Com a Amazônia no centro do debate ambiental, evento aborda os desafios interdisciplinares e interculturais da ciência que estuda as plantas. Descrição de espécies, interações ecológicas, conservação, etnobotânica e outros temas serão discutidos em uma semana de evento.

Agência Museu Goeldi – O interesse humano pela flora data da antiguidade e permanece atual ainda hoje, sobretudo em regiões como a Amazônia, onde as lacunas de conhecimento são grandes e as ameaças de perda de biodiversidade são cada vez maiores. Os novos contornos e desafios que se impõem para as investigações botânicas estarão em debate durante o 73º Congresso Nacional de Botânica (CNBot), promovido pela Sociedade Brasileira de Botânica (SBB) e organizado pelo Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG, instituição sesquicentenária vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI. O evento ocorre de 29 de outubro a 4 de novembro, em Belém e está com as últimas inscrições abertas.

Esta é a terceira vez que o congresso é realizado na capital paraense, sendo a primeira em 1988 e a segunda em 2003. O pesquisador João Ubiratan Santos, botânico e atual coordenador de Pesquisa e Pós-graduação do Museu Goeldi, participou da organização de todos os eventos e lembra que o MPEG teve participação ativa nas discussões, sempre atualizadas de acordo com as novas demandas da ciência e da sociedade. O primeiro CNBot em Belém debateu os usos da floresta, enquanto o tema do evento seguinte foi: “Desafios da botânica brasileira no novo milênio – inventário, sistematização e conservação da diversidade vegetal”. Já o congresso deste ano tem como tema “A Botânica no Brasil – desafios interdisciplinares e interculturais”.

“Em 88, a gente estava pensando no que estão tirando da floresta. Em 2003, a gente já tinha certeza que estavam tirando muita coisa da floresta e estavam causando muitos prejuízos aos ecossistemas e, consequentemente, à conservação. Hoje, nós estamos pensando mais no nosso trabalho na floresta, mas também nos povos que existem na floresta e como é preciso prover insumos para conservar as florestas”, contextualiza Ubiratan Santos, que atualmente responde pela vice-presidência da comissão organizadora do CNBot.

Avanço científico – Além do Museu Goeldi, a Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) também atuam na organização do evento, que é o mais representativo da área no país, atraindo também palestrantes e participantes do Reino Unido, Espanha e México.

A programação do 73º CNBot exemplifica a amplitude e as novas fronteiras da produção de conhecimento na área. As questões em evidência no congresso apontam para a necessidade de avançar em aspectos essenciais, como a descrição taxonômica, sistemática, genética e evolução de espécies, anatomia e fisiologia; e no entendimento da repercussão desses estudos em áreas como bioprospecção, bioeconomias de base florestal, estratégias de conservação, interações ecológicas, etnobotânica e ensino de botânica na educação básica. Um exemplo é a palestra inaugural que tem o tema “A Botânica na Amazônia: velhos problemas, novas perspectivas” e será proferida pela doutora Ima Célia Vieira.

Mas o evento também abre espaço para mostrar como a ciência que estuda as plantas vem ampliando seus horizontes. Os simpósios, palestras e mesas redondas do congresso contemplam debates interdisciplinares, propõem diálogo com saberes de pessoas com deficiência, indígenas e LGBTQIA+, bem como mostram o investimento da área na promoção de ações de divulgação científica. Além disso, vale ressaltar que as discussões não se limitam à Amazônia, abrangendo peculiaridades da vegetação e questões pertinentes aos demais biomas brasileiros.

Outro atrativo para os participantes é a oportunidade de conhecer os registros da flora depositados no Herbário do Museu. Uma lista foi aberta para receber inscrições, mas já está com vagas esgotadas. A grande demanda dos congressistas anima João Ubiratan Santos, que vê nesse interesse o potencial de desenvolvimento de novas pesquisas.

“Nenhum pesquisador do Brasil ou do mundo que venha pesquisar a Amazônia pode ignorar as coleções do Goeldi. Isso é bom porque permite que os especialistas conheçam e atualizem as identificações das espécies que estão dentro do Herbário”, pontua.

O presidente da comissão organizadora, Pedro Viana, pesquisador do MPEG, docente do Programa de Pós-Graduação em Botânica (parceria do MPEG e UFRA) e atualmente cedido ao INMA, assinala que o congresso deste ano marca a retomada dos encontros da comunidade botânica no pós-pandemia, além de que chama atenção para autonomia da produção de conhecimento na Amazônia e as interações da região com os demais biomas.

“A gente espera que esse evento seja um momento para reatar essa unidade da comunidade botânica no Brasil, trazendo nesse contexto todo a Amazônia, com sua importância notória em vários aspectos, principalmente na discussão, produção e difusão de conhecimento”, destaca.

Planta símbolo – Uma tradição do CNBot é a escolha de uma planta símbolo, que nesta edição é o jambu (Acmella oleracea). A indicação não poderia ser mais adequada, já que a espécie é representante de uma das maiores famílias de plantas com flores do mundo – a Asteracea -, assim como elemento essencial para a elaboração de pratos típicos da culinária amazônica, além de ser utilizada em práticas da medicina tradicional da região. As relações complexas que envolvem uma única espécie são outro indicativo de como o conhecimento botânico é necessário para a sociedade.

“A gente tem que ampliar e conhecer melhor a flora da Amazônia. Tem muita espécie ainda para ser conhecida e muitas relações dessas espécies, ecológicas e também com as pessoas a serem documentadas. Sem esse conhecimento não é possível planejar para conservar”, afirma Pedro Viana.

Texto: Fabrício Queiroz – Publicado por: Museu Goeldi – Belém recebe 73º Congresso Nacional de Botânica — Museu Paraense Emílio Goeldi (www.gov.br)