Com a participação de 30 moradores da Comunidade Quilombola de Igarapé Preto, a Comissão de Regularização da Universidade Federal do Pará (CRF-UFPA), a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Pará (Sectet) e a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa  (Fadesp) apresentaram na última sexta-feira, 18 de agosto, pela parte da noite, na Escola Municipal Zumbi dos Palmares, localizada no quilômetro 76, da BR-422, na cidade de Oeiras do Pará, as criações estilísticas  desenvolvidas durante o curso de Moda Afro-brasileira, o vestir como resistência e combate à discriminação racial.

Arte moda em Igarapé Preto

O curso integra mais uma etapa do Projeto de Pesquisa “Inovação Territorial para Jovens e Adultos da Comunidade Remanescente do Quilombo do Igarapé Preto”, que promove o desenvolvimento humano e social equitativo da comunidade para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção por meio de um modelo de negócios de hospitalidade  de base comunitária e empreendedor.

A capacitação foi realizada pela mestra em Comunicação, Linguagem e Cultura pela Universidade da Amazônia (Unama), Ysa Almeida Brasil, além da participação do engenheiro, pesquisador e coordenador do Projeto, Renato das Neves.  Ela afirmou que as atividades iniciaram  em 14 de agosto e foram debatidos os conceitos sobre moda e as suas relações com as cores, com a formação da identidade, o resgate da cultura e o pertencimento afrodescendente, além do intercâmbio de conhecimentos sobre cartela de cores, matéria prima, elaboração de esboços dos designs, criação da ficha técnica e a elaboração de um editorial.

Ysa Almeida explicou que o termo editorial se traduz na produção fotográfica ou audiovisual para apresentar as roupas, acessórios e estilos no contexto criativo e artístico do quilombo. “Todo ser humano tem que estar consciente de sua identidade étnica e com uma atuação dinâmica ao seu favor dentro de um contexto histórico, geográfico e cultural. Estes pontos transmitem uma ampla de visão para identificar um território, comportamento, identidade, pertencimento e uma ampla diversidade das relações econômicas, sociais e culturais ao longo da história”, orientou Ysa Almeida.

Para Renato das Neves a capacitação foi muito positiva e foi marcada por muita emoção e o resgate oral da história de Dona Mariazinha, uma mulher nascida no começo do Século XX que atuou como parteira e foi uma das fundadoras do quilombo. “Uma história emocionante para ser resgatada e escrita. E a memória oral reconstruindo a história do território. Além disso, os conceitos para trabalhar a moda no território envolveram as temáticas sobre sustentabilidade, samba, ganzá, raízes quilombolas e a agricultura familiar”, relatou o pesquisador.

Durante a realização do desfile foram feitas, também, a apresentação das quatro coleções de peças criadas pelos participantes que reforçam o desenvolvimento de modelo de negócio inovador de base comunitária e o fortalecimento da cidadania e de pertencimento ao quilombo. “Neste contexto, a comunidade promoveu o desenvolvimento humano e social equitativo do quilombo, por meio das famílias que desenvolvem as suas práticas culturais agroalimentares e têm vocação para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção de moda, a riqueza agroalimentar e a beleza turística do território para gerar emprego e renda para comunidade”, disse Renato.

Para Delzanira Machado Ramalho, moradora da comunidade,  trabalha como costureira no quilombo. “A participação no curso agregou mais conhecimentos e facilitou os meus empreendimentos de costura e de moda. Daqui para frente o meu trabalho possui um olhar diferenciado. Ampliei às minhas relações com a comunidade e agreguei mais valor sobre as potencialidades da moda. Daqui para frente a minha experiência é muito mais rica e vou ampliar o meu negócio”, assinalou.

Por sua vez, Robert Balieiro Rodrigues é técnico de enfermagem, tem facilidade para desenho à mão livre e não teve acesso à capacitação em moda. “Eu tenho 25 anos e quero desenvolver o meu potencial para trabalhar com designs sobre o universo da moda e envolver a realidade da comunidade. É uma experiência muito rica e inclusiva”, disse com sorriso no rosto.

Já a professora Maria Katiussa Pereira frisou que a visão dela mudou totalmente. “Antes do curso, eu entendia que a moda era máquina, tecido e desfile. Depois da oficina fiquei deslumbrada. A moda depende de pesquisa, conhecer a história, compreensão do uso das cores, os modelos de tecidos e um olhar sobre relações econômicas e sociais no mercado e o potencial de criação da comunidade. Esse aprendizado e foi maravilhoso”, assinalou.

DADOS – Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2022) revelam que o Brasil tem 1,3 milhões de quilombolas em 1.696 municípios. A comunidade de Igarapé Preto é composta por 380 famílias e possui uma população estimada em 1.520 moradores. O Instituto revelou que os 30% dos brasileiros que se autodenominam quilombolas estão localizados na Amazônia Legal. “Estes dados são fundamentais para formular políticas públicas voltadas para resgatar o pertencimento afrodescendente e desconstruir a visão eurocêntrica. A maioria dos quilombolas da Amazônia Legal está nos estados do Maranhão e do Pará”, assinalou a vice-coordenadora Kelly Alvino.

Kelly informa que as próximas capacitações no quilombo serão voltadas para o Marketing Digital, que é o uso de plataformas digitais para criar oportunidades de negócios e gerar renda no território. “No encerramento do Projeto de Pesquisa do Quilombo do Igarapé Preto, que ocorrerá em novembro próximo, será apresentado, também, um plano de negócio para ser colocado em prática pela comunidade para que ela caminhe com a sua própria autonomia, além da realização de uma ampla feira cultural com os trabalhos da comunidade”, assevera.

Galeria de fotos:

Menina na beira do Igarapé

Modelo, natureza, cores e espiritualidade

Professora Ysa em sala de aula

Modelo, arte, moda e natureza

Modelo turbante colares e natureza

Modelo, colar turbante e blusa cropeed afro

Modelo e agricultura familiar.

Equipe geral do curso de moda

 

Texto: Kid Reis – Ascom CRF-UFPA – Fotos: Renato das Neves (FONTE: Correio Eletrônico – e-mail – recebido do autor)