Com mais de 30 anos de terras demarcadas os yanomamis sofrem com o garimpo ilegal e as organizações criminosas

Ambiente é o Meio desta semana conversa com Martha Fellows Dourado, coordenadora do núcleo indígena do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) sobre a luta do povo indígena yanomami contra o garimpo ilegal e o tráfico de drogas nas fronteiras. Martha tem mais de uma década dedicada à questão socioambiental com formação em Gestão Ambiental pela Universidade de Brasília (UnB) e mestrado em Ciências Políticas pela Universidade de Salamanca, na Espanha.

A terra indígena yanomami, segundo Martha, está demarcada há 30 anos e é a maior terra indígena do Brasil, com uma população de aproximadamente 26 mil pessoas e mais de 96 mil hectares – o que corresponde a uma área aproximada a do Estado de Santa Catarina. Neste espaço são encontrados, além dos yanomamis, mais sete povos indígenas, sendo que alguns vivem em situação de isolamento, chamados de povos resistentes ou resilientes, explica a coordenadora.

O ambiente em que esses povos indígenas vivem é constantemente ameaçado por organizações criminosas com o tráfico de drogas nas fronteiras com outros países, como Venezuela e Peru, e pelo garimpo ilegal. “É importante dizer que existe, sim, a possibilidade de extração de minérios internos, mas isso não é regra, é exceção e deve ser tratado como exceção”, afirma Martha.

A coordenadora diz que o garimpo ilegal é o que mais afeta a saúde dos povos indígenas naquela área, uma vez que contamina os leitos dos rios com metais pesados, como o mercúrio – um elemento cumulativo no corpo humano que traz prejuízos à saúde a longo prazo.

Um mapeamento realizado pelo Ipam analisou o acesso de povos indígenas a centros de saúde com leito de UTI e indicou que há locais que estão a mais de mil quilômetros de distância. “A logística para  levar um posto de atendimento de alta complexidade para essas regiões é superdifícil. A terra indígena yanomami foi uma das pioneiras a receber, o que são hoje, os Distritos Sanitários Especiais Indígenas, mas infelizmente, com o passar dos anos, houve um sucateamento da estrutura”, explica Martha.

PUBLICADO POR: JORNAL DA USP – Ambiente é o Meio #80: Povo indígena yanomami luta para sobreviver – Jornal da USP