Jornada Pantaneira

Mulheres Guerreiras – Parte XI

Valquírias Americanas 

A imprensa paraguaia, também, valorizava, sobremodo, a contribuição das suas mulheres no esfor­ço de guerra e ressaltava a conduta de suas tropas em relação aos civis. Vejamos algumas destas controversas manifestações:

El Semanario n° 560
Asunción, Paraguay – Sábado, 14.01.1865
Sección no Oficial
Sábado 14 de Enero de 1865

A vitória, finalmente, está se esboçando a favor do Paraguai. A população de Nioaque foi subjugada pe­los nossos bravos, comandados pelo Cel Resquin, Chefe das Operações no rio Mbotetey. Essa brilhante vitória que alcançamos, no dia 10 do corrente, foi reforçada pela tomada de Albuquerque e Corumbá. […]

As famílias de Corumbá estão sendo acudidas pelo altruísmo do Comandante em Chefe de nossas For­ças no Norte.

Em contraste com a conduta dos escravos do Império que assassinaram mulheres e crianças no bárbaro bombardeio de Paysandú, o Comandante das Forças Paraguaias ofereceu ajuda aos indefesos que fugiram enganados pelo inimigo e os encaminham às suas casas, depois disciplinar os bandoleiros, que queriam aproveitar-se da situação para criar um escandaloso tumulto.

Aqui está um exemplo de humanidade e civilização. […] (EL SEMANARIO N° 560)

El Centinela n° 02
Asunción, Paraguay – Martes [1], 02.05.1865
La Mujer Heroína

Não nos cansamos de admirar a nobreza de nossas mulheres. Diariamente surgem novos e interessantes manifestações de patriotismo. Nós as vemos alta­neiramente nos altares da Pátria oferecendo, em fervoroso sacrifício, suas preciosas joias.

Incansavelmente, elas cultivam o solo com as próprias mãos e fertilizam os campos com o suor de seu rosto angelical. Desveladas e caridosas correm aos Hospitais de Sangue para curar as feridas dos bravos defensores da Pátria.

Devemos admirá-las por estarem dispostas a em­punhar uma lança, para impedir que os invasores avancem sobre o nosso território. Esta é a de­terminação e o desejo de todas as nossas ex­traordinárias mulheres. Como nos inspiram esses belos atributos de sublime abnegação! O coração se dilata no peito e a inteligência divaga nos espaços infindos, apreciando a nobreza da mulher paraguaia. (EL CENTINELA N° 2)

El Semanario n° 584
Asunción, Paraguay – Sábado, 01.07.1865
Actos Recomendables

Dentre os vários atos meritórios alusivos às mani­festações de patriotismo dos paraguaios de ambos os sexos pela causa nacional, incluímos o de uma mulher humilde chamada Bonifacia Agüero da “Vila del Rosario” que, por ocasião das repetidas mani­festações dos moradores em apoio à guerra, se destacava solicitando, veementemente, que seus dois filhos menores, que ainda continuavam com ela, também fossem alistados para a guerra, e que somente dessa maneira ela ficaria satisfeita no amor para a pátria. (El SEMANARIO N° 584)

El Semanario n° 596
Asunción, Paraguay – Sábado, 23.09.1865
Correspondencia de Ejército
Senhor Redator do “El Semanario

Todas as armas, por mais degradantes que sejam, são usadas pelos nossos inimigos para nos atacar. Não é uma guerra franca e digna, realizada face a fa­ce, como devem promover nações cultas. Nossos adversários corrompem os sentimentos mais nobres, recorrendo às mentiras mais flagrantes, às calúnias profanas, à intriga, a tudo apelam que nos possa prejudicar, se atrevendo a nos tachar de abjetos, degradados e bárbaros.

