Área desmatada nos primeiros 10 meses de 2023 chegou a 3.806 km², o equivalente a 1,2 mil campos de futebol por dia

Exemplo de área de 2,54 km² desmatada em Santarém, no Pará, em setembro de 2023 (Imagem: SAD/Imazon)

O ritmo de desmatamento segue em queda na Amazônia, com outubro sendo o sétimo mês consecutivo de redução na devastação. Com isso, a destruição acumulada de janeiro a outubro fechou em 3.806 km², o que representa uma queda de 61% em relação ao mesmo período do ano passado. Essa foi a menor área desmatada desde 2018.

Porém, esse acumulado de 2023 ainda é o sexto maior em 16 anos, desde 2008, quando o instituto de pesquisa implantou seu monitoramento por satélites. E equivale à destruição de três vezes a cidade do Rio de Janeiro ou 1,2 mil campos de futebol por dia.

“Essa redução de 61% no desmatamento acumulado no ano é motivo de comemoração, mas precisamos intensificar ainda mais as ações de fiscalização e punição aos desmatadores ilegais para voltarmos aos patamares de anos como 2012 e atingirmos o prometido e necessário desmatamento zero em 2030”, comenta o pesquisador do Imazon Carlos Souza Jr.

Apenas em outubro, foram derrubados 290 km², 54% a menos do que no mesmo mês de 2022. Esse foi o menor desmatamento no mês desde 2019, mas ainda o sexto maior da série histórica, iniciada em 2008.

Pará lidera com 31% da derrubada entre janeiro e outubro

Com 1.159 km² (31%) de floresta derrubados de janeiro a outubro, o Pará foi o estado que mais devastou a Amazônia, apesar de ter tido a segunda maior redução no desmate. No mesmo período do ano passado, foram destruídos 3.512 km² no estado, 67% a menos.

Em outubro, além do desmatamento avançar em cidades já famosas pela perda de floresta, como Portel, no Marajó; e Pacajá, Uruará e Senador José Porfírio, no Sudoeste, na  microrregião de Altamira; houve destaque também para municípios como Santarém, que apareceu pela primeira vez no ano no ranking dos 10 que mais devastaram a Amazônia, e  Mojuí dos Campos, ambos no Baixo Amazonas. Além de Tomé-Açu, no Nordeste.

“É no Baixo Amazonas, no norte do Pará, que fica o maior bloco de áreas protegidas do mundo e também a maior árvore da América Latina, que é a quarta mais alta do mundo. Por isso, é extremamente grave que a derrubada esteja avançando sobre essa região. Precisamos de medidas urgentes para protegê-la ”, alerta a pesquisadora do Imazon Larissa Amorim.

Além disso, o Pará segue como destaque negativo no desmatamento dentro de áreas protegidas e de assentamentos. Em outubro, das 20 unidades de conservação e terras indígenas mais devastadas da Amazônia, nove ficam no estado. As mais destruídas foram a APA Triunfo do Xingu e as TIs Cachoeira Seca e Apyterewa. Essa última, inclusive, que passa por um processo de retirada dos invasores. Mesmo com a operação em vigor em outubro, o território perdeu 100 campos de futebol e floresta.

Já em relação aos assentamentos, dos 10 mais desmatados da Amazônia em outubro, sete ficam em solo paraense. Juntos, eles perderam 20 km² de floresta apenas no mês, o que equivale a 2 mil campos de futebol. Devastação que alerta sobre a necessidade de ações específicas para esse tipo de território.

Amazonas e Mato Grosso foram responsáveis por 45% do desmate

O segundo e o terceiro estados com as maiores áreas devastadas entre janeiro e outubro foram Amazonas, com 854 km² (23%), e Mato Grosso, com 821 km² (22%). Ambos também apresentaram redução no desmate em relação ao mesmo período em 2022, que foi de 2.476 km² no Amazonas, 66% a menos, e de 1.438 em Mato Grosso, 43% inferior.

Em solo amazonense, a destruição da floresta vem avançando pelo sul, na divisa com Acre e Rondônia, região chamada de Amacro. Além disso, o estado também tem problemas com a derrubada dentro de áreas protegidas, como as terras indígenas Yanomami (que também fica em Roraima) e Alto Rio Negro, e em assentamentos, como o PAE Antimary.

Já em Mato Grosso, a situação mais crítica está ocorrendo na metade norte, principalmente em municípios como Juara, o segundo com maior desmatamento na Amazônia em outubro, e São Félix do Araguaia, o décimo. Em outubro, Mato Grosso também teve uma de suas terras indígenas entre as dez mais devastadas da Amazônia, o território Arara do Rio Branco.

Amapá, Tocantins e Roraima apresentaram aumento na derrubada

Apesar de seis dos nove estados da Amazônia Legal terem apresentado queda na área desmatada entre janeiro e outubro em relação ao mesmo período de 2022, três deles viram a destruição da floresta aumentar: Amapá, Tocantins e Roraima. O campeão no crescimento foi Amapá, onde a devastação triplicou: passou de 5 km² nos dez primeiros meses do ano passado para 17 km² no mesmo período de 2023. Além disso, em outubro, a área protegida amapaense Resex do Rio Cajari foi a terceira unidade de conservação mais destruída da Amazônia.

O segundo maior aumento no desmate foi registrado no Tocantins. No estado, a derrubada passou de 12 km² entre janeiro e outubro de de 2022 para 16 km² no mesmo período deste ano, uma alta de 33%

Já em Roraima, o desmatamento passou de 133 km² nos dez primeiros meses do ano passado para  169 km² nesse período em 2023, uma alta de 27%. Em outubro, o município de Rorainópolis foi o nono mais desmatado da Amazônia. Além disso, o estado também teve no mês duas terras entre as dez mais destruídas da região: o território Yanomami (que também fica no Amazonas) e o WaiWai.

Acre, Maranhão e Rondônia têm áreas protegidas entre as mais desmatadas

Responsável por 8% do desmatamento da Amazônia entre janeiro e outubro, 320 km 2, o Acre foi destaque negativo no último mês em relação à proteção de suas unidades de conservação. Três delas ficaram entre as 10 mais devastadas da Amazônia: a líder Resex Chico Mendes, que perdeu 200 campos de futebol de mata nativa; e as florestas estaduais do Antimary e do Rio Gregório, cada uma com 100 campos de futebol de vegetação primária postos abaixo.

Já o Maranhão, que destruiu 141 km 2 nos dez primeiros meses do ano, 4% do total, também teve áreas protegidas entre as mais devastadas em outubro. Foram a unidade de conservação Rebio do Gurupi e a terra indígena Alto Turiaçu.

Rondônia, o quinto estado que mais destruiu a floresta entre janeiro e outubro, com 309 km 2, também teve uma terra indígena entre as mais devastadas. Foi o território Karipuna, que fica nos municípios de Nova Mamoré e Porto Velho.

Queimadas aumentaram degradação florestal

Além do desmatamento, quando há a remoção completa da vegetação nativa, o Imazon também monitora a degradação florestal causada pelas queimadas ou pela extração madeireira, que causam danos parciais nas áreas afetadas. Em outubro, foram detectados 1.554 km² de florestas degradadas na Amazônia Legal, um aumento de 2% em relação ao mesmo mês de 2022.

“Essa degradação se concentrou principalmente no Pará (55%) e no Amazonas (27%), estados onde estão tendo queimadas recorrentes. Cidades como Manaus e Santarém, inclusive, foram afetadas pela fumaça”, exemplifica Larissa.

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PUBLICADO POR: IMAZON – Desmatamento na Amazônia cai 61% de janeiro a outubro, mas ainda é o 6º maior em 16 anos – Imazon