O Brasil está obcecado com o combate ao desmatamento, como se fosse a tarefa mais importante para o País. Raro é o dia em que não é noticiada alguma medida ou iniciativa governamental ou privada para lidar com o problema. A mais recente contribuição do setor privado veio da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), com o anúncio de que 21 bancos se comprometeram a negar crédito a frigoríficos que comprem gado de áreas desmatadas ilegalmente. A medida determina que até 2025 os frigoríficos deverão implementar um sistema de rastreabilidade e monitoramento dos seus fornecedores diretos e indiretos, em toda a Amazônia Legal.

Apesar de referir-se ao desmatamento ilegal, para passar à etapa seguinte e incluir o desmatamento permitido pelo Código Florestal é um pulo, em especial, no contexto da norma recém-aprovada pela Comissão Europeia, que proíbe importações de produtos agropecuários provenientes de áreas desmatadas – mesmo legalmente – após 31 de dezembro de 2020.

O chamado “terceiro setor” não poderia faltar ao esforço, com a ONG Imazon apresentando o seu Radar Verde, um indicador dos frigoríficos e supermercados com maiores controles da origem do gado e da carne, desenvolvido em conjunto com o Instituto O Mundo que Queremos.

E o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com sua fanática ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, está totalmente engajado no compromisso do “desmatamento zero” até 2030. Para tanto, acaba de aprovar mais um “pacote verde”, com a criação de mais 3 milhões de hectares de unidades de conservação e um vasto esforço de repressão, que, além dos órgãos ambientais, inclui a Polícia Federal e as Forças Armadas.

Além do bioma Amazônia, o Cerrado está na alça de mira dos vigilantes do desmatamento, não se importando se ele ocorre no âmbito dos limites estabelecidos pelo Código Florestal, segundo o qual as propriedades privadas no bioma podem eliminar até 65% da vegetação nativa para as atividades produtivas. Aliás, o mais recente relatório anual da ONG MapBiomas admite que grande parte do desmatamento no bioma é legal, mas lamenta, precisamente, o que considera uma brecha na legislação.

Sem dúvida, o País ganharia muito mais se pelo menos parte dessa obsessão fosse transferida para problemas mais sérios, como eliminar o déficit de saneamento básico, reverter a desindustrialização, cuidar da “geração nem-nem”, do envelhecimento da população e outros do gênero.

Claro, nada disso irá atrair investimentos “sustentáveis/verdes” do exterior ou servirá como “colateral” para compensar as emissões de carbono das economias industrializadas do Hemisfério Norte, mas sem dúvida atenderá aos reais interesses e urgências do País.

 in Ambientalismo 7 de julho de 2023 – Obsessão com o desmatamento – Msia Informa 

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