Abjetos e degradados, são aqueles, que depois de nos trazer (???) uma guerra injusta, de perturbar nosso descanso, de buscar a aniquilação e a des­truição da riqueza desses povos, reconhecendo sua impotência, eles dão expansão a seus instintos mais ferozes, procurando servir à sua causa maligna com as ações mais baixas e mais degradantes.

Você sabe como eles acreditam poder trabalhar nos espíritos dos povos aniquilando qualquer simpatia que tenham em relação à nossa causa? Aos mais corriqueiros acontecimentos, eles vociferam nos jor­nais, nas ruas e em eventos públicos, que o Exército Paraguaio, “Massa de Bárbaros”, está furtando, ani­quilando, queimando e roubando das populações, tu­do o que encontram, destruindo casas de empresá­rios, estuprando mulheres e devorando criaturas.

Eles querem provocar a antipatia dos estrangeiros à nossa causa e simpatia à sua; fingem-se de indi­gnados narrando como a casa de um inglês, um fran­cês e um italiano foram saqueadas e barbaramente assassinados seus donos, mostrando que os para­guaios não respeitam nenhuma bandeira e para prová-lo a tudo recorrem, mesmo ao suborno, coa­gindo o estrangeiro mais miserável, que encontram pelas ruas, para atestar esses fatos.

Tentam encorajar seus soldados, pintando com as cores mais vivas, cada vitória alcançada, afirmando que o povo paraguaio se nega a combater e que dentre alguns soldados paraguaios capturados foram encontradas mulheres vestidas de homem aliciadas pelo governo para aumentar seu efetivo de comba­tentes. Essas e outras mentiras degradantes são usadas pelos nossos inimigos. Essa é a sua con­cepção de guerra, mas estas ações perversas serão por si só desmascaradas. (EL SEMANARIO N° 596)

Cabichuí n° 28
Paso Pucú, Paraguay – Lúnes [2], 12.08.1867
Francisca Cabrera

Com a doce emoção que as ações heroicas e a justa admiração que nos inspiram e provocam a sublime virtude do Amor pela Pátria, assinalamos em nossas colunas o nome de Francisca Cabrera, que será gravado nas páginas da história como uma das mais notáveis mulheres paraguaias que, quando colocada à prova, reagem com dignidade e nobreza. Francisca Cabrera, era moradora de “Vila del Pilar”, mãe de quatro filhos menores de idade, quando 8 Regimen­tos das hordas invasoras do bárbaro inimigo, sob o comando do escravo Brigadeiro José Luís ([3]), que tinha privado seus cruéis soldados de suas mulheres, mandou-os procurar mulheres paraguaias para saciar seus lascivos desejos, estimulando seu desempenho e covardia, para invadirem o Arroio “Hondo”. Fran­cisca Cabrera, a única mulher que per­maneceu na área com seus quatro filhos, além de outra mulher e um idoso, sabendo que as catervas inimigas estavam se aproximando, apanhou um punhal e levou as quatro crianças para as montanhas para se esconder; após entrar na floresta, pegou o punhal e disse aos filhos, dirigindo-se ao seu primogênito:

Meus filhos, esses mulatos que estão vindo, vão querer levar a gente; eu, com esta faca vou lutar com eles até morrer, e você meu filho, depois de minha morte, pegue esta faca e lute contra eles, esfaqueando-os no estômago, rasgando tudo; uma coisa eu vos digo: morram para que esses mulatos não vos aprisionem e os convertam em escravos. ([4])

Esta é mais uma prova dos crimes trazidos à Repú­blica pelo inimigo sem religião e sem consciência que profana nossa Pátria. E aqui está um testemunho eloquente do espírito dominante em toda a nação paraguaia em relação à sua pátria e ao inimigo de sua honra e de sua vida. (CABICHUÍ N° 28)

El Centinela n° 21
Asunción, Paraguay – Jueves [5], 12.09.1867
La Ofrenda del Bello Sexo

[…] Quando as mulheres paraguaias se propuseram a contribuir com seus adornos e joias com o objetivo de contribuir para o esforço de guerra de extermínio que o Brasil e seus aliados trouxeram à essa terra (???), elas se reuniram em Assembleia Geral, esco­lhendo, para isso, a Praça de 14 de maio. As sessões de 24 a 26 de fevereiro foram fantásticas, porque nelas vimos pela primeira vez as mulheres partici­parem de manifestações públicas que a sociedade lhes vinha negando. […] (EL CENTINELA N ° 21)

F. Cabrera, Cabichuí n° 45, 10.10.1867

El Centinela n° 26
Asunción, Paraguay – Jueves, 17.10.1867
La Heroína Paraguaya

Com o título acima, o último número de “El Sema­nario” registra a transcrição de uma correspondência do “Standart”, na qual lemos, com orgulho, a des­crição do combate de uma mulher paraguaia e um capitão brasileiro, que desejava levá-la. Esta defendeu-se valentemente, matou o capitão apesar de ter o braço esquerdo quebrado e um grave ferimento na cabeça. E para maior afronta aos militares brasileiros este estava acompanhado de doze indivíduos.

Esse atributo de coragem feminina é para a nossa história um episódio que mostra, ainda mais, a firme determinação de nosso “belo sexo” que, unidos ao seu valente marechal, jurou vencer ou morrer seguindo o exemplo dos nossos soldados que nos surpreendem com sua coragem e bravura. A heroína paraguaia, que derrotou um capitão, essa mulher determinada, nos enche de entusiasmo e a apresentamos à consideração de todo o mundo, porque essa bravura, que distingue todos os filhos deste solo, é inédita. O “El Centinela” parabeniza o “belo sexo” e dá um “Viva!” à heroína paraguaia. (EL CENTINELA N° 26)

Cabichuí n° 91, 22.06.1868

Cabichuí n° 91
Paso Pucú, Paraguay – Lúnes [6], 22.06.1868

O Cabichuí noticia que Bárbara Alen e Dolores Caballero, quando regavam o solo com o suor de seu rosto na faina do seu trabalho, foram surpreendidas por monstruosa onça que mataram usando apenas uma faca e um porrete. Ofertaram seu couro ao Senhor Marechal López. (CABICHUÍ N° 91).

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 05.07.2023 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia   

CABICHUÍ N° 28. Francisca Cabrera – Paraguay – Paso Pucú – Cabichuí n° 28, 12.08.1867.

CABICHUÍ N° 91. Francisca Cabrera – Paraguay – Paso Pucú – Cabichuí n° 91, 22.06.1868.

EL CENTINELA N° 2. La Mujer Heroína – Paraguay – Asunción – El Centinela n° 2, 02.05.1865.

EL SEMANARIO N° 560. Sección no Oficial – Paraguay – Asunción – El Semanario n° 560, 14.01.1865.

EL SEMANARIO N° 584. Actos Recomendables – Paraguay – Asunción – El Semanario n° 584, 01.07.1865.

EL SEMANARIO N° 596. Correspondencia de Ejército – Paraguay – Asunción – El Semanario n° 596, 23.09.1865.

EL CENTINELA N° 21. La Ofrenda del Bello Sexo – Paraguay – Asunción – El Centinela n° 21, 12.09.1867.

EL CENTINELA N° 26. La Heroína Paraguaya – Paraguay – Asunción – El Centinela n° 26, 17.10.1867.    

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected]

[1]    Martes: Terça-feira. (Hiram Reis)

[2]    Lúnes: Segunda-feira. (Hiram Reis)

[3]    Brigadeiro José Luís Mena Barreto (1817-1879). (Hiram Reis)

[4]    Tradução do guarani para o português de Dario Agostin Ferreira (Pesquisador do NEABI/PUCRS)

[5]    Jueves: Quinta-feira. (Hiram Reis)

[6]    Lúnes: Segunda-feira. (Hiram Reis)

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