Comunidades ribeirinhas também receberão atendimento médico
“Eu tive 100% do couro cabeludo arrancado, minha vida mudou completamente”. O relato é de Regina Formigosa de Lima, 50 anos, ao lembrar o acidente de escalpelamento vivido quando tinha 22 anos, durante um passeio de barco, em Muaná (PA). Ela passou cinco meses internada em um hospital e conta que enfrentou uma batalha para se recuperar do ocorrido.
O acidente de escalpelamento ocorre quando os cabelos de quem está na embarcação se prendem ao eixo do motor, e a força da rotação arranca violentamente o couro cabeludo e partes do rosto, deixando cicatrizes e deformações permanentes. Em casos mais graves, leva à morte.
O tratamento médico para vítimas de escalpelamento é contínuo. “Passados todos esses anos desde o acidente, eu ainda sinto dores na cabeça, não consigo dormir bem, não posso ficar exposta ao sol, mas, após a recuperação inicial, tive uma segunda chance, uma nova vida”, diz Regina. Hoje, ela dedica parte de seu tempo a ajudar outras vítimas de escalpelamento, por meio da confecção de perucas, realizada junto à Organização dos Ribeirinhos Vítimas de Acidente de Motor (ORVAM), uma instituição sem fins lucrativos, que presta assistência social à vítimas de escalpelamento, pós-acidente, com intuito de promover a sua autoestima, inserção no mercado de trabalho, além de oferecer cuidados psicológicos.
Combate ao escalpelamento
A ilha do Marajó, no estado do Pará, é a região com maior número de registros desse tipo de acidente, e mulheres e adolescentes estão entre a maioria das vítimas. Até agosto de 2023, quatro acidentes foram registrados. Em 2022, foram contabilizados sete. Em 2021, 15 ocorrências foram constatadas.
A Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário (LESTA) estabelece a obrigatoriedade do “uso de proteção no motor, eixo e quaisquer outras partes móveis das embarcações, que possam promover riscos à integridade física dos passageiros e da tripulação”. Para o cumprimento da legislação, a Marinha do Brasil (MB) realiza, diariamente, inspeções navais, a fim de contribuir para a segurança da navegação e para a prevenção de acidentes de escalpelamento, verificando a documentação das embarcações e a existência de equipamentos obrigatórios, entre os quais a proteção de eixo. Em caso de discrepâncias, são adotadas as medidas cabíveis, como retenção, apreensão e multas.
Além da fiscalização diária, a MB realiza, periodicamente, campanhas educativas, com foco na prevenção de acidentes, associadas às ações de assistência social e de saúde, como a Ação Cívico-Social, que ocorrerá de 26 de agosto a 05 de setembro, nos municípios de Breves, Curralinho, Oeiras do Pará e Ponta de Pedras, no estado do Pará. As atividades serão realizadas pelo Comando do Grupamento de Patrulha Naval do Norte e pela Capitania dos Portos da Amazônia Oriental, organizações subordinadas ao Comando do 4º Distrito Naval, que tem sede em Belém (PA). O objetivo é disseminar o Dia Nacional de Combate e Prevenção ao Escalpelamento, 28 de agosto, bem como difundir orientações para a população ribeirinha, na busca pela erradicação deste tipo de acidente na região.
Serão intensificadas atividades de enfrentamento e prevenção ao escalpelamento e fiscalização do tráfego aquaviário, com promoção de palestras; instalação gratuita de coberturas de eixo de motor; distribuição de toucas de proteção para os cabelos e cartilhas educativas; além de doação de colete salva-vidas para garantia da salvaguarda da vida humana nos rios. As ações ocorrerão em escolas municipais e estaduais localizadas nas zonas urbanas e rurais, em centros comunitários, em portos, em feiras e em locais com maior fluxo de pessoas, com apoio de representantes da Comissão Estadual de Enfrentamento dos Acidentes com Escalpelamento e da Sociedade Amigos da Marinha.
“Acreditamos que o acesso à informação é o melhor instrumento para transformar comportamentos. Para além da sua missão, a Marinha disponibiliza militares de diversas áreas (pedagogos, inspetores navais, capelães, entre outros) para palestrar em escolas, espaços comunitários, unidades religiosas, a fim de alertar sobre a causa e educar os cidadãos ribeirinhos, demonstrando seu alto comprometimento para reduzir os índices. Durante todo o ano, nossos militares atuam, empenhados em reduzir, drasticamente, a ocorrência desse grave acidente, que acomete, principalmente, a população ribeirinha na região Norte”, ressalta o Comandante do 4º Distrito Naval, Vice-Almirante Antônio Capistrano de Freitas Filho.
A bordo do Navio-Auxiliar “Pará”, também serão contemplados atendimentos médico-odontológicos, realização de exames laboratoriais e de imagem, de pequena e média complexidade, e campanhas de prevenção ao câncer de mama, com militares especialistas da Marinha e da Universidade Federal do Pará, nas mais variadas especialidades: ginecologistas, pediatras, oftalmologistas, radiologistas, dentistas, farmacêuticos, entre outras.
Trabalho coletivo
A MB integra a Comissão Estadual de Enfrentamento aos Acidentes com Escalpelamento em Embarcações do Estado do Pará, juntamente com demais instituições públicas e organizações sem fins lucrativos, para debater medidas e ações que visem somar esforços para combater este problema.
Unindo-se ao trabalho de demais órgãos, a Sociedade Amigos da Marinha (Soamar-PA) tem dado importante apoio no combate aos acidentes de navegação, inclusive com a doação de cartilhas educativas e toucas para proteger os cabelos de mulheres e meninas das comunidades ribeirinhas. “A Soamar-PA faz parte do esforço conjunto com a Marinha do Brasil, junto aos órgãos públicos e organizações da sociedade civil, executando ações de divulgação e esclarecimentos para que o escalpelamento seja banido dos rios do Estado do Pará”, ressaltou Carlos Nascimento, presidente da Soamar-PA.
Alerta
A Marinha instrui aos passageiros para se recusarem a entrar em embarcações irregulares e denunciá-las, por meio do número 185, o Disque Emergências Marítimas e Fluviais.
Os proprietários de embarcações podem solicitar, gratuitamente, a cobertura de eixo na Capitania ou Agência mais próxima, por meio dos seguintes contatos:
Capitania dos Portos Amazônia Oriental: (91) 3218-3954 e (91) 99114-9148
Capitania Fluvial de Santarém: (93) 3522-2870
Capitania dos Portos do Amapá: (96) 3281-5480 e (96) 99112-1538<
Agência da Capitania dos Portos no Oiapoque: (96) 3521-1321
Capitania dos Portos do Piauí: 0800 095 2844
Capitania dos Portos do Maranhão: (98) 2107-0121
Agência Fluvial de Imperatriz: (99) 3525-3391
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Ângela Bazzoni – Belém, PA – Fonte: Agência Marinha de Notícias – Marinha promove ações de enfrentamento ao escalpelamento no Pará | Marinha do Brasil