Especialistas explicam, em evento que aconteceu em Belém (PA), que produtos com controle de qualidade possuem maior valor agregado  e podem entrar num mercado que está cada vez mais exigente.

A bioeconomia na Amazônia é uma das mais importantes plataformas de desenvolvimento sustentável para a região. Tão peculiar ao território, é fundamental que inclua redução da desigualdade social, o reconhecimento e a valorização dos saberes dos Povos Indígenas e Comunidades Locais (PICLs) e os investimentos em soluções baseadas na natureza, num sistema de inovação integrador que inclua Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), bem como povos tradicionais, empreendedores locais, negócios comunitários e investidores. Foi pensando nisso que, um dos eventos paralelos trazidos para Belém (PA), durante essa atmosfera da Cúpula do Clima, foi o encontro “Temas estratégicos atuais em Bioeconomia”, que aconteceu na noite segunda-feira, dia 7 de agosto de 2023, no espaço do Sebrae (PA).

Para discutir oportunidades da bioeconomia na Amazônia, Braulio Dias, Diretor do Departamento de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade da Secretaria Nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do Ministério do Meio Ambiente (MMA) explicou que o potencial da região é enorme, mas é preciso persistência e trabalhar em diferentes níveis: políticas públicas, capacitação local e organização de cooperativas.

“A questão discutida aqui é como sair dessa realidade da Amazônia de ser mero produtor de matéria prima para o sul do Brasil, para a Europa, para os Estados Unidos e eles fazerem agregação de valores e venderem nossos produtos a preços bastante altos. Nós é que temos que fazer essa agregação de valor aqui na Amazônia. Esse é o desafio. E é preciso ter gente com experiência, como o especialista de designer que falou aqui e contou sua experiência para quem estava no evento”.

Segundo Braulio, os produtos precisam ter qualidade, um bom designer e tem que ter controle de qualidade, por que quem quiser vender um produto de maior valor agregado, vai ter que vender para um mercado que está cada vez mais exigente. “Então eles não querem impurezas nos produtos, num rótulo improvisado. Tudo isso tem que ser olhado e, nesses dias de Encontros em Belém, foi possível ver experiências desse tipo aqui na região”.

O evento foi pensado com esse olhar: uma análise do potencial da região e dos seus produtores locais. O encontro “Temas estratégicos atuais em Bioeconomia”, foi realizado de forma híbrida, gratuito e contou com a participação de cerca de 70 pessoas, entre virtuais e presenciais. Luiz Marinello, responsável pela organização do evento e moderador do evento junto com Bárbara Veiga, é especialista em aspectos legais da biodiversidade e propriedade intelectual e ficou muito satisfeito com o resultado do evento e a troca de conhecimento.

“O evento atingiu plenamente seu objetivo. Nós podemos ouvir um representante do Ministério do Meio Ambiente que está com um projeto muito importante que é o Epamb – Estratégia e Plano de Ação Nacionais para a Biodiversidade, para tentar captar efetivamente ideias para que seja criada o meio em que o Brasil tem de atender os protocolos internacionais GBF – Global Biodiversity Framework, que são metas que os países decidiram criar em 2022 através da COP 15. São metas para conservar a biodiversidade, a utilização sustentável dos seus recursos, repartição de benefícios. Então, são metas para se alcançar num cenário até 2030/ 2050”.

Para discutir os temas do encontro, Luciana Villa Nova, trouxe questões importantes como a valorização das comunidades tradicionais, dos povos ribeirinhos, das populações indígenas e dos pequenos produtores que são os povos da floresta e que precisam ter os seus saberes respeitados tanto quanto qualquer outro conhecimento. “Então, o primeiro passo é integrar esse saber, valorizar e ajudar essa economia que está ali na floresta e querem permanecer ali e precisam desse apoio. E que isso seja uma economia mais vantajosa para eles”.

Para Luciana, o encontro, em Belém (PA), nos últimos três dias, discutiu caminhos possíveis para as comunidades da floresta, para os produtores de matéria prima e para a indústria. “Estamos, desde sexta-feira, numa energia incrível aqui em Belém, abrindo esses diálogos, discutindo caminhos possíveis para essa tríade tão importante que é a conservação, promoção de uma economia que gere desenvolvimento e, ao mesmo tempo, que gere desenvolvimento para o país e desse potencial que se fala da Amazônia e de convergir tudo isso”.

Luciana explica que se fala muito em potencial, em políticas públicas, mas na prática, pouco se vê os resultados. “Então, a ideia é compartilhar essas experiências e esses desafios e a gente pensar juntos quais são esses passos que a gente tem que fazer para acontecer essa bioeconomia e essa sociobioeconomia”.

Luciana é mestre em Sustentabilidade, com estudo de caso de Sociobioeconomia Amazônica, pela FGV-EAESP. Braúlio é Professor da Universidade de Brasília e tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia Aplicada. É ex-presidente do conselho global da Birdlife International, ex-Secretário Executivo da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica e ex-diretor-presidente da Fundação Pró-Natureza (Funatura).

COPS – O que são as COPS? AS COPS são encontro das partes que fazem parte de dois grandes tratados assinados pelos países membros. “O primeiro deles é a convenção sobre diversidade biológica que trata especificamente sobre conservação e ela tem três grandes objetivos: conservação da diversidade biológica, utilização sustentável dos seus recursos e repartição dos benefícios”, ressaltou Marinello.

A Repartição de Benefícios (RB) consiste na divisão dos benefícios provenientes da exploração econômica de produto acabado ou material reprodutivo desenvolvido a partir do acesso a patrimônio genético ou a conhecimento tradicional associado. “O uso da biodiversidade tem, de alguma forma, repartir esses benefícios. Têm que de alguma forma fazer voltar esse benefício. Para quem? Para os povos e comunidades tradicionais”.

Para Marinello, é uma relação umbilical que existe entre os povos e comunidades e a floresta em pé além de ser importante trazer esses aspectos para entendermos a importância desse clima que tomou conta de Belém. “Então para que a floresta continue gerando frutos, literalmente falando, é necessário que esses grupos sejam empoderados, é necessário que eles sejam vistos, então é uma via de mão dupla. A floresta precisa muito deles e eles precisam muito da floresta”.

FONTE:  Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor