ajoelhado ao lado de sua noiva, Rondon lamentou que o seu tio Manoel Rodrigues pudesse ter ficado para a cerimônia, tendo que voltar para Cuiabá. Nesse instante, reservou no sacrário do coração o primeiro lugar ao seu pai, e para seu tio Manoel no qual possui extremo amor, lágrimas começaram a rolar em seu rosto, lembrando de tudo que teria passado na vida.

Lamentou a ausência de Benjamin Constant, que seria seu padrinho de casamento e agradeceu a presença do coronel Gomes Carneiro, o chefe amigo.

Durante o banquete que aconteceu na casa da noiva, Gomes Carneiro deu calorosa saudação ao seu antigo ajudante e companheiro de sertão, estendendo-se em bondosas referências que lhe comoveu, felicitando por ter conseguido seu ajudante a missão que tomasse para si a reconstrução da linha.

Seu tio Manoel Rodrigues da Silva, do lado paterno e pai adotivo, veio a falecer em setembro de 1903, muito embora Rondon lamentasse a perda do tio, não possuía uma ligação profunda e íntima com outros membros dos Rondons e Silvas.

Em um telegrama de aniversário, em 1906, Rondon reconhece a gratidão que tem por sua esposa, a dedicação que tem dado a família enquanto ele habitava o sertão brasileiro e escreve “à felicidade do humilde órfão mato-grossense”. No mesmo telegrama dizia: “Da solidão em que me encontro longe de ti estou sempre só”.

Assim que a comitiva de Rondon pisou no topo do Monte Roraima, como ato de reconhecimento, cada índio entregou a Rondon ramos de belíssimas flores de plantas raras, encontradas naquela altitude. Sem excitar, Rondon recebeu com sensibilidade pela delicadeza de sentimento dos prestigiosos amigos indígenas, declarou que as mimosas flores seriam enviadas a sua mulher no Rio de Janeiro.

Família Rondon

Certo dia pensou dona Chiquita:

“não pensei que um dia viria a amar aquele tímido e gordo aluno da Escola Militar que acabava de conhecer, com todos os extremos de seu nobre coração, a ponto de, já no fim da vida, repetir frequentemente que preferia sobrevive-me para que fosse poupada a dor da Rondon, uma vida dedicada ao Brasil separação, para que nunca me visse privado de seus ternos cuidados”.  

Dona Chiquita era o anjo da guarda do lar, vivia sua vida consagrada a família, vivia também para a Pátria e para a Humanidade, porque inspirava em Rondon a verdadeira sociabilidade altruísta. Nasceu para e amar e conduzir os humanos à felicidade.

Rondon lia e relia as cartas enviada por dona Chiquita, uma delas dizia assim:

“Trago-te meus carinhos pelo nosso incomparável 1º de fevereiro. Meu amor dia a dia é maior, pelo perfeito conhecimento que nossa intimidade me permitiu ter de ti, de tua elevação moral. Com infinita ternura recordo nossa união há 34 anos passados”.

O amor que Rondon sentia por sua esposa Chiquita foi eterno até o seu último suspiro.

Com dona Francisca, Rondon teve 7 filhos: Marina Sylvia – Beatriz Emília – Maria de Molina – Aracy Amarante – Benjamin Rondon – Clotilde  Rondon – Branca Luiza.

Após uma longa jornada ao lado daquela que foi o seu primeiro amor, Rondon perde sua esposa dona Francisca Xavier no dia 2 de novembro de 1949, vítima de um ataque cardíaco.

Por Lourismar Barroso 

FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor