BOA VISTA (RR) – Nove meses após o início das ações de desintrusão do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami (TIY), lideranças indígenas relatam à AGÊNCIA CENARIUM AMAZÔNIA que os garimpeiros retornaram ao território. Um vídeo cedido pela Hutukara Associação Yanomami (HIY) mostra uma aeronave que sofreu queda na área do Rio Mucajaí, e conforme as lideranças, outras aeronaves tripuladas por garimpeiros sobrevoam o território. Os indígenas relatam ainda a presença de maquinários em operação próximo ao Rio Couto de Magalhães, contaminando o rio com lama e mercúrio.

Comunidade isolada foi fotografada pela primeira vez em setembro de 2016; imagens foram divulgada por associação (Foto: Guilherme Gnipper/Hutukara/Divulgação)

“Estamos comunicando, diariamente, que os invasores estão retornando para o território e que a retirada de garimpeiros têm sido lenta e deixado os nossos irmãos à mercê de criminosos que nos atacam e destroem a floresta”, conta Junior Herukari, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY).

Maior território indígena do Brasil, a Terra Indígena Yanomami ainda enfrenta reflexos da grave crise humanitária e sanitária que atingiu dezenas de adultos e crianças que sofrem com desnutrição grave e malária. Desde o dia 20 de janeiro, a região está em emergência de saúde pública. Alvo há décadas de garimpeiros ilegais, a região enfrentou, nos últimos anos, o avanço desenfreado da atividade ilegal no território.

Além dos atendimentos em saúde, o governo federal atuou para retirar garimpeiros do território, com agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Polícia Federal (PF), Força Nacional e Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Desde junho, o Ministério da Defesa também passou a atuar de forma repressiva aos invasores e na desintrusão de garimpeiros do território. Uma das ações foi o fechamento do espaço aéreo nas terras indígenas para forçar a saída dos garimpeiros, mas desde maio, os sobrevoos sobre o território estão autorizados.

“Eles voltaram e estão destruindo os igarapés, os rios e aqui onde moramos. Estamos denunciando porque precisamos tirar eles daqui. Tem relatos em várias comunidades no Paapiú e em outros locais da Terra Yanomami”, acrescenta o presidente do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Edinho Batista.

Sobrevoo

A CENARIUM já havia divulgado um vídeo, no dia 14 de novembro, em que invasores fazem um sobrevoo ilegal de helicóptero a uma região habitada por indígenas Moxihatëtëa, que são isolados. O vídeo foi compartilhado no TikTok com o título “índios canibais em Roraima” e foi publicado no dia 13 de novembro, mas foi apagado. Apesar disso, o registro foi feito pela Urihi Associação Yanomami.

Nas imagens, ao menos dois homens falam sobre os indígenas, que estariam lançando flechas contra a aeronave. Um deles diz: “bando de v… (…) olha lá os canibal [sic] para quem nunca viu”. O vídeo foi compartilhado por Herukari, que também é presidente da Urihi Associação Yanomami, no Twitter.

Os Moxihatëtëa vivem em total isolamento, sem contato com outros indígenas ou não indígenas, e sobrevivem exclusivamente do que cultivam e caçam na floresta. Apesar de não terem contato com os demais Yanomami, eles são considerados um subgrupo da mesma etnia, porque possuem o mesmo tronco linguístico, e chegaram a ser dados como extintos nos anos 1990. A lei brasileira proíbe a entrada de não nativos em terras indígenas, sem autorização, e protege, de forma especial, os indígenas que nunca tiveram contato ou são de recente contato com não indígenas.

Edinho reconhece que o Governo Lula deu início à operação de desintrusão do garimpo ilegal, mas alega que após o início da operação, não houve reforço nas ações para garantir a segurança dos indígenas. “Nós já vínhamos recebendo relatos, nas comunidades, com a diminuição dos garimpos depois da ação do governo federal, mas agora vemos relatos de garimpeiros, principalmente, em comunidades mais afastadas e isoladas, fazendo com que nossos irmãos sejam alvo da violência que eles podem trazer“, finaliza.

A CENARIUM tentou contato com o Ministério dos Povos Indígenas, o Ministério da Justiça e Segurança Pública e com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para questionar se estão cientes sobre o retorno de garimpeiros no território Yanomami e quais ações serão feitas para garantir a segurança dos indígenas, mas não houve retorno até o fechamento da matéria.

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Winicyus Gonçalves – Da Agência Cenarium Amazônia – Editado por Jefferson Ramos – Revisado por Adriana Gonzaga – Republicação gratuita, desde que citada a fonte. AGÊNCIA CENARIUM – Agência Cenarium Amazônia (aamazonia.com.br) 

Relacionada: Lideranças indígenas denunciam retorno de garimpeiros à Terra Yanomami em Roraima (revistacenarium.com.br)