A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, e o ministro das Relações Exteriores, Commonwealth e Desenvolvimento do Reino Unido, James Cleverly, visitaram nesta terça-feira (23) a estação experimental do AmazonFACE, em área de pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), que fica a cerca de 80 km ao norte de Manaus-AM. No local, é construída a infraestrutura da plataforma científica, composta de seis anéis, cada um com 16 torres de 35 metros de altura, que testará a resiliência da Floresta Amazônica à mudança climática. A previsão é colocar os seis anéis em operação no início de 2024.
Os resultados obtidos por meio do AmazonFACE estarão na fronteira do conhecimento e serão disponibilizados à comunidade científica internacional para compreender melhor como a maior floresta tropical pode ajudar na mitigação das mudanças climáticas globais e como aumentar a acurácia sobre sua vulnerabilidade ao aquecimento global. A iniciativa tem contribuição central para respostas mais apropriadas que ajudem no alcance das metas globais do clima.
Atualmente, o AmazonFACE é o principal projeto de cooperação científica entre os dois países. Uma parceria longeva e alicerçada na competência de produção técnico-científica de brasileiros e britânicos. O Reino Unido é o segundo maior parceiro de ciência e tecnologia do Brasil, sendo que nos últimos sete anos houve cooperação em pelo menos 700 iniciativas bilaterais de pesquisa.
Na ocasião da visita, o chanceler britânico anunciou aporte financeiro no valor de 2 milhões de libras ao programa. Com o valor, o Reino Unido soma 7,3 milhões de libras (R$ 45 milhões) de apoio ao AmazonFACE desde 2021. O governo brasileiro investiu R$ 32 milhões por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). A liberação dos recursos foi anunciada pela ministra Luciana Santos durante a visita.
As medidas são gestos de fortalecimento da colaboração entre os dois países e demonstra o comprometimento em torno da agenda climática, em relação ao cumprimento dos objetivos globais para a proteção do clima e da biodiversidade e para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono.
“O AmazonFACE é um projeto que materializa a capacidade de excelência da ciência brasileira de prover evidências científicas e contribuir com o combate às mudanças climáticas. É essa competência que nos coloca como potência científica na América Latina e nos coloca como um importante elo na construção das relações internacionais do Brasil”, afirmou a ministra Luciana Santos.
“Estou feliz em ser o primeiro chanceler britânico a visitar o Brasil depois de tantos anos. Vim aqui para renovar e fortalecer nossos laços. É uma parceria marcada por valores compartilhados, como liberdade, democracia e preocupação com a situação do nosso planeta. Nossa Parceria para o Crescimento Verde e Inclusivo é um símbolo das muitas áreas em que o Reino Unido e o Brasil podem cooperar para o benefício dos nossos povos e do mundo inteiro”, disse o chanceler britânico.
A diretora do Inpa, Antonia Franco, participou da visita da ministra e do chanceler, juntamente com coordenadores e pesquisadores do Instituto. Franco destacou a importância do experimento em grande escala e inovador para estudar a concentração de CO₂ na floresta Amazônica e ajudar a entender as mudanças climáticas.
Sobre o AmazonFACE
O AmazonFACE é um programa de pesquisa do MCTI e integra a estratégia da pasta ministerial para desenvolver ciência para e sobre a Amazônia. O programa é coordenado pelos cientistas do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa/MCTI), Beto Quesada, e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), David Lapola, em cooperação internacional com o governo britânico, por meio do FCDO e implementado pelo Met Office – o serviço de meteorologia britânico.
O experimento se propõe a responder a seguinte questão global: “Como as mudanças climáticas afetarão a Floresta Amazônica, a biodiversidade que abriga e os serviços ecossistêmicos que ela fornece à humanidade?”. Para isso, o AmazonFACE avalia a capacidade de resposta da floresta tropical a níveis elevados de dióxido de carbono (CO₂) e os impactos deste processo para o clima global, a biodiversidade e os ecossistemas. O programa busca compreender como a floresta vai reagir ao aumento de concentração de CO₂ para medir sua resiliência e entender seu papel nas mudanças climáticas. O conhecimento gerado pelo programa terá importante papel para o desenvolvimento de políticas de mitigação.
