“O patriotismo de Rondon nada é diferente perante o sentimento, o homem se agita e a humanidade o conduz” (Rondon).
No decorrer de sua trajetória e jornada pelos sertões, Rondon sempre se deixou levar pelo princípio positivista/patriotismo e por sua inspiração a dois grandes mestres da sua vida militar, Benjamin Constant e Gomes Carneiro.
Na história eterna do dia 15 de novembro de 1889, quando naquela ocasião de realizou o projeto da República, tão sonhada e defendida por Benjamin Constant, relatou Rondon:
“fazendo-te ultrapassar-te a ti próprio para chegares a ser o patriota que soube por uma sedição militar a serviço dos anseios da jovem nacionalidade, tão nobremente expressos 218 Rondon, uma vida dedicada ao Brasil desde Tiradentes e reafirmados em José Bonifácio, o grande Andrada, esse arquiteto ousado que amassa um povo na robusta mão. Soubeste orientaste esses anseios no sentido da meta da evolução humana: a Fraternidade Universal”.
O amor desse patriota supera em valor de inteligência, não pela sua ciência, mas por sua devoção à Pátria e à Humanidade que penetrou no Panteon da Imortalidade: “O fundador da República, Benjamin Botelho de Magalhães, passou da vida objetiva à imortalidade no dia 22 de janeiro de 1891. Deixaste como ensinamento a Rondon o ideal de servir à Humanidade, servindo à Pátria e à família.
O segundo mestre Gomes Carneiro, era carinhosamente chamado por Rondon de mestre do sertão. Foi com ele que aprendeu a ser soldado, a edificar exemplos cívicos e militares, a ser dedicado ao serviço, inflexível nas maiores dificuldades e sofrimentos para nunca, ante o subordinado, revelar cansaço ou ignorância, porque só assim, dizias, será a autoridade do chefe mantida e respeitada as suas ordens.
“Foi contigo que aprendi a amar o índio, já meditando nas ordens que fizestes cumprir em sua defesa e proteção, ao longo da estrada marginada pela construção da linha telegráfica, onde o bororo mantinha suas aldeias”.
Para o patriota Rondon, o exemplo ensinado por seu mestre o de não insistir contra os avisos que os índios davam ao invasor de suas terras, antes de fazer sentir, materialmente, que sua presença não era aceita e ainda era desagradável.
Em seu gabinete de trabalho no Conselho Nacional dos Índios, Rondon tem em sua sala a figura no quadro de seus dois grandes mestres, sobre a sua cabeça ficava Gomes Carneiro e em sua frente, quando estava sentado, estava o de Benjamin Constant. Essas imagens presentes na vida de Rondon, era uma lembrança autêntica de seu compromisso para com à Pátria e a Humanidade. Seus princípios positivistas/patriotismo estavam estampados na memória daqueles dois quadros, que representava e muito para a vida do Marechal.
Quando se sentava e ficava de frente para a imagem de Benjamin Constant, Rondon todas as vezes que olhava para o quadro, refletia a nobreza moral do mestre, lembrava do timbre da voz que simplificava o seu comunicado, o que tornava um dos homens da mais encantadora presença.
Positivista desde os bancos da legendária Escola Militar, Rondon se tornou membro da Igreja Positivista do Brasil, contrariando os compromissos de ordem moral que lhe aparecia a todos os instantes, convencido que o positivismo teria uma evolução humana e que atingira os primeiros períodos da transição orgânica, não cabendo, portanto, a intervenção positivista nos destinos da política.
Viver para outrem conduz logo a viver às claras, para assegurar a Ordem e promover o Progresso, mediante a cultura pacífica da poesia, da ciência e da indústria.
Segundo Augusto Comte, “todos os homens são, sobre tudo hoje, positivista, em graus diversos da evolução, que só resta completar, ou aquela que não vêm salvação fora do s sus respectivos credos”.
Dois fatores primordiais deram resultados ao positivismo adotado por Rondon: o primeiro foi a influência persuasiva de sua esposa, Dona Francisca, a quem são devidas as boas inspirações que moveram seu coração; o segundo foi a dedicação insuportável de uma plêiade brilhante de oficiais e civis, de soldados e de trabalhadores que foram o cérebro e o braço realizadores.
Rondon formulou e adotou o lema verdadeiramente religioso que foi a diretriz dos trabalhos de pacificação no serviço de Proteção aos Índios.
Durante as expedições pelos sertões, o patriotismo de Rondon fazia questão de posicionar seus homens em fileiras para cantar o hino nacional com o hasteamento da bandeira, maior símbolo da nossa pátria.
Lembrava aos seus subordinados que devemos sempre obedecer às leis da nação e a ela se curvar, respeitando nossos símbolos e enaltecendo a nossa pátria.
O patriotismo do Rondon era adotado também nos aldeamentos por ele conquistado, uma maneira de contagiar desde as crianças aos mais velhos indígenas.
Os ensinamentos de Augusto Comte, levou o Brasil durante a República, a crença da aceitação de um pensamento nacional, um pensamento que pudesse unir todos conforme os princípios morais de sua filosofia, rica e coerente, mais também enérgica e mais generosa ao povo brasileiro.
Durante suas expedições, Rondon tomou como referência alguns valores sociais que o nortearia pelo resto de sua vida, chamados de princípios, esses valores orientavam a política indigenista desde 1910.
1º Princípio – morrer se preciso for matar nunca, foi formulada ainda no começo do século XX (1910), quando juntamente com sua equipe, rasgavam o sertão inexplorado, indo de encontro com dezenas de tribos indígenas, sempre com atitudes de paz, e se negava a revidar qualquer ataque. Rondon entendia que o homem branco naquele momento, estava invadindo as terras dos índios, o que faria dele e de sua equipe, criminosos casos matasse algum índio.
2º Princípio – respeito às tribos indígenas como povos independentes, que apesar de sua selvageria, tem seus próprios direitos de viver suas vidas espalhados pela floresta, de cultuar suas crenças e rituais, e de evoluírem de acordo com suas capacidades, sem se preocupar com compulsões de qualquer ordem ou princípios.
3º Princípio – garantir aos índios a posse das terras que habitam e são necessárias à sua sobrevivência. Muito embora esse princípio consta na nossa Constituição, figura dentre suas páginas como palavra eloquente. Na realidade o que temos visto são contínuas invasões das terras desse povo.
4º Princípio – assegurar aos índios a proteção direta do Estado, não como um ato de esmola ou de favor, mas como um direito garantido na constituição, e que o estado brasileiro possa assistir sua capacidade de competir com a sociedade dotada de tecnologia e muito superior ao seu território.
A atitude pacifista executada por Rondon, ganhou um adjetivo como um defensor da vida.
Toda sua luta em prol da defesa dos índios e de sua capacidade de competição, começou em 1910, quando foi criado o Serviço de Proteção aos Índios, o que lhe custou toda sua vida em devoção por 57 anos, 11 meses e 17 dias, servindo à Pátria e a humanidade como um autêntico positivista. Graças ao esforço de Rondon, temos ainda algumas centenas de milhares de índios ainda em território brasileiro.
O decreto nº 51.190 de 26 de abril de 1963, levou o Exército a proclamar Rondon como o Patrono da Arma de Comunicações. Em 1968, o Ministério da Educação e Cultura criou o Projeto Rondon, com a finalidade de promover estágios de serviço de estudantes universitários em áreas do interior do país.
O Dia Nacional das Comunicações foi criado em 05 de maio de 1971, em homenagem a Marechal Cândido Rondon “que levou as comunicações e o atendimento a distantes pontos do país”.
Nas expedições, implantou o telégrafo, nosso primeiro sistema de telecomunicações, nas regiões isoladas como o Centro-Oeste e Norte, conseguindo integrar dois “brasis”, o “Brasil do litoral” com o “Brasil do interior”.
Por Lourismar Barroso – Historiador e escritor
FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor (Fotos disponibilizadas pelo autor)
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