Desejada pela comunidade científica há pelo menos 30 anos, a infraestrutura de pesquisa do AmazonFACE vai permitir responder perguntas que nunca antes puderam ser estudadas e que são importantes para reduzir as incertezas sobre como a maior floresta tropical do mundo irá se comportar no futuro com o aumento das emissões de gás carbônico. A ciência climática, segundo Beto Quesada, já usou tudo o que poderia, como casa de vegetação, ambiente controlado, árvores menores, indivíduos jovens, mas não se tinha uma ferramenta para responder as perguntas que sobraram.
“O AmazonFACE mostra a maturidade da ciência brasileira. Temos aqui a cooperação internacional, o compartilhamento de informações, a formação de recursos humanos dos dois países trabalhando para criar algo único. Uma plataforma como esta vai permitir responder questões antes impossíveis, que vão gerar novas questões, e isso vai levar a ciência climática brasileira a outro nível”, destacou Quesada.
As simulações dos modelos computacionais climáticos de vegetação nada poderão fazer sem dados de campo que mostrem se esse efeito de fertilização por CO₂ de fato existe na Floresta Amazônica, quão forte ele é e quanto tempo vai durar. A informação que será gerada é fundamental para alimentar esses modelos e oferecer melhores projeções sobre o que vai acontecer com a maior floresta tropical do mundo.
Tecnologia FACE
O experimento utiliza a tecnologia FACE (Free Air Carbon Dioxide Enrichment), ou enriquecimento de gás carbônico ao ar livre, em português. A tecnologia FACE libera ar enriquecido com gás carbônico sobre uma vegetação e monitora suas respostas. Isso vai ajudar a entender como o aumento do CO₂ modifica folhas, raízes, solo, ciclo da água e dos nutrientes da Floresta Amazônica. O impacto ao redor da área do experimento na Amazônia será mínimo e todo o carbono liberado será compensado com o plantio de árvores em áreas de fronteira com o desmatamento.
A tecnologia existe desde os anos 1990 e já foi aplicada em projetos em florestas temperadas nos Estados Unidos e na Austrália e no Reino Unido. O AmazonFACE é o único em floresta tropical.
Infraestrutura
Para executar o experimento, estão em construção os anéis (plots) em um território reservado para pesquisa na Floresta Amazônica. Cada anel tem 16 torres de 35 metros de altura e 30 metros de diâmetro, que circundam cerca de 50 árvores adultas. É por meio dessas torres que será liberado o ar enriquecido com CO₂. Nelas também serão acoplados sensores de monitoramento que medem a concentração de CO₂ no ar. No total, serão seis anéis. Cada anel terá também um guindaste com cerca de 50 metros de altura que permitirá aos cientistas coletarem materiais e observarem o que acontece acima da copa das árvores.
O empreendimento científico tem o desafio de montar a infraestrutura da plataforma de pesquisa com a tecnologia FACE. A iniciativa recuperou 34 km de ramal de acesso à ZF-02, à esquerda da BR-174 (manaus-Boa Vista), na altura do Km 934 (antigo Km 50), que vai permitir a passagem de veículos, cabos de comunicação, de fibra óptica e instrumental técnico nas áreas de pesquisa do sítio do AmazonFACE.
O programa também estuda as consequências socioeconômicas do aumento do CO₂ na atmosfera e avalia como as pessoas percebem as mudanças climáticas e quais estratégias de adaptação elas adotam no cotidiano para lidar com o novo contexto.
Visite: Início – AmazonFACE (unicamp.br)
PUBLICADO POR: INPA – AmazonFACE é principal projeto de cooperação científica entre Brasil e Reino Unido — Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA (www.gov.